Foto: Fábio Braga |
O ato público está sendo convocado por meio do facebook.
A receita de misturar bar com poesia na zona sul paulistana surgiu em
1999. O “mestre-cuca” deste cardápio literário foi o poeta Robson Padial, o
Binho, nascido em 1964 em Taboão da Serra. Em 2004 o boteco cultural mudou de endereço,
mas sempre nas cercanias do Largo do Campo Limpo. Não à toa um dos poemas mais
famosos de Binho se intitula “Campo Limpo Taboão”.
Foto: Fábio Braga |
Engrenagens invisíveis
Nestes últimos oito anos Binho vive uma saga suburbana digna do personagem
Josef K., do angustiante romance O
Processo, de Franz Kafka. A subprefeitura do Campo Limpo lhe nega
sistematicamente há quase uma década a licença de funcionamento. “Cada hora que
levo uma documentação exigida, eles dizem que está faltando outra coisa”,
desabafa o poeta dono do bar instalado em imóvel alugado.
A Secretaria de Coordenação das Subprefeituras mente descaradamente ao
afirmar, em nota oficial, que o misto de botequim com ponto cultural foi
fechado porque “pela Lei de Zoneamento, a região da rua Doutor Avelino Lemos
Júnior - onde está localizado o comércio - é residencial.” Porém esta mesma via
tem outros estabelecimentos comerciais funcionando sem restrições.
Afeitos a transitar entre a ficção e a realidade, artistas
frequentadores do Sarau do Binho
acreditam que o fechamento do bar obedece a uma lógica perversa das engrenagens
invisíveis do poder.
Casa de marimbondo
O fechamento do sarau despertou a solidariedade e a ira imediata de
artistas e jornalistas como Marcelino Freire, Sérgio Vaz e Marcelo Tas, que
enxerga na geografia poética (Campo Limpo Taboão) criada por Binho “um oásis no
deserto de cultura e espaços públicos que é a Zona Sul [de São Paulo]”.
Robson Padial, o Binho - Foto: Kenny Rogers |
"A gente nem esperava essa repercussão, serviu como termômetro da
força dessa cultura da periferia. O bar virou um ponto onde as pessoas se
encontravam para fazer cultura. Temos selos de reconhecimento do Ministério
Cultura, talvez eles não soubessem a dimensão do sarau. Agora estamos pensando
em fazer um sarau itinerante. Por enquanto vamos tentar passar por outros
pontos que já existem na periferia para fortalecer o trabalho deles
também", afirmou Suzi de Aguiar Soares, mulher de Binho, à Folha de São Paulo.
Usina de ideias
Dois anos antes de fazer a literatura dançar entre as mesas do bar,
Binho levava a poesia para passear pelas ruas do bairro Campo Limpo. Em 1997
decidiu tirar dos postes as propagandas políticas, repintá-las com poemas, e
devolvê-las aos postes e ao povo em forma de arte. Era a Postesia, que se tornou no primeiro livro de Binho em 1999, mesmo
ano em que levantou suas portas de aço para os versos escritos e os sons de
todas as culturas musicais.
Em 2007 idealizou uma caminhada multi-artística pela América Latina,
que botou o pé na estrada no revéillon
daquele mesmo ano sob a bandeira de Expedición
Donde Miras - aqui e aqui.
Não satisfeito com estas ideias tão “comuns”, Binho também promoveu
o casamento do cabide de roupas com a prateleira de livros (Brechoteca) e
provou que para disseminar o gosto pela leitura é necessário equilíbrio
(Bicicloteca) - aqui.
Ato público em defesa do Sarau do Binho
13 de junho de 2012 – Ao meio-dia
Viaduto do Chá, nº 15 (Prefeitura de São Paulo)
Petição on-line pela reabertura do Bar do Binho – assine
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