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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Na Dinamarca, pensando em Dorival


Centro de Skagen - Foto: David da Silva - 24.jul.2009
Para Jussanam Dejah
“Andei... Por andar, andei 
E todo caminho deu no mar”
Dorival Caymmi

Na minha passagem pela Dinamarca (lá se escreve Danmark) fiquei na cidade de Hjørring. Um pouco longe e bem ao norte da capital Kopenhagen – na escrita deles: København (pronuncia-se gôbenrráun; significa: porto dos mercadores).
Depois de conhecer palmo a palmo toda a cidade de Hjørring (diz-se: iôrrin) recebi uma ordem do meu amigo Ove Krook. “Vamos para Skagen”, disse ele enquanto almoçávamos bifes de rena. Ove Krook é um marinheiro sueco aposentado de 76 anos, conhecedor dos sete mares. Para onde ele diz “vamos” eu vou.
Na manhã seguinte saímos de Hjørring pela estrada-de-ferro até Frederikshavn. Lá, pegamos outro trem, e a locomotiva embicou o narigão na direção do Polo Norte. Cerca de uma hora depois, chegamos.
Olhe pro mapa da Dinamarca. 


Tá vendo aquele pinguelinho bem no topo da imagem? 

Lá é Skagen. 
Projeção de terra na península Jutlândia. Tinha uma aparência totalmente diferente na Era Viking. Sua forma de espeto recurvado é trabalho de séculos e séculos do transporte da areia pela água do mar rumo à costa. O maior “espeto” de terra do mundo: 30 km de comprimento. Migra, cresce continuamente na direção nordeste.
Meu amigo Ove Krook é autodidata. Um oceano de conhecimentos. “Aqui em Skagen a atividade humana começou por volta do ano 1.100. Virou uma cidade rica pela pesca e atividades de salvamento marítimo”, ensina meu velho lobo do mar.


Na década de 1880-1890 Skagen passou a ser visitada por pintores. “Eles vinham em busca da luminosidade inigualável do lugar”, conta Ove Krook. Aqueles artistas formaram o grupo “Os Pintores de Skagen”. Seus quadros tinham temática variada. Mas, sobretudo transpuseram para suas telas a comunidade local dos pescadores.
É neste ponto que Dorival Caymmi embarca na nossa postagem.

O fascínio que vem do mar

Caymmi dedicou a maior e melhor parte da sua obra ao mar e seus pescadores. Não atingiu a condição humana quem ainda não ouviu o disco
Dorival Caymmi e Suas Canções Praieiras.
Sua lembrança me invadiu viva, forte, quando entrei no Museu de Skagen. Ali era o Hotel Brøndum onde os pintores moravam. Das paredes do museu jorram os talentos de Peder Severin Krøyer, Oscar Björck, Carl Peter Lehmann, Christian Krohg, Johan Krouthén... E de Michael Ancher.


Casa de Michael e Anna Ancher
Foto: David da Silva - 24.jul.2009
Este último conquistou Anna, filha do dono do hotel. A garota tinha 15 anos, e Michael esperou mais seis anos para a moça passar a assinar Anna Kirstine Brøndum Ancher.
Michael gostava tanto da sua Anna, que este sentimento explode nas cores com que ele a pintou recostada lendo ou passeando na praia ou voltando do campo sobraçando flores... (vê a delícia de casa onde viviam)
Os Pintores de Skagen registraram cada minuto da vida (e também da morte) dos pescadores. Anna Ancher se dedicou a pintar cenas domésticas das esposas dos homens do mar. Na temporada que estive em Skagen o museu local estava com uma exposição (Eu, Anna) totalmente dedicada a ela.

Uma cervejada real
Ove Krook me contou que o rei da Dinamarca passa seus verões em Skagen. “Dane-se!”, pensei num desaforo republicano. 

“Quando aqui era vila de pescadores, o rei entrava nas choupanas deles, ia nos barcos beber uns tragos com eles”, completou Ove Krook.
Daí, não teve jeito. 

O rei enchendo a cara com humildes pescadores??? Puxei Ove Krook para o bar mais próximo, e nem liguei quando a moça cobrou 42 coroas dinamarquesas (R$ 15,00) cada caneca de cerveja.


3 comentários:

  1. Ta certo meu amigo David, fico com inveja de suas andanças pelo mares do Norte, acho ate que logo mais voce vai fazer parceria com o Amir , la no Parati II, não é, o Amir o nosso Pirata dos Mares, ai voce vai ter que ensinar duas coisas pros pes gelados , tomar caipirinha e bater um samba não é, coisa dificil pra um botequeiro do taboão

    saudações


    bagda

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  2. Êêêi, Bagdá... Você vai ver numa postagem que vou fazer semana que vem, que o samba já come solto lá na Finlândia.
    E quanto a ensinar os gringos a beber, esqueça...
    Eles já entornam álcool em quantidades industriais.
    Saudações botequeiras taboanenses!

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  3. Que delicia de artigo David! E que linda dedicatória. Muitíssimo obrigada.
    Beijos da Islandia,
    Jussanam

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