Quem gosta de inventar jornais em época eleitoreira, e imprimi-los com tinta-curare, não merece a herança de Cipriano José Barata de Almeida, um dos meus super-heróis da imprensa brasileira.
No ano de 1838, quem visse descendo a ladeira entre a praça principal de Natal (RN) e o Rio Potengí aquele homem franzino, paupérrimo, acometido pela diabetes e dando aulas de francês para comprar a janta, mal podia imaginar a vida de aventuras que ele enfrentou.
Cipriano nasceu em Salvador (BA) em 1764. Filho de família abastada, foi para Coimbra estudar Filosofia. Abandonou o curso em favor da Matemática. Logo depois, migrou para a Medicina.
De volta ao Brasil em 1822, enfiou-se em tantas brigas políticas e fundou tantos jornais, que não conheço outro igual. Já trazia no currículo a participação na Conjuração Baiana (1798) e na Revolução Pernambucana (1817). Além de ter sido eleito, ainda em Lisboa, deputado pela Bahia nas Cortes Constitucionais (1821).
Em 1822 Cipriano estreou na Gazeta de Pernambuco. Em 1823 fundou seu jornal Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco.
Eleito novamente para a Assembléia Constituinte, renunciou ao cargo por amor à sala de redação do jornal. Dono de um texto explosivo, nativista até os ossos, só andava pela rua vestido em algodão tosco brasileiro, sapatos de couro sem tinta, chapéu de palha e bengalão.
Foi um dos maiores fregueses de prisões políticas do Brasil. Cada vez que Cipriano burlava seus carcereiros com a edição de um novo jornal, era punido com a transferência para novas masmorras.
Os nomes dos jornais de Cipriano nos dão o roteiro dos calabouços que ele amargou:
Sentinela de Pernambuco durou 66 números;
Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco Atacada e Presa na Fortaleza de Brum por Ordem da Força Armada – um número;
Sentinela da Liberdade à Beira Mar da Praia Grande, Niterói, 32 números;
Sentinela da Liberdade Hoje na Guarita do Quartel-General de Pirajá na Baía de Todos os Santos;
Nova Sentinela da Liberdade na Guarita do Forte de São Pedro da Baía de Todos os Santos, 1831, 37 números;
Sentinela da Liberdade na Guarita do Qaurtel-General de Pirajá Hoje Presa na Guarita da Ilha das Cobras, Rio de Janeiro, 1831;
Sentinela da Liberdade na Guarita do Quartel-General de Pirajá Hoje Presa na Guarita de Villegagnon, Rio de Janeiro;
Sentinela da Liberdade na Guarita do Quartel-General de Pirajá Hoje Presa na Quarta Fragata Niterói, Rio de Janeiro;
Sentinela da Liberdade na Guarita do Quartel-General de Pirajá Mandada Despoticamente para o Rio de Janeiro e de Lá para o Forte do Mar da Bahia Donde Generosamente Brada Alerta, 1831;
Sentinela da Liberdade em Sua Primeira Guarita, Pernambuco, Onde Hoje Brada Alerta!, 1834-1835.
Ao final deste calvário de cárceres, o bravo jornalista morou por uns tempos na Paraíba, mudando-se a seguir para Natal, a convite do presidente da província do Rio Grande do Norte.
Cipriano José Barata de Almeida morreu aos 74 anos, no dia 11 de junho de 1838.
Cipriano José Barata de Almeida morreu aos 74 anos, no dia 11 de junho de 1838.
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