Em 1962, estava tudo pronto para Baden Powell ir aos EUA, na sua primeira viagem fora do Brasil. No entanto, seu pai Lilo de Aquino, sapateiro e músico amador, adoeceu, e Baden desistiu de partir.
Quando o pai faleceu, Baden trocou a passagem Rio-New York pela Rio-Paris, por sugestão de seu recente parceiro Vinícius de Moraes.
Ele desembarcou na Cidade Luz com poucos dólares no bolso. Não tinha grandes contatos no meio artístico parisiense. Só tinha a cara, a coragem, e o violão debaixo do braço.
Foi ganhar a vida tocando em casas noturnas do Quartier Latin, bairro boêmio da capital francesa. Os bares e restaurantes lotavam para ver aquele moreno brasileiro tirar um som de seu violão como jamais haviam ouvido.
Certa noite, Baden estava conversando com seu amigo Pierre Barrouh: “Vou voltar pro Brasil”, disse Baden. “Não está gostando daqui? Vê toda esta gente? Eles fazem fila todas as noites pra te ouvir!!!”, retrucou Pierre. “Meu visto de permanência na França está acabando”, revelou Baden.
Pierre usou de todos os seus recursos como compositor, ator e cineasta, e arrumou para Baden fazer a primeira parte do show do cantor Jacques Brel, no refinado teatro Olympia de Paris. O público esperava só samba-carnaval daquele violão mulato. Mas entre os sons do Brasil também fluíram obras de Bach, Chopin e Ravel. O imenso violão de Baden combinava profunda base erudita com o balanço e a melodia de apelo popular, entremeado pelo alto poder de improvisação herdado do jazz e do chorinho. Na hora do bis, teve de voltar 8 vezes ao palco.
Aquela noite marcou o início de uma sólida convivência de Baden e a capital da França, onde ele viveu por 20 anos. Um de seus grandes sucessos na Europa era sua interpretação para Manhã de Carnaval, de seu amigo violonista Luiz Bonfá, em parceria com Antonio Maria, jornalista e poeta pernambucano radicado no Rio. Além de ser uma das mais belas canções produzida por um ser humano, Manhã de Carnaval ganhou dezenas de versões diferentes no violão de Baden. É um destes arranjos que você vai ver-ouvir no vídeo abaixo.
Antes de você iniciar a audição, vou te contar rapidinho como Baden e seu violão enfeitiçavam o público, em suas apresentações madrugada adentro.
A cada duas músicas, Baden tocava Manhã de Carnaval de um jeito diferente. Além de se extasiar com as novas canções exibidas, o ouvinte ficava curioso para conhecer o novo arranjo para aquela mesma magnífica canção.
Um comentário:
David,por tudo que já ouvi do Baden, sem querer e gostar de me alongar em comentários, digo que o resumo da obra chama-se "Refém da Solidão" feita com outro monstro chamado Paulinho Pinheiro....Arrepios percorrem meu corpo num vai e vem do cérebro às pontas dos pés toda vez que ouço, seja com a Márcia, ou com a Elizeth, ou com a Paulinha ou comigo mesmo em baixo do chuveiro.
Há quem diga que Baden não era do samba....Deus do céu...
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