Na minha infância, quando brincava à sombra das velhas mangueiras, cajueiros e coqueiros – com suas folhas embaladas pelo vento que soprava lá dos lados do mar, não muito distante - ficava a sonhar com uma casa muito simples, feita de barro, entrelaçada por varas de marmeleiros (que não é do marmelo, mas sim uma espécie de arvore perfumada, cujo caule é bem reto, fazendo uma parede bem nivelada)...
Esse perfume ainda sinto e me traz uma lembrança muito forte do meu velho pai, Francisco Alves Pedrosa, que iniciava o seu nome próprio igual ao do grande seresteiro.
Aos domingos, ele sentava após o almoço bem engordurado de tripa de boi, mocotó e feijão, todos cozidos juntos, cantarolava:
“Favela oi, favela,
Favela que trago no meu coração
Ao recordar com saudade
Da minha felicidade
Favela dos sonhos de amor e do samba-canção
Hoje distante de ti
Se vejo a Lua surgir
Eu relembro a batucada
E começo a chorar...”
Mas a casa dos meus sonhos não se tornou realidade.
Mesmo assim, fico hoje em um pequeno quarto nos fundos do meu apartamento, com velhos livros, discos, poeira... Assim fecho os olhos e sinto-me bem distante do barulho da BR-116, pois bem próximo do prédio onde moro tem muitos eucaliptos. E a Lua com o seu amarelo-prata contrasta com o verde das folhas, me faz sentir um pouco longe da cidade.
Se eu pudesse falar tudo que ando pensando, certamente todos diriam que estou desafinado com o tom do mundo, atualmente. Ando mais ligado com o meu mundo espiritual, uma espécie de visita prévia à morada eterna. A dona da pensão alega ser viúva de marido vivo, e concordo plenamente.
A solidão, hoje, é minha companheira. E como tenho aprendido!!!
Ontem falei com meu irmão que mora em Messejana, no Ceará onde nascemos. Ele canta muito bem. Chegou a fazer teste na Radio Iracema de Fortaleza, em um programa que se intitulava Vesperal do Chacrinha, apresentado pelo falecido radialista Irapuã Lima. Este radialista era empresário de todos os artistas quando de suas apresentações naquela linda cidade de Fortaleza de Nossa Senhora de Assumpção.
Meu irmão falou-me de uma gravação da Carmem Costa, gravada logo após seu desquite com aquele americano. Meu irmão sabe que a separação deu-se por total preconceito racial. Tanto que ele teve acesso ao processo de separação que tramitou pelo Cartório onde ele trabalhava; leu várias vezes esse processo no Cartório Jereissati, da poderosa família.
Estou querendo muito escrever um belo artigo sobre o poeta e cantador Patativa do Assaré. Mas não nasci com o dom de escrever. Sento diante do computador e logo me aporrinho. Pois, gostaria que tudo que está em minha mente saísse na hora, rapidamente.
Em l988 eu estava tomando cachaça com o Zé Luiz no boteco do Mano Véio e Mano Novo, e fui a uma livraria perto dali comprar uma biografia do Patativa. Até hoje não li foi porra nenhuma...
Foto: David da Silva |
Aloisio Nogueira Alves é servidor público aposentado, ex-diretor do Fundo de Previdência dos Funcionários da Prefeitura de Taboão da Serra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário