sábado, 26 de setembro de 2009

Ecos do Baden na Escandinávia

Num domingo de sol em Oslo – 2 de agosto - eu seguia no carro do Arne Karlstad em direção ao Frognerparken. Conosco ia a doce Randi Faerden.
Ao passarmos diante de um determinado prédio, o Arne apontou:
- David, naquele apartamento deve morar algum brasileiro. Porque eu sempre vejo a bandeira do Brasil naquela janela quando tem jogo da Seleção.
Randi foi secretária da Embaixada Brasileira na Noruega. Sabe tudo de Oslo:
- Ali mora o percussionista brasileiro Alfredo Bessa – explicou Randi. – Ele é casado com uma norueguesa.
Dei um pulo no banco. Alfredo Bessa foi o percussionista favorito do violonista Baden Powell. Tocaram juntos na melhor fase do músico que revolucionou a arte de tocar violão (na foto, Baden e Alfredo na capa de um disco lançado em 1970).
Alfredo está com 76 anos. Vejo alguns vídeos dele no Youtube tocando com amigos no Bar Brasil, na capital da Noruega. Também desenvolve um trabalho de terapia musical numa instituição do governo local.
Não pude parar alí para cumprimentar o companheiro do meu violonista imortal. Um ônibus já me esperava para ir a Sandefjord. Quando eu voltar a Oslo, vou procurar Alfredo Bessa para uma entrevista.

Um mês antes deste episódio, eu estava na Finlândia, onde conheci o baterista Matti Koskiala. Ele é um entusiasta da música brasileira. Uma postagem sobre Matti está agendada para as próximas semanas aqui no nosso blog-boteco.
Matti Koskiala me contou que assistiu Baden Powell em Helsinki no ano de 1975:
– Só não deu pra falar com ele – lamentou Matti. – O Baden passava o dia inteiro bêbado. Só saia do quarto para o bar do hotel, e dali para o palco. Mas fez dois concertos inesquecíveis aqui.

Na década de 1970 o empresário de Baden Powell era o suíço Daniel Bakman. Na sua temporada na Escandinávia, Baden tocou na Finlândia, na Dinamarca e na Suécia. Estava no auge de sua capacidade técnica de instrumentista. Sua grande explosão criativa foi na década anterior. Seu violão era do tamanho do mundo. Não cabia só no Brasil. Dos 70 discos que gravou, 60 foram feitos no exterior.
Estou contando isto hoje, porque foi numa data como esta que o Brasil perdeu seu maior violonista de todos os tempos. Baden morreu na manhã de 26 de setembro de 2000. Matou-o uma infecção generalizada decorrente de pneumonia bacteriana grave. Estava há 33 dias na UTI da Clínica Sorocaba, padecendo sessões diárias de hemodiálise e respiração por aparelhos. Sua falência renal aguda foi o tributo que o álcool cobrou do mestre das cordas. Foi Vinícius de Moraes quem apresentou Baden Powell ao copo. As bebedeiras a que o músico finlandês se referiu acima eram uma constante na vida de Baden. Volta e meia, sumia de casa por vários dias, enfurnado nos botequins mais improváveis. A família só conseguia resgatá-lo com a ajuda de jornalistas ou da polícia.
Baden esteve abraçado ao bojo do violão desde os 4 anos de idade. Morreu com 63 anos.
Seu corpo desceu à sepultura às 14h da 4ª-feira 27.set.2000.







Baden Powell: A Lenda do Abaeté, de Dorival Caymmi (Grav. 1969)

4 comentários:

Anônimo disse...

Existe uma biografia escrito de Baden Powell?
Rosana Antunes

David da Silva disse...

Rosana,
a jornalista francesa Dominique Dreyfus publicou O Violão Vadio de Baden Powell um ano antes da morte dele.

Anônimo disse...

Ai Baden, Baden, quem me dera te-lo conhecido pessoalmente. Gostei de saber sobre o Alfredo Bessa, vivendo em Oslo, quem sabe um dia nao o encontro?
Beijos amigo,
Jussanam

David da Silva disse...

Quando voce for cantar em Oslo, Jussanam, me avise que vou te passar o enderêço do Alfredo Bessa.
Beijo!