No livro A Obra em Negro, de Marguerite Yourcenar, há uma passagem digna de constar da nossa seção sobre Arqueologia do Butiquim.
O romance se passa por volta de 1510/1560. É difícil encontrar documentos que enfoquem o modo de vida do povo pobre daquela época. Os cronistas da corte ocupavam-se quase exclusivamente com fidalgos e burgueses. Todavia, Marguerite queria ser arqueóloga antes de ser escritora, e sabe onde garimpar retratos das camadas populares na Idade Média.
Ao livro, pois: O médico e alquimista Zenon tem de fugir da Inquisição. No caminho depara-se com a estalagem A Bela Pombinha. Era um pardieiro ao pé de uma duna, no litoral da França. Na porta da estalagem havia um pombal, onde estava enfiada uma vassoura. Isto indicava que além da comida propriamente dita, o hóspede poderia também "saborear" uma filha de deus... Era um boteco-bordel.
Zenon adentra naquele antro, e depara-se com uma bela estalajadeira preparando uma omelete com bacon a um freguês. Ele senta-se para comer um guisado sofrível. Ao final, paga 20 liards pela carne, 5 liards pela cerveja, e tem de dar 5 ducados para um sargento albanês (o tal freguês da omelete) como pedágio para prosseguir viagem sem ser preso ou delatado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário