segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Laurita: uma ex-vedete no poder?

Não foi publicada até hoje, uma biografia detalhada sobre quem era Laurita Ortega Mari antes de ela se eleger prefeita de Taboão da Serra em 1963. Tudo o que rola na cidade são rumores, sigilos cochichados entre antigos, a respeito da primeira mulher no Brasil a conquistar uma Prefeitura pelo voto popular, após a ditadura de Getulio Vargas.
A juventude de Laurita sempre foi escamoteada pela hipocrisia oficial.
Felizmente, antes de falecer com 85 anos em 2007, o jornalista Waldemar Gonçalves, pioneiro da imprensa de Taboão da Serra, tratou de não levar este segredo para o túmulo.
Salvos pelo Google
Em 1998, Waldemar Gonçalves e eu fazíamos um programa de rádio. Ali ele contava a História da cidade, coligida nos seus livros Taboão da Serra: Sua História, Sua Gente (1994) e Taboão da Serra Na Virada do Milênio, este último com José Sudaia Filho, lançado dois anos depois da nossa parceria radiofônica (ambos edição do autor).
“Quando você vai contar a verdadeira história de Laurita?”, eu gostava de provocá-lo. Sempre temperando com humor suas lições de jornalista veterano, ele me punha cabresto: “Não vamos excitar demais a opinião pública, senão quem cai do cavalo somos nós mesmos.”
Hoje, estudantes e pesquisadores não precisam garimpar tanto para extrair o passado da ex-prefeita. Basta digitar no Google as palavras finais deste parágrafo, para explodir na tela a revelação bombástica de Waldemar Gonçalves: “Laurita foi vedete”.
Jornalista revelou que antes de ser prefeita, Laurita Ortega Mari atuou no palco, a exemplo de Renata Fronzi (à esq.)
Nos braços do adhemarismo
Dona Laurita” (como a chamavam) chegou a Taboão na década de 1940. Mas não se envolveu na questão da emancipação. Não teve seu nome ligado aos pioneiros emancipadores no panteão local.
Para não ficar pra trás, Laurita entrou com força na vida do município que ainda estava em trabalho de parto. Conseguiu o primeiro semáforo da cidade, feira-livre e linha de ônibus.
Dona do Matadouro Avícola de Taboão da Serra, onde abatia 22 mil frangos por mês para restaurantes e hotéis de luxo da Capital, Laurita tinha o respaldo político de Adhemar de Barros, então governador de São Paulo. E ele a queria prefeita.
O governador tinha outro ponto em comum com Getúlio Vargas, além do populismo: a fascinação por vedetes. Vargas tinha como amante declarada Virgínia Lane, estrela do teatro_rebolado. Deu a ela o título oficial de Vedete do Brasil.
Entre Laurita e Adhemar não restaram (por enquanto, que eu saiba) provas de alcova. Mas conhecedores da crônica mundana taboanense sussurram: eles foram amantes. Íntimos ou apenas amigos, o fato é que Adhemar pôs a máquina pública do Estado para girar a serviço da sua favorita. Ela perdeu a eleição de 1959 por 52 votos, mas em 1963 venceu com mais de 800 votos de diferença.
Por baixo dos panos
A atividade de Laurita Ortega Mari antes de ser avicultora e prefeita, não veio parar na internet por indiscrição de Waldemar Gonçalves.
Simplesmente, a uma pergunta genérica respondeu de forma interjetiva: “Ah, a Dona Laurita! Ela foi vedete profissional do tempo da Hebe Camargo, e muito amiga da outra vedete profissional que trabalhava no teatro do “não sei o que lá” Machado” – disse em 6 de abril de 1999 ao site Taboão on Line. A questão era sobre pessoas que se vestiam bem em Taboão quando Waldemar ainda era alfaiate. Vedetes viviam no glamour. Era natural que, habituada a roupas luxuosas, Laurita se mantivesse sempre elegante.
Não seria deselegância alguma contar que Taboão da Serra foi administrado de 1964 a 1967 por uma ex-garota do teatro rebolado. Que graças à sua ligação com o governador da época, atraiu benefícios públicos para a cidade. Várias ex-vedetes de Carlos Machado também assumiram outras atividades e se aposentaram com dignidade.
Somente um trabalho de pesquisa (com suas despesas devidamente patrocinadas) será capaz de levantar a cortina baixada sobre a passagem de “dona Laurita” pelos palcos.
Ao cumprir seu mandato de prefeita, Laurita elegeu-se vereadora de 1968 a 1972.
Em 1976 voltou a disputar a prefeitura. Provou que ainda tinha bom jogo de cintura: foi a mais votada. Mas não ganhou. Entenda o por quê aqui.
Carlos Machado e suas vedetes. Laurita teve amizade pessoal neste elenco, segundo o jornalista Waldemar Gonçalves

7 comentários:

christian disse...

eve sairá uma matéria sobre a antiga prefeita no O Taboanense.

Tenho dentre alguns projetos pessoais fazer a biografia da antiga prefeita. estou na fase de reunião de materiais.

Sobre o fato de ser vedete é de fato algo não oficial (ainda). Existe sim uma passagem a se explicar dos reais motivos que a levaram asair de uma confortável residência no Jd Europa para Taboão. Esta revelação pode estar relacionada.

Ela chegou aqui em Taboão no início dos anos 40. A data é realmente também algo nebuloso pois sabe-se que pouco tempo depois de casar veio aqui morar.

Prof. Christian christian.sznick@sanmares.com

David da Silva disse...

Christian, ótimo que este passado obscuro também está merecendo sua atenção e seu trabalho.
Dissipar esta cortina de fumaça é tarefa que necessitará, de fato, mais do que dois braços.
Quanto à data da chegada de Laurita a Taboão, fui induzido a erro por uma entrevista do sr. Natalino Tedesco. Voce tem razão. Uma reportagem do Diário de S. Paulo com a Laurita eleita, cita que ela já estava há 20 anos na granja. O texto já está corrigido.

Anônimo disse...

Sou Giane Gonçalves,filha do Sr Waldemar Gonçalves, e não gostei do comentario que vc fez.Meu pai sempre foi uma pessoa discreta e tenho certeza ele não fez esse comentario a respeito de D.Laurita,eu conheci essa senhora e ela era muito distinta e meu pai sempre respeitava a todos.Vc que falava que gostava do meu pai,que ele era seu amigo...é so falecer pra cpmeçara falar mal.Estou decepcionada contigo!

David da Silva disse...

Giane, é insuspeita a minha afeição pelo Waldemar. O que ele contou sobre a ex-prefeita, não o disse só a mim. Tocou no assunto em entrevista citada na minha publicação, inclusive na presença da minha saudosa dona Antonia.
Meus respeitos por seres filha do meu amigo inapagável.

Anônimo disse...

Olha fiquei estarrecida ao ler essa notícia! Sabe porque? Fui funcionária (concursada) da Prefeitura de Taboão da Serra. Trabalhei na administração dela como Prefeita (1964/ 1968).Devo lhe dizer também que a Dona Laurita jamais foi isso que escreveste, ou seja: Vedete. Imagine, isso só pode ter saída da cabeça de um tolo, que ACHAVA, que sabia de tudo e, por isso apelava para a mentira. Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, Dona Laurita venho morar em São Paulo, no começo da década de 30, quando casou-se com o Sr. Francisco Mari. Acredito que não passe de mais uma fofoca. Na verdade, antes de ser política ela, juntamente com seu esposo, foram empresários, pois possuíram uma excelente granja,que era muito conceituada.

Anônimo disse...

Procuro por uma pessoa que trabalhou nesta legislatura da época de 1964 a 1968 , o nome dele é Abel Soares ele era vereador será que teria notícias ? Ficarei grato !

Anônimo disse...

Sobre o ex vereador ABEL SOARES, segundo consta, o mesmo deixou Taboão, imediatamente após o término do mandato de suplente de Vereador, de 1964 a l968. Na verdade o seu Abel que consertava máquinas de costura, devido a problemas financeiros, simplesmente desapareceu sem deixar vestígios, a décadas desta cidade. Realmente o seu Abel, nunca mais foi visto circulando em Taboão, embora tenha deixado muitíssimos amigos. Foi um bom Vereador, ao substituir o titular Sr. Levy de Souza e Silva, do então partido da UDN(União Democrática Nacional) que deixou a Vereança para continuar sendo Secretário Municipal,( com o seu falecimento em 24 de dezembro de 1967), o S. Abel efetivou-se como um Edil muito versátil no seu desempenho.