sábado, 15 de maio de 2010

Transposição

Djalma Allegro

(à maneira de Augusto dos Anjos)

E enquanto a noite estúpida descia,
Pela janela morta do meu quarto,
Meu coração em súplicas se abria,
Farto de amor e, desta vida, farto.

Um desespero atroz, como um lagarto,
Em ondas de soluços me subia
Pela garganta rouca... Num enfarto,
Meu coração, aos poucos, sucumbia.

Mas resisti à sensação espúria!...
E tomado de horror, de ódio e fúria,
Estraçalhei minha alma prisioneira.

E entre tantos farrapos de luxúria,
Bem lá no fundo da desgraça e incúria,
Vislumbrei uma nova companheira.

Djalma da Silveira Allegro (1938) nasceu, de fato, em Bebedouro, de direito, em Viradouro, mas é mesmo de Terra Roxa (tudo em São Paulo). Jornalista, ator de teatro e televisão, poeta e dramaturgo. Advogado militante, foi secretário-geral da Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo, secretário-geral da OAB-SP, dirigente da Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo, consultor de Cultura da OAB-SP, e atualmente integra a diretoria executiva da União Brasileira de Escritores. Autor do livro Retomada (Massao Ohno Editor).

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