Para Flávia D’Álima, aniversariante
Aquela a quem eu amo me disse hoje, pela manhã, que a data de fundação da cidade de São Paulo é evento tão importante, que as cidades vizinhas também deviam se curvar à aniversariante.
Irrefutável.
A região metropolitana inteira, a chamada Grande São Paulo em peso tem obrigação de reverenciar o município-mãe no seu dia da criação.
Taboanense da gema, tenho pela capital paulista a mais plena veneração. Tanto assim que exercito minha boemia pela região mítica de “Campo Limpo-Taboão”, devidamente definida na cartografia poética de Robinson Padial, o Binho.
A metrópole paulistana compartilha sua data querida com minha amiga esplêndida em todos os fulgores da sua beleza física e múltiplos talentos Flávia D’Álima.
Flávia D'Álima em Paixão de Cristo |
Moradores de Taboão da Serra já tiveram a glória de ver Flávia em ação arrebatadora na encenação da Paixão de Cristo por quase uma década (2000 a 2006).
A atividade artística de Flávia D’Àlima é uma corrente de acertos (aos quais ela teimosamente embirra de dizer que contém fracassos).
A atividade artística de Flávia D’Àlima é uma corrente de acertos (aos quais ela teimosamente embirra de dizer que contém fracassos).
Tenho
pela Flávia uma paixão nada secreta. Nunca jamais em tempo algum eu me
economizo em dizer o quanto ela é necessária no alimento cultural da minha
alma.
Ela é
uma menina-mulher a quem eu conheci quando era bem mocinha, nos seus 17
aninhos. Flávia é estrela de primeira grandeza na constelação artística do
teatro alternativo da Grande Sampa.
Toda a
nossa região tem uma imensa dívida com esta garota que não mede esforços pra
manter de pé a atividade teatral nas nossas quebras do mundaréu.
Na estrada desde 1996, Flávia já encarnou nos palcos personagens de pelo menos 18 montagens teatrais. E além de brilhar na boca de cena, agora também irradia aptidão por trás das cortinas, na produção.
Flávia e eu temos bocas e olhos devidamente equipados para longas jornadas noite a dentro (sua bênção!, Eugene O’Neill). Hora dessas vamos peregrinar em ronda noturna por uns fecha-nunca sempre plenos de ensinamento para quem não cansa de aprender com o lado enviesado da vida. Flávia e eu gostamos de ver o dia lutando com as trevas do amanhecer. E também achamos fraquinho quando dizem que o momento fulgurante chama-se “nascimento do sol”. Como o menino Perus (do conto abaixo) gostamos um pouco, um pouquinho só, do nome aurora, mas quando pronunciado em voz baixa, e bem sério.
Leitora voraz, sei que ela vai curtir demasiadamente bem este trecho do conto Malagueta, Perus e Bacanaço do imortal João Antônio.
É meu presente de aniversário nesta data querida da Flávia e da cidade vizinha que eu amo.
Nenhum outro escritor jamais descreveu em tempo algum um alvorecer paulistano de forma tão densamente poética, uma aurora de dolorida doçura vista de dentro da ótica dos botecos mal dormidos do Largo de Pinheiros.
“Luzes se apagaram nas ruas. Uma palpitação diferente, um movimento queacorda ia-se arrumando em Pinheiros.Primeiros pardais passavam. Perus acompanhava os dois, mas olhava o céucomo um menino num quieto demorado e com aquela coisa esquisitaarranhando o peito. E que o menino Perus não dizia a ninguém. Contavamuitas coisas a outros vagabundos. Até a intimidade de outras coisas suas.Mas aquela não contava. Aquele sentir, àquela hora, dia querendo nascer,era de um esquisito que arrepiava. E até julgava pela força estranha, queaquele sentimento não era coisa máscula, de homem.Perus olhava. Agora a lua, só meia-lua e muito branca, bem no meio do céu.Marchava para o seu fim. Mas à direita, aparecia um toque sanguíneo. Erade um rosado impreciso, embaçado, inquieto, que entre duas cores se enlaçavae dolorosamente se mexia, se misturava entre o cinza e o branco docéu, buscava um tom definido, revolvia aqueles lados, pesadamente. Pareciaum movimento doloroso, coisa querendo arrebentar, livre, forte, gritando decor naquele céu.”(João Antônio – Malagueta, Perus e Bacanaço – 1963)
Um comentário:
Já te xinguei via Facebook, então agora só vou agradecer mesmo, muito, muito, muito, muito...
Bj
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