segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Com as “minas” foi muito pior...

Tô vendo um bocado de gente aí fazer muita fumaça com a ferveção da Polícia Militar pra cima dos “nóias” do centro de São Paulo. Tem até ativistas sociais trocando abraços e suores com craqueiros na beira de churrasqueiras improvisadas pela Cracolândia afora.
O que estes fumadores de pedra estão sentindo na pele esturricada, é pouco perto do que o governo paulista fez com as meninas de vida (nada) fácil no sangrento ano de 1953.
Meretrizes em ação nas imediações da cracolândia

Fotos: Samuel Kassapian Jr
As mulheres ganhavam seu mísero dinheirinho vendendo o corpo em duas vias no bairro Bom Retiro. Duas ruas sem saída (Rua Itabocas e Rua Aimorés) com fundos para a linha do trem. Os polícias controlavam quem entrava e quem saía. Havia três postos com médicos para prevenir doenças venéreas. As minas atendiam seus clientes em minúsculos conjugados quarto-e-banheiro.
Um belo dia o governador mandou expulsar todas as putas do lugar. E elas tinham que sair porque tinham que sair. Assim, sem mais. Quem estava mandando era o senhor governador Lucas Nogueira Garcez, em decreto assinado no final daquele sangrento ano de 1953.
Os jornais sedentos por agradar os donos do poder, deram moral à polícia. Adulados, os milicos chispavam com viaturas pra cima e pra baixo.
Descem o porrete. Malandros perdem a linha – dão no pé. Meretrizes desamparadas por seus cafetões se desesperam e choram e enchem a cara.
A repressão vem feroz, no supetão. Força Pública (a PM da época), Exército, Bombeiros, Cavalaria, Aeronáutica, guardas do Trânsito, Polícia Civil. E até estagiários para guarda fardada.
Afugentam as mulheres dos seus cubículos. Tocam fogo nos seus colchões. Arrancadas do sono, as prostitutas zanzam tontas pela rua, quase nuas. Policiais batem e chutam as vadias como se espancassem marmanjos. Muitas delas se entopem de drogas, jogam álcool no corpo e saem para as calçadas ardendo em chamas. O Governo do Estado de São Paulo as socorre com esguichos d’água e tiros e xingamentos.
Vai aqui um trecho do jornalista-escritor João Antonio, sobre a triste sina das profissionais do sexo na capital paulista, no sangrento ano de 1953:
“As sirenes das ambulâncias parecem crianças chorando. Recolhem os corpos em carne viva e, aos trambolhões, jogam para dentro. Carnes se desmancham, braços e pernas. Dez-doze mulheres. Braços, pernas. Os cadáveres ainda ardem.
Outras saem do casario imundo, a pauladas; procuram depois, na rua, agarrar restos de coisas suas. Mas são escorraçadas. E vão chorando, sem roupa.
Lacram portas que sobraram de pé, pregam trancas a martelo, metem cadeados.
Os homens da lei apitam, tiros, os cassetetes sobem e descem. E os cavalos vão pisando”.

3 comentários:

Anônimo disse...

E aqueles carros alugados pelo Macário para a câmara? ficou por isto mesmo? O valor pago com aluguel de carros daria pra comprar quantos carros para a frota municipal? ai tem, pode acreditar...

Matheus Trunk disse...

Prezado David: diz a lenda que o Lucas Garcez fez isso para tirarem as prostitutas que eram eleitoras do Adhemar. Ele fez isso em Santos também. Ando muito na área de centro e a situação desses nóias é dramática. Não sei se a resolução proposta pelo governo é a melhor. Mas não fiz churrasco e nem abracei eles rsrs

David da Silva disse...

Meu caro Matheus Fazer pic-nic no asfalto com nóia é o fim da picada, nénão???