Intérprete de Cristo em 2007 e 2008, o ator que participou da encenação durante oito anos analisa a apresentação da 53ª Encenação da Paixão de Cristo.
Na última sexta-feira 10 de abril, após oito anos dei-me a liberdade, mesmo que forçada pelas circunstancias, de almoçar tranquilamente com minha esposa e filhos. Mesmo feliz ao lado dos meus familiares, um enorme aberto no peito tirava toda minha atenção daquele momento. Com o passar do tempo, essa sensação foi aumentando.
Cheguei em frente ao palco por volta das 17h30 e a ansiedade tomou conta de mim. Com o passar do tempo, outros companheiros foram chegando. Me sentí mais descontraído, mas sempre olhando para o palco e vendo um filme em minha cabeça.
Quando anunciaram que a procissão vinda do Santuário Santa Terezinha se aproximava, um vazio apoderou-se de mim, pois sabia que o momento se aproximava. Confesso que tentei segurar, mas algumas lágrimas teimosas fizeram questão de saltar para fora, talvez para assistir comigo a apresentação, ou apenas para denunciar minha total tristeza em não estar no lugar onde me sinto verdadeiramente feliz: O PALCO.
Quando a trilha sonora começou a tocar, caí na real que não era um sonho. Eu não estaria representando neste dia; era apenas mais um espectador.
A narração do espetáculo começou e minha atenção foi total. Vi a força de vontade daqueles artistas tentando passar suas mensagens, mas de uma maneira despreparada. Não estou criticando a atuação deles, mas faltou mais tempo para prepará-los, e um pouco de falta de estudo.
Minha decepção foi maior quando a personagem Maria Madalena entrou em cena no momento
Do ponto de vista técnico, várias falhas foram acontecendo no decorrer da encenação. Principalmente a falta de movimentação cênica naquele enorme solo sagrado que é o palco.
Mas o que me entristeceu mesmo foi ver algumas pessoas que estavam à minha frente, levantando e indo embora no momento
Enquanto Maria discorria sobre todos os eventos da vida pública de seu filho, Jesus estava ali, passivo, apenas balançando a cabeça em sinal de consentimento. Depois saíram, com Maria levando seu banco (cadê a produção??? Eles receberam cachê pra quê???).
Depois, na cena do Lava-pés, Pedro foi o primeiro a ter o pé lavado, o que não condiz com a realidade. Judas participa de toda a Santa Ceia e só depois é que vai negociar a entrega de seu Mestre, quando na verdade essa armação já devia estar acertada entre o apóstolo e os membros do Sinédrio.
Após a prisão, Pilatos interrogou Jesus e o mandou para Herodes, na tentativa de uma reconciliação com o tetrarca. Herodes recebeu Jesus e pediu um “milagre” que não foi atendido. Jocoso, mandou o guarda colocar um manto no “Rei”. O guarda foi até o local onde a produção deveria ter deixado o manto, e para sua surpresa o manto não estava ali. Para enganar o tetrarca, apenas sacudiu o manto que o Cristo trazia.
Ao voltar para Pilatos, a produção do espetáculo atrapalhou-se e soltou a gravação errada. Os atores ficaram perdidos
Pilatos tenta libertar Jesus e pediu que trouxessem o facínora Barrabás, para através de uma manobra política, não desagradar sua mulher Claudia. Barrabás entra em cena e não pára em pé, mesmo sendo apoiado pelos guardas - parece que está bêbado.
Através de uma manobra dos sacerdotes, o Messias é condenado e vai para a flagelação. O guarda traz o cetro e tenta entregar ao Cristo. Mas ele não consegue segurar, pois seus braços estão estendidos, sendo puxados pelo povo e pelos guardas. A cena quase não teve flagelação. Talvez isso explique porque o Cristo continuou tão firme após a cena.
Pilatos dá a ordem final e manda crucificá-lo. O Cristo sai da coxia com a roupa alvíssima, como se não tivesse passado pelo seu suplício, contrariando assim as Sagradas Escrituras.
Meu relato termina por aqui, pois não tive coragem de acompanhar o restante da Encenação. Preferi retornar para minha casa.
Clayton Novais é ator e analista de informática. Participou da Paixão de Cristo durante oito anos. De
Leia também: Crise e dissidências na Paixão de Cristo em Taboão da Serra
6 comentários:
É bem verdade que a internet é um espaço livre, democrático. Onde as pessoas se expressam, se comunicam, analisam, criticam... Como é o caso desse post.
Conheço o Clayton (bj Claytão) e acompanhei seu trabalho como ator não só na Paixão de Cristo, e devo afirmar que trata-se da análise de um Puta Ator. Só não sei se posso concordar c/ toooooodas as críticas (a opção p/ comentar está aí, então...), e foram muitas. E digo isso s/ ter assistido o espetáculo (o que pode virar uma crítica a mim que estou comentando algo que não ví, mas tudo bem). Estou acompanhando as mudanças da Paixão meio de longe (e talvez sem entender muito bem). Tb já atuei no "evento" por muitos anos, fazendo personagens diferentes (Cláudia, Salomé, Maria Madalena). E parece que as muitas críticas, das muitas pessoas estão acompanhadas de um fervor, é um troço emocional e com relação a mudança toda. E existe tb a meu ver um desrespeito imenso com as pessoas que estão fazendo parte dessa mudança (independente da experiência ou não experiência, do cachê ou não cachê). Tudo bem, sabemos que a classe "artistica" não é lá muito unida em lugar nenhum e no geral as pessoas agem em beneficio próprio, mas acho que os que assumiram esse B.O de fazer a Paixão esse ano,com o tempo curto e curta experiência foram muito corajosos. Quero registrar tb que ano passado assisti a Paixão, como público mesmo, e tb ví muita gente inexperiente no palco, muitas cenas sem emoção, erros com relação a técnica, público que foi embora antes de acabar, enfim...(não foi seu caso Clayton mas rolou) E não recebi por email um espaço aberto a críticas.
Flávia,
legal saber do seu blog. Vou virar "freguês".
Boas as suas ponderações sobre a crise existencial da Paixão. É como os dissidentes afirmam no manifesto: é preciso abrir o diálogo sobre o fazer Cultura na cidade, dando voz àqueles que entendem do riscado.
Mande notícias de você!
Oi David,
parece que o meu 6º sentido já sabia de tudo isso, pois não senti a menor vontade de ir ver a encenação deste ano. Preferi ficar em casa e apenas apreciar a queima de fogos no fundo do meu quintal.
É uma pena estar acontecendo tamanha decadência neste importante espetáculo popular tão apreciado pelos taboanenses!
Abraços,
Regina Sudaia
Parece me que esse ator já nasceu pronto, nunca foi um amador, por fa
vor acorda!!!!!!!!! quem vc é?
Se sente melhor que os outros e acha que tem o direito de julgar, vc na verdade não poderia ter feito jesus e sim judas por falar mal de um evento lindo com esse e sabendo como é dificil a tarefa de preparar esse espetaculo,é uma grande traição.
Me desculpe! mas você é ridiculo e não é tão bom ator assim, ao contrario vi atores nessa paixão de 2009 muito melhor que vc, e olha que vc disse que são sem experiencia hein.
Querido(a) Anonimo(a),
Obrigado pelo seu comentário. Adoro ser amador, mas existe uma grande difernça entreo o amdor e o profissional. Para mim o profissional é aquele que faz com amor, doa o maximo de si pela arte, sem se importar com o dinheiro ou com seu status, o amador para mim é aquele, que se vende por pouco dinheiro(as vezes muito) e deixa para trás uma trajetoria de ideiais. No sexto paragráfo, eu coloquei bem claro, se é que você leu, que não era uma crítica aos atores, minha crítica vai para a produção do evento. Quanto a "quem é você?" meu nome está ai... é Clayton Novais". Quanto a fazer Judas, seria um prazer para mim, pois adoro experiências novas,mas pelo jeito tem em você uma grande concorrência... Que vença o melhor e mais preparado. quando a direção do espetáculo me escolheu para fazer o personagem Jesus Cristo, foi uma vitória, mesmo sabendo que não iria agradar a todos. Relativo a questão de ser ou não um bom ator, em primeiro lugar nunca disse que o sou, desde 91 quando me iniciei nesta bela arte, vou aprendendo e crescendo com comentários como o seu, que me incentivam cada vez mais.Que ótimo que a Paixão teve melhores atores,eu também o acho, aliás tem dois desses novos atores trabalhando comigo numa peça, assim nossa cidade, não ficará a mercê de pessoas sem escrúpulos que só veem a arte como dinheiro. Caso queira conversar e até criticar meu trabalho, ficarei muito grato, estou todos os domingos as 20:00 no Espaço Clario, com o espetáculo "A Construção", com esses novos talentos da Paixão de Cristo e em breve estarei retornando com o espetáculo "Como Nasce um Cabra da Peste".
Grande Abraço,
Clayton Novais
clayton_novais@hotmail.com
Obs: Da próxima vez deixe seu nome, para que eu possa me dirigir a você corretamente.
Eu sei que existe diferença entre ser profissional e amador e acho que você pode ver que ouve profissionalismo nessa paixão, porque ela saiu, e foi linda, falhas acontecem, como aconteceu nas outras.
Ninguem que fez paixão de cristo esse fez por dinheiro, ao contrario, os que resolveram sair que estavam preocupados com lucro.
Para mim tambem seria um prazer fazer judas, e seria até facil faze-lo, bastava apenas juntar comentarios destrutivos como foram publicados e criar o melhor de todos os judas, melhor porque eu juntaria inveja, desprezo, ambição, desrespeito, soberba entre outros.
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