sábado, 26 de abril de 2008

“Meu Brasil brasileiro”? Ou irlandês?

O cordel enviado pro nosso boteco pelo compositor Carlos Silva (leia aqui) me fez desengavetar o mini-artigo que preparei sobre o “descobrimento” do Brasil, e não publiquei na data certa devido a problemas ocorridos aqui do balcão pra dentro - portanto, não é da conta da distinta freguesia. Desde pequeno sempre encafifei: se fosse, mesmo, uma data tão importante, por quê 22 de abril não era feriado? No meu curso primário, na Escola Estadual Antonio Inácio Maciel, no Jd Maria Rosa, nesta minha Taboão da Serra, ninguém jamais me respondia.
Quando finalmente me desvendaram a trama d’El Rey de Portugal, restou-me a dúvida crucial: donde vem o nome de nossa pátria? É o que procuraremos saber, em meio ao balcão e mesas inexistentes deste nosso fictício Bar & Lanches Taboão.
Durante toda a Idade Média, havia entre os povos europeus a crença em uma Ilha-Fantasma, que surgia apenas de sete em sete anos. Diziam que ficava oculta dos olhos humanos por uma neblina medonha.
O primeiro a apontar-lhe a “verdadeira” posição foi o cartógrafo Angelinus Dalorto, o maior desenhista de mapas de Gênova e de toda a Itália e Europa. Era o ano de 1325, e Dalorto foi enfático: a afamada Ilha-Fantasma estava na costa oeste da Irlanda, precisamente a sudoeste de Galway Bay. E o categórico cartógrafo garantia: a tal ilha formava “um largo anel de terra ao redor de um mar interior”.
Com tanta convicção, quem se atrevia a duvidar?
Dizia a crença popular que lá era a Ilha da Vida, a Ilha da Verdade, da Alegria, das Mulheres Nuas sempre prontas para o amor, Ilha das Maçãs. Um velho poema anglo-normando do ano 1.200 definia melhor: “É um lugar abençoado / Onde não há nem calor nem frio excessivos / tristeza, fome ou sede.”
Sabe como era o nome daquela ilha? Hy-Brazil!

Mapa catalão de 1350

Na mitologia celta, o tal Brazil era um semideus, filho da deusa Eire, que deu origem ao nome Irlanda.
Hy-Brazil era uma ilha que sempre se esquivava dos que tentassem conquistá-la. Toda vez que estrangeiros se aproximavam, ela mudava de lugar. Ou então, quando intrometidos se enfiavam pela sua praia adentro, a ilha emitia um ruído aterrador, mergulhava no mar com seus nativos, e os aventureiros fugiam desesperados.
Mas, ainda segundo as crendices celtas, teria havido um cabra macho, que não amarelou diante da mais fantástica, comentada e perseguida Ilha-Fantasma da época medieval. Este sujeito destemido seria o monge irlandês Brandão (daí que os irlandeses chamaram o lugar de St Brendan's Island). Junto com outros 14 monges, São Brandão teria se metido pelo mar aberto e aportado em Hy-Brazil no ano 565 d.C., onde morreria com muito mais de cem anos... E pra deixar o povaréu ainda mais enlouquecido com esta estória, por volta do século IX surgiu o livreto Peregrinatio Sancti Brandani.
A força desta lenda foi tão forte, que a assombração do Hy-Brazil só deixou de ser apontada nos mapas britânicos em 1865!
Agora, fixemo-nos na questão do nome do nosso país. Os pioneiros portugueses aqui deixados para colonizar nossas terras, eram naturais da localidade Viana do Castelo (norte de Portugal). Conviviam de perto com as lendas celtas da Galícia, do sul da Espanha. E vieram pra cá impregnados de toda a mitologia em torno de um paraíso na Terra.
Se os celtas não haviam descoberto sua paradisíaca Ilha-Fantasma, os peregrinos portugueses encontraram aqui tudo aquilo que as lendas contavam sobre o Hy-Brazil. Aquelas pessoas rudes, arraigadas às tradições, descartaram solenemente as denominações oficiais de Terra de Santa Cruz e Vera Cruz, para abraçar, definitivamente, o nome mítico de Brasil.

Um comentário:

David da Silva disse...

De Carlos Silva recebemos por e-mail:
“Eita cabra.
Deste-nos uma biografia geográfica, nadando por entre atlas e desbravando notícias nunca dantes espargidas com tanta veemência.
A cartografia foi explícita em cada frase aqui exposta.
Alegro-me, pois, compartilhar contigo os meus humildes versos, em tintas pulsantes de Brasilidade pura e sincera.
Aceite um abraço deste estradeiro que por aí segue: CAMINHANDO E CANTANDO, mas seguindo além da razão exposta nos livros fabricados por guias de cegos.”