Foto: Yoshiyuki Iwase - 1947 |
A
modernidade praticamente eliminou as valentes desafiadoras do Mar do Japão.
Hoje há poucas delas em atividade limitada, quando não usadas como mera atração
turística. E até com sua imagem deturpada para o comércio sexual.
Daquelas mulheres incomuns que arrancavam do ventre do oceano o sustento de suas famílias restaram algumas gravuras do século 18, e os registros de um fotógrafo entre 1920 e meados da década de 1960.
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Com
diploma de advogado recém formado, em 1920 o jovem Yoshiyuki Iwase estava de
volta à sua pequenina cidade de Onjuku, na costa leste japonesa. Estava tudo
certo para ele assumir o comando da destilaria de saquê da família.
Mas alguém lhe deu uma máquina fotográfica. Ele focou seus olhos no mar.
Contempladas fora do mar. Foto: Yoshiyuki Iwase - 1950 |
No
violento e gelado litoral japonês suas lentes captaram figuras graciosas, que
submetiam seus corpos sinuosos às chicotadas das ondas. Depois de um tempo
engolidas pelas águas, as mulheres emergiam trazendo nas mãos variadas espécies
de bichos e plantas.
Por
quase dois mil anos, foram as mergulhadoras seminuas quem colheram as algas que
enrolavam as tekkas da culinária
japonesa.
As amas só podiam mergulhar mais ou menos 80 dias por ano, devido à ferocidade das ondas. E principalmente pelo frio. Ali a temperatura da água é de 10 graus. Elas mergulhavam com os seios expostos e com uma leve roupa de baixo para terem mais liberdade de movimentos. O corpo feminino resiste bem às temperaturas baixas, pois retém mais gordura.
Foto: Yoshiyuki Iwase - 1935 |
Segundo
a norte-americana Bethany Leigh Grenald, doutora em antropologia da Universidade de
Michigan (EUA), apesar da dureza daquela rotina as amas gostavam de seu
trabalho. Com ele – pelo menos no período de maio a setembro, quando o mar lhes
permitia mergulhar - aquelas mulheres ficavam livres do machismo da família
tradicional japonesa. A antropóloga passou um ano e meio, entre 1997 e 1998,
estudando as amas e mergulhando com
elas.
Após 60 ou 80 mergulhos por dia, as amas
estavam exaustas. Mas não voltavam para casa. Ficavam em cabanas na beira da praia,
onde se aqueciam, descansavam e se reabasteciam para novos embates com o mar.
Se voltassem logo para casa, não teriam o sossego que seus corpos requeriam.
As casas das amas eram sempre melhores que as demais da aldeia. Uma das mergulhadoras pesquisadas por Bethany falava do seu orgulho por ter pagado seu divórcio com o dinheiro de sua luta diária com as águas. Nos bons tempos da atividade, uma ama poderia ganhar até 500 dólares por dia!
O fotógrafo Yoshiyuki Iwase morreu em 2001, aos 97 anos.
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