que dizem feiticeiro e sedutor,
e, na volúpia vã do pitoresco,
entoem madrigais à tua dor.
Deixa que os outros cantem teus requebros
nos passos de massemba e quilapanga,
e teus olhos onde há noites de luar,
e teus beiços que têm sabor de manga.
Deixa que os outros cantem os teus usos
como aspectos formais da tua graça,
nessa conquista fácil do exotismo
que dizem descobrir na nossa raça.
Deixa que os outros cantem o teu corpo,
na captação atónita do viço
e fiquem sempre, toda a vida, a olhar
um muro de mistério e de feitiço...
Deixa que os outros cantem o teu corpo
- que eu canto do mais fundo do teu ser,
ó minha amada, eu canto a própria África,
que se fez carne e alma em ti, mulher!
O poeta e contista Geraldo Bessa Victor nasceu em 20 de janeiro de 1917 em Luanda e faleceu no ano de 1990 em Lisboa. É autor dos livros “Ecos dispersos”, 1941; “Ao som das marimbas”, 1943; “Debaixo do céu”, 1949; “A restauração de Angola”, 1951; “Cubata abandonada”, 1958; “Mucanda”, 1964; “Monandengue”, 1973.
Sobre ele Manuel Bandeira escreveu: “Geraldo Bessa Victor recolheu o melhor das mais autênticas vozes de África. Vozes que ele terá ouvido junto às Pedras Negras de Pungo Andongo, conversando com os ventos, os montes, os rios, as velhas mulembas, que lhe falavam de histórias do Quinjango e da Rainha Ginga. A sua poesia sabe violentamente a África, mas não fica apenas nas exterioridades da terra e sua gente: desce-lhes às recônditas matrizes, penetra-lhe o formidável subconsciente.”
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