terça-feira, 20 de abril de 2010

Piazzolla - O Retorno

Quinta-feira passada, numa lojinha de discos do lado direito da rua Direita, no centro velho de São Paulo, reencontrei meu álbum favorito do Astor Piazzolla.
Gravado em 1969, Adiós Nonino é venerado pelos conhecedores da música de extrema qualidade. Eu tinha este disco no formato vinil. O perdi numa destas capotadas da vida. Mas a sua sonoridade sempre foi uma obsessão da minha memória.
Antes, já havia encontrado outras gravações das mesmas músicas; mas eu queria única e exclusivamente aquele disco em particular. Estava disposto a pagar uma boa grana por ele. Não estranharia se o vendedor me pedisse até R$ 100,00. Mas graças aos deuses o encontrei por módicos R$ 19,99.
No LP que perdi na metade da década de 1970, não tinha o texto do Astor Piazzolla que acompanha meu CD atual. Nele o compositor informa que aquele também foi o seu disco predileto. Fiquei violentamente comovido com a revelação.
Certa vez eu emprestei meu LP Adiós Nonino ao amigo Zé Mário, ex-gerente do extinto Banco Bamerindus, em Embu das Artes. Um dia depois, Zé Mário devolveu: “Não quero mais ouvir isto. A música do Astor está me provocando reações com as quais tenho medo de lidar”.
Em mim também a obra de Piazzolla provoca melancolia profunda. Mas não me assusta. Ao contrário, ela também me extasia.
O produtor de discos Alfredo Radoszynski conta um fato expressivo sobre o que a música de Piazzolla provoca nas pessoas. Quando gravava um trecho da sua opereta Maria de Buenos Aires, o músico foi chamado à mesa de som. Os técnicos o deixaram sozinho no estúdio. Piazzolla pensou que eles estivessem cansados, e tinham ido pra rua descansar e respirar ar puro. Mas os engenheiros de som estavam era rindo e chorando ao mesmo tempo na calçada, violentamente emocionados com a música. “Saímos do estúdio para que Astor não ouvisse os nossos soluços”, conta o produtor.

Quem não gosta da música de Astor Piazzolla, precisa transferir sua certidão de nascimento para algum asteróide inóspito e seco e retorcido, porque gente certamente não é.
Otoño Porteño – Astor Piazzolla y su Quinteto

Bandoneón – Astor Piazzola. Violino – Antonio Agri. Guitarra - Oscar López Ruiz. Contrabaixo - Kicho Dias. Piano - Dante Amicarelli.

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