sábado, 4 de junho de 2011

Galopando contra o crime

Quem me contou esta história foi meu valoroso amigo Aloísio Nogueira Alves (foto à direita).
O fato se deu há 20 e tantos anos na periferia sul de Fortaleza, capital do Ceará, terra natal de Aloísio.
O personagem central da narrativa é o sargento PM Geraldo Nogueira Alves, irmão de Aloísio.
Sargento Geraldo foi daqueles cuja determinação em abraçar seu ofício transforma um homem em herói.
A incompetência das autoridades públicas só não esmaga de vez a gente humilde dos arrabaldes, porque os despossuídos da Terra volta e meia encontram amparo em verdadeiros Hércules suburbanos.

Sargento Geraldo – Xerife do Nordeste

Já teve o desgosto de pedir socorro à Polícia e levar na cara o famoso: “Não temos viatura para atender”?
Houve um tempo num cantinho sofrido do Brasil, onde pessoas não levavam este desaforo do Estado para casa.
Em 1979 o sargento PM Geraldo Nogueira Alves (à esq.) foi designado para o distrito policial do Conjunto Palmeiras, zona sul de Fortaleza (CE). Era um exército de um homem só, guarnecido por uma mesa velha, uma cadeira escangalhada e um cofre antigo trancado, cuja chave se perdeu.
Saturado de esperar pela viatura prometida pelo governo, Sargento Geraldo botou rédea e cela no cavalo Macaco, deu ao quadrúpede a patente de viatura de Polícia, e saiu por aquelas brenhas a catar bandidos. (Macaco era como o povo chamava os polícias na era do cangaço).
Conjunto Palmeiras existia desde 1973, como assentamento para famílias miseráveis expulsas pelo governo de favelas na região central da capital Fortaleza.
O povo foi se ajeitando por ali como podia, erguendo barracos onde antes eram só carnaúbas – daí o nome Palmeiras.
Gente aguerrida, em 1981 fundam a associação dos moradores do bairro totalmente desprovido de arruamento, rede de esgoto, e sequer água encanada. Quando a água do caminhão-pipa acabava, o povo ia matar a sede num poço a 2 km de lonjura.
A população se organizando, se politizando, e sargento Geraldo pra cima e pra baixo, prendendo ladrões no lombo de seu cavalo. Mas ele não era apenas um policial rigoroso. Tinha traquejo pras questões sociais.
Em 1988, esgotada a paciência pela espera da água encanada - que como a viatura de Geraldo o governador nunca entregava – o povo fez um levante. Iam dinamitar a adutora de água que abastecia a Capital, e que passava – veja só! – bem debaixo do Conjunto Palmeiras. Era desaforo demais...
Sem explosivos para cumprir a ameaça, os moradores começaram a cavar o chão, rumo à adutora. A Polícia Militar do sargento Geraldo negociou com os rebelados, e conseguiu do governador a assinatura do projeto para início das obras de saneamento básico.

Revista Veja, 18 de março de 1987 - Clique para ler
Renome nacional
Um ano antes deste sururu por causa da água, sargento Geraldo havia ganhado fama no Brasil inteiro, nas paginas da revista Veja. Sua saga foi publicada na mesma seção de notas sobre celebridades como o maestro Karajan, o cantor Elton John, e outros.
As aventuras do sargento e seu cavalo-viatura também ganharam a tela da TV, na extinta Rede Manchete.
Isto é o que você vai assistir agora.
Foi Aloísio quem me forneceu a cópia do vídeo. Devido a problemas de conservação nos arquivos da família do sargento Geraldo, o material se deteriorou. Mas não apagou o brilho desta deliciosa passagem da História do Brasil
No Conjunto Palmeiras surgiu o primeiro banco comunitário do Brasil, em 2005. A moeda social palma circula no próprio bairro, com o objetivo de fortalecer o comércio local.

Um comentário:

David da Silva disse...

O sargento Geraldo morreu em 04.mar.2007. O Governo do Ceará paga à viúva Maria Nair Costa Alves a pensão de R$ 1.453,04, como prêmio por tudo que ele fez pela segurança do povo do Conjunto Palmeiras...