Do bonde ao Chão de Estrelas

O jornalista Marco Santos iniciou uma interessante série de postagens sobre anúncios em bondes, no seu blog Antigas Ternuras.
Isto me lembrou o compositor Orestes Barbosa, que aprendeu a ler nestes anúncios. Filho da classe média, a família de Orestes foi à falência, e ele virou criança de rua.
Perambulando pelas calçadas, o moleque soletrava cabeçalhos de jornais e outros anúncios.
O afã de aprender daquele menino despertou a atenção de um rapaz de 17 anos, morador da Gávea. E ele passou a levar o garoto em passeios de bondes, onde lhe alfabetizava por meio dos anúncios pregados no interior do coletivo. O rapaz era nada mais, nada menos, que Clodoaldo Pereira da Silva de Moraes, que mais tarde viria a ser pai do poeta Vinícius de Moraes.
Daqueles “passeios-aula” surgiu o maior poeta lírico da Música Brasileira, e um grande cronista da vida carioca. São de Orestes Barbosa os versos eleitos na década de 1950 como um dos mais belos da nossa música: “... a lua furando nosso zinco / Salpicava de Estrelas nosso chão / Tú pisavas nos astros distraída (...)” – Chão de Estrelas, em parceria com Sílvio Caldas.

NOTA: Eu tinha 11 anos quando circulou o último bonde em São Paulo. Pra mim era mágico andar naqueles simpáticos monstrengos de ferro, movidos a energia elétrica, por um caminho traçado no chão.
Quando íamos no final do ano ao Mappin e à Galeira Prestes Maia ver o presépio, pegávamos o bonde da Linha 29: partia do Largo de Pinheiros, subia a Teodoro Sampaio, seguia pela Dr. Arnaldo, para despinguelar na Consolação, Xavier de Toledo, até o ponto final na Praça Ramos, ao lado do Theatro Municipal.
Os bondes elétricos paulistanos circularam a partir de maio de 1900. O último deles – que fazia a linha Centro/Santo Amaro (foto à direita) - morreu em março de 1968.
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