Hoje 16 de fevereiro “dia do repórter”, me lembra um depoimento do cantor e compositor Tom Zé para o poeta e antropólogo Antonio Risério.
Tom Zé jornalista
Eu tinha sido jornalista em 1959. Como eu lhe disse, naquele tempo, as pessoas já saíam da escola primária, do ginásio, sabendo escrever. E o sujeito era escolhido para ser jornalista porque tomava uma cerveja, fazia uma música, uma bobagem qualquer e era chamado. Então, Humberto Vieira, que era do Jornal da Bahia, um pouco mais velho que eu, me chamou. 'Rapaz, mas eu posso?' - perguntei. E ele: 'pode'. Não existia faculdade de jornalismo. Aliás, quando começou a ter, eu pensei assim: puxa vida, universidade de jornalismo? Curso de compositor? Para mim, no mundo em que eu tinha sido criado, a pessoa se dirigia a isso por paixão e acabava ganhando esse 'status' de outra maneira. Não era com diploma. Imagine... um diploma de poeta? Como era o diploma de compositor? Aí, eu falei assim: qualquer hora, vão inventar uma escola de santo. Vai ter diploma de santo."
Humberto Vieira me disse: 'A partir de segunda-feira, você vai ser jornalista, vai ser repórter. Você começa a trabalhar às duas da tarde. Então, chegue meia hora antes para eu lhe explicar como é". Veja que coisa fantástica... em meia hora, ele fez a minha universidade de jornalismo. Era uma coisa muito simples: 'você escreve dois parágrafos de cinco ou seis linhas mais ou menos, dizendo o quê, como, onde, quando... depois você passa pelas partes mais importantes da matéria, deixando o menos importante para o fim, de modo que o redator-chefe, na hora de montar a página, não vai ter trabalho para cortar'. Eu cheguei lá na hora marcada. A uma hora e cinqüenta e nove minutos da tarde, estava formado em jornalismo. E saí para cobrir o Departamento de Viação e Obras Públicas.
Tempos depois, no Seminário de Música, eu ouvia as pessoas falando que a escola precisava de matérias na imprensa. Então, eu procurei Ernst Widmer, que já era o diretor da escola, e falei: de quinze em quinze dias, vem um regente de fora reger a escola; me arranje aí um alemão com uma máquina fotográfica - ele tira meia dúzia de retratos, me dá as cópias e eu escrevo a matéria já da maneira que o jornal publica. Foi um sucesso. O Seminário de Música passou a ser notícia de jornal duas vezes por mês. E eu fiquei com fama de abridor de portas, um verdadeiro Chateaubriand da escola. E aí passei a ganhar 200 cruzeiros por mês, bicho! Era dinheiro. Eu estava na Bahia, rico! Imagine que, nesse tempo, eu era o único estudante que comia no Restaurante Universitário que era proprietário de um fusca. Era um negócio inaudito. Todo mundo me consultava, eu dava penada em tudo, era o car(*)lho, era a p(*)rra toda.
2 comentários:
O melhor repórter que eu conheço é vc.
Que "melhor repórter" que nada... Vc diz isso pela generosidade do seu coração amoroso.
Como diz a poeta: "Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres" (Cora Coralina).
Mesmo assim, obrigado pelo carinho do comentário. Beijo!
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