sexta-feira, 19 de junho de 2009

No tempo em que as nossas freiras eram uns amores

Gravura feita em 1792 pelo desenhista e arquiteto francês Jean-Jacques Lequeu
Foi justamente em um 19 de junho, mas de 1691, que o governador da Bahia mandou carta ao rei de Portugal, D. Pedro II (ancestral do Pedro II brasileiro), prestando contas das reformas no Convento de Santa Clara do Desterro, em Salvador. O rei ordenou que se colocasse nos quartos das freiras “grades em distância de seis palmos de grossura”, e se tapasse “com pedra e cal” as aberturas de portas e janelas por onde as religiosas conversavam com pessoas de fora. Queria El-Rey acabar com “todas as amizades ilícitas escandalosas” das irmãs.

O vício debaixo do hábito
Hábito é nome da roupa que não mostra nada além do rosto das freiras. Com todas as proibições reais quanto a visitas masculinas nos conventos, as freirinhas continuaram com o ventre em brasa sob as severas vestes.
No Convento de Santa Clara do Desterro nem todas as freiras de véu preto tinham verdadeira vocação religiosa. Grande parte era filhas de famílias ricas. Estavam ali só para evitar contatos com pés-rapados. Havia também freiras de véu branco, de origem pobre, destinadas a serviços braçais, sem necessidade de ordenar-se.
Os pais temiam o apetite sexual dos soldados da Infantaria, aquartelados no Forte de São Pedro. Eram mais de 2.000 homens que haviam lutado contra os holandeses. A maioria deles, negros alforriados, mulatos e brancos pobres. Sem holandês para matar nem outra coisa a fazer, os soldados se dedicavam a seduzir as mocinhas do lugar.
Assim, enclausuradas, as baianinhas estavam a salvo dos pés-de-chinelo.
Mas não dos endinheirados que continuavam com as portas (e pernas) do convento abertas para quem pudesse pagar o luxo de uma freira-amante.


Freiras e amantes na Boca do Inferno
As freiras de véu preto podiam ter escravas. Também se dedicavam a negócios como emprestar dinheiro a juros, compra e venda de terras, e até investiam em ações dos navios negreiros.
Ricas, bonitas e famosas, as freiras de véu preto do Convento de Santa Clara do Desterro organizavam saraus e bailes de Carnaval.
Era esta a brecha por onde os fidalgos baianos faziam o assédio às irmãs.
O poeta Gregório de Matos Guerra, o Boca do Inferno, conta em suas sátiras o quanto as freirinhas eram cobiçadas pelos milionários da capital baiana. 

Para conseguir os benefícios eróticos das religiosas, o sujeito não podia ser um zé-ninguém.
Era preciso conquistar a madre-superiora com generosas doações ao convento. E as freiras, por serem de famílias abastadas, exigiam que seus namorados se apresentassem sempre com roupas caras, e lhes dessem presentes valiosos.
Chamavam-se freiráticos (fanáticos por freiras) estes frequentadores do local proibido aos comuns dos mortais.
Era ardente a devoção de Gregório de Matos por sua freira. Certa feita um incêndio no quarto da moça interrompeu a transa. O poeta escreveu: "Ontem a amar-vos me dispus, e logo / Senti dentro de mim tão grande chama, / Que vendo arder-me na amorosa flama / Tocou Amor na vossa cela o fogo".



Amor entre grades e ralos
Ralo era o nome dado à lâmina de latão ou cobre, geralmente quadrada e com furinhos, que se punha em portas e janelas dos conventos, na altura do rosto, permitindo às freiras conversarem com o homem do lado oposto. Embora não pudessem se ver, só o fato de poderem dizer-se coisas picantes levava ao êxtase o freirático e o alvo de seu desejo.
Quando não dava mais pra segurar, a freira-amante e seu freirático iam para as grades se alisar entre os ferros, ou fazer algo mais que a abertura das barras permitisse.

Bateu na porta errada
Já dissemos que as reformas feitas em 1691 nas grades e portas do convento, não interromperam o sexo livre das irmãs.
Prova disto é a carta de 25 de abril de 1738, da abadessa de Santa Clara do Desterro para o rei Dom João V. A abadessa denunciava um tal Inácio Moreira Franco, vigário do mesmo convento, que aprontava mil e umas com Josefa Clara, freira de véu branco. Quando impedido de entrar na cela de Josefa, o taradão tentou passar pelo forro da capela até o dormitório dela. A madeira podre e comida por cupins não aguentou o peso do ardoroso vigário. Desabado sobre as assustadas irmãzinhas, o descarado Inácio alegou que estava ali porque uma freira queria confessar-se com ele...
Escrevi no subtítulo que a abadessa bateu na porta errada ao mandar carta a Dom João V. Pois o monarca luso era o maior comedor de lisboetas da paróquia...

Um luxo só
Dom João V renovava seu estoque de amantes no Convento de Odivelas. Um dia, ao bater os olhos na jovem madre Paula Teresa da Silva e Almeida, El-Rey de Portugal se incendiou de desejos. A freirinha tinha 17 anos e o rei, 47. Os 30 anos de diferença na idade não era problema. O enrosco é que a linda religiosa já prestava seus favores sexuais a Francisco de Portugal e Castro, o Marquês de Valença. Louco de paixão, El-Rey chamou Dom Francisco pra um acêrto: “Deixa a Paula que eu te darei duas freiras à tua escolha”.
Tão grande foi o poder que madre Paula exerceu sobre Vossa Majestade, que Dom João V mandou abrir uma passagem secreta entre a sala do trono e o quarto da freira. Quem quisesse ter alguma moleza real, não adiantava procurar ministros. A chave era a freira-amante, a quem El-Rey visitava todas as noites.
Deste romance nasceu o menino José, que chegou ao posto de Inquisidor-Geral. (Já pensou o horror de ser mandado à Inquisição e julgado por um autêntico filho-da-p...?)
Além de cobrir Paula e seu pai de dinheiro e presentes, o rei mandou construir para ela o Palácio Pimenta – atual Museu da Cidade de Lisboa. Quando o rei morreu, deixou à madre Paula pensão digna de princesa. Os aposentos onde a freira morava com uma irmã e nove escravas eram decorados com peças trazidas da Ásia e ouro do Brasil. A freira-amante real morreu em 1785, aos 67 anos.


Pedra da Freira
Em Caraguatatuba (SP) os ventos e as águas brincaram de Michelangelo.
Esculpiram na Praia do Garcez a Pedra da Freira. Uma lenda caiçara conta que um índio apaixonou-se pela freira que o catequizava. Ele mergulhou no mar à busca de peixinhos e conchas para enfeitar sua amada. O mar o engoliu. Até hoje a freirinha continua em doce tristeza reclinada sobre as ondas, à espera do índio querido.
Foto: Eliel Almeida

4 comentários:

Anônimo disse...

Tem veracidade todos estes fatos?
Diga onde encontrar a fonte, pois estou pesquisando sobre o Convento Santa Clara do Desterro.
Ainda bem que nos tempos de hoje não é mais assim. Para ser religiosa a pessoa precisa ter vocação mesmo, não é obrigada a ficar em um convento escondida embaixo de hábitos. Ninguém obriga hoje uma jovem a se entranar em um convento.
Hoje você pode visitar o Convento do Desterro. Não são mais as clarissas as moradoras. E as moradoras atuais dão um grande testemunho de fé e autenticidade.

Anônimo disse...

Tem veracidade estes fatos? Diga por favor onde os encontrou que estou fazendo uma pesquisa sobre o Convento do Desterro.
Ainda bem que hoje em dia a vida religiosa não é mais assim. As freiras não são obrigadas a se entranhar em um convento vivendo escondidas em baixo de seus hábitos. Hoje é preciso ter vocação. A pessoa tem que querer, sentir-se chamada.
Hoje no Convento do Desterro não são mais as moradoras daquela época. São outras, e elas dão um testemunho grande de fé, dedicação e autenticidade de religiosas. Passe por lá e averigue.
Victor

David da Silva disse...
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Anônimo disse...
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