Na vida pública certas pessoas ficam marcadas pelo que disseram. E outras (muitas outras) se estigmatizam pelo que não falaram.
Foi assim com a infeliz Marie Antoinette, última rainha da França, que nunca jamais proferiu a frase “se não têm pão, comam brioches” para os pobres franceses famintos.
Por causa dessa infelicidade impronunciada, cortaram-lhe na guilhotina o belo pescocinho no vigor dos seus 38 louros anos.
Foto: Edu Toledo |
E uma dessas típicas ciladas verbais pode ter laçado a língua do secretário Carlos Eduardo de Toledo (foto à dir.), responsável pela Manutenção e Serviços Urbanos da nossa encharcada Taboão da Serra.
Em entrevista ao sempre excelente rádio-repórter Luis Roberto Moura, o secretário teria dito após a forte chuva da última 4ª-feira que a população local “está acostumada com alagamentos”.
Durante o um minuto e 39 segundos da transmissão não ouço Carlos Eduardo usar a palavra “acostumada”. A menos que tenha dito “em off”. Na parte audível da reportagem, o secretário afirma que “os pontos [de alagamentos] que foram atingidos, são os pontos, na verdade, que já são do conhecimento geral. Inclusive dos próprios moradores.” – confira o podcast do Jornal na Net aqui.
O secretário já carrega no lombo as críticas com que foi detonado no satírico CQC, da TV Band, em 2009. Duas enchentes depois, cá está ele de novo na mira da mídia e da ira úmida dos alagados.
Foto: Olho Taboão Serra ( facebook ) |
Questão de costume?
Acostumado ou não ao flagelo diluviano anual, não há como o povo de Taboão da Serra riscar as enchentes da sua biografia.
É tristemente famosa a foto à esquerda, retratando alagamento na Rua Getúlio Vargas, ao lado do Largo do Taboão, no ano de 1918.
O meu saudoso jornalista Waldemar Gonçalves registrou em seu primeiro livro:
“Em 1911, segundo depoimentos de antigos moradores, a Vila Poá na época de fortes chuvas ficava totalmente alagada. (...) Para atravessar do Largo do Taboão até além do Tanque Velho [imediações do atual piscinão] Benedito Nunes Vieira, o “Nêgo Nunes”, construiu uma balsa usando cartolas vazias de vinho e madeira. Ele cobrava 200 réis e nos dias de chuva chegavam a formar filas de mais de 50 carreiros. “Nêgo Nunes”, já falecido, dizia que o serviço rendia bom dinheiro e ele torcia para chover sempre”.(Taboão da Serra Sua História Sua Gente – edição do autor, 1994 – página 120)
Nêgo Nunes, como diz o texto, já morreu. Mas deixou em seu lugar os prefeitos que têm nas enchentes a chance líquida e certa de decretar emergências, contratar obras sem licitação, etc. e tal...
De hoje, 15 de janeiro, até 4ª-feira dia 18, há 90% de previsão para chuvas. Com volumes de água em torno de 20mm a 25mm (na 4ª-feira passada choveu 33mm). Pra completar, neste domingão com céu enfarruscado o vento vai zunir em nossas orelhas a 31 km por hora.
7 comentários:
O CARA E SUA ATITUDE DIZ TUDO ELE É REALMENTE UM FAFARRAO... NAO SE IMPORTA COM TS...
Sr. Cabalidade ...
Sr. David da Silva, há um tempo vi aqui em seu fabuloso blog matéria sobre a Sandra Pereira nesse espaço da imprensa. E, de repente as matérias sobre a jornalista não se encontra mais. O que aconteceu, o sr mudou seu ponto de vista a respeito da mesma?
Anônimo do comentário de 02.abr.2012, às 18:04 - As citações à jornalista continuam nos mesmos lugares onde foram publicadas neste blog. Assim como nossa avaliação sobre seu trabalho profissional igualmente se mantém.
É, mas acontece que não está mais lá não. A referida matéria fora publicada no espaço Waldemar Gonçalves e tinha inclusive uma foto da moça. Desapareceu!
Ah... agora entendi, seu comment capcioso... "Aquele" conceito foi atualizado... ah ah ah... Sei bem quem és, comentarista...
Entendo. Metamorfose ambulante. Tá bom.
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