quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Baden Powell revisita afro-sambas

O disco Os Afro-Sambas foi gravado em 1990 e lançado na França, mas só agora está ao alcance do público no Brasil
Por Lauro Lisboa Garcia

(Publicada n’O Estado de São Paulo, 26.fev.2008)
Os geniais afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes estão mais uma vez na roda. Regravados por Mônica Salmaso e Paulo Bellinati em 1996 e por Virginia Rodrigues em 2003, eles voltam pelas mãos do sublime violonista que levou o poeta a descobrir os encantos do candomblé e da capoeira da Bahia em 1962. A versão em pauta, Os Afro-Sambas (Biscoito Fino) data de 1990, foi lançada na França (onde o CD com 11 faixas, 3 a mais que o original, foi masterizado), e só agora está ao alcance do público no Brasil. Antes o projeto foi às mãos de poucos, como brinde de um banco.
Fazia então dez anos que Vinicius tinha morrido, mas o Quarteto em Cy, que imprimiu seu vocal na gravação original, realizada entre 1965 e 1966, se reencontrou com Baden para participar de oito faixas. Dentre as mais de 20 canções que a dupla compôs com essa temática, há os clássicos Canto de Ossanha e Labareda, que fizeram parte do LP original dos afro-sambas. Baden também faz variações sobre Berimbau nesta revisita.
Depois que virou evangélico, Baden renegou sua obra-prima com Vinicius. Por sorte, ele as reinventou nessa empreitada, em mais um mergulho profundo nos mistérios dos ritos afro-brasileiros e seus orixás. A voz é pequena (e as "meninas" do Quarteto em Cy compensam), mas o violão fala por ele, percussivo, sofisticado, contundente, em arpejos vigorosos. Baden ainda regravaria outros clássicos da dupla, como Consolação e Samba da Bênção seis meses antes de morrer em 2000. O registro está no álbum Baden Plays Vinicius, lançado em 2007, um melancólico, solitário e pungente toque de adeus, igualmente imprescindível.
No CD dos afro-sambas, além do Quarteto em Cy, ele está acompanhado de uma banda de baixo, bateria, flauta e percussão. O encarte traz a reprodução de uma carta que Baden enviou a um tal Joel, explicando por que queria regravar esses temas: a qualidade sonora, disse ele, "era a pior naquele tempo" (anos 60), "só existiam dois canais em hi-fi". Ele lembra também que nos dias de gravação caiu um "temporal histórico" e que ele e Vinicius estavam encharcados mesmo era de uísque e cerveja. Tocavam e cantavam "com muita raça, mas também bastante bêbados".
Alguns desses afro-sambas estão no roteiro dos shows que Fabiana Cozza e Max de Castro fazem juntos de sexta a domingo no Sesc Vila Mariana.
Saravá!

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