Em fevereiro, os jornais brasileiros noticiaram cinco casos de linchamento em seis dias – só em Salvador, três homens foram linchados entre um sábado e um domingo, a 200m de distância de um justiçamento para o outro.
Somos possivelmente o país que mais lincha no mundo. Ocorrem de 3 a 4 casos por semana.
A periferia de São Paulo é a que mais lincha; depois vêm Salvador e Rio de Janeiro.
O que teria acontecido com o monstro do Parque Pinheiros, se o povo da rua descobrisse seu crime antes de seu pai? É fácil responder.
José de Souza Martins, de 69 anos, professor de sociologia da Faculdade de Filosofia da USP, estudou 2 mil casos no Brasil a partir de notícias de jornais e boletins de ocorrência. E chegou a uma conclusão tétrica: nos últimos 30 anos, cerca de 500 mil brasileiros, entre adultos e crianças, participaram de algum linchamento. Esta palavra é originada do nome de um tal juiz Lynch, que viveu nos EUA no século 18.
Os alvos da fúria popular são geralmente supliciados por pauladas e apedrejamento, e algumas vezes queimados vivos. A mutilação é uma constante; com ela pune-se o corpo e a alma. Há casos que os matadores se esmeram em arrancar os olhos do morto – sem a visão, o supliciado não conseguirá encontrar o caminho do Paraíso.
A selvageria é anônima, e transfigura seus autores. Como a velhinha do subúrbio do Rio de Janeiro, que teve um ataque quando policiais militares tiraram de sua mão a colher de cozinha com a qual tentava arrancar os olhos de um tarado linchado. Ela teve de ser medicada para voltar à razão.
O estudo do mestre sociólogo (abaixo, fotografado por Wilton Junior/Agência Estado) vai virar livro em breve, a partir dos seus trabalhos acadêmicos Linchamento: A vida Por um Fio, e A Justiça Popular e os Linchamento no Brasil.
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