quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sarau do Binho terá “trincheira poética” diante da prefeitura de SP

Foto: Fábio Braga
Ao invés da tradicional feijoada das quartas-feiras, o próximo dia 13 de junho terá a poesia como prato principal. Um grupo de artistas está articulando uma manifestação temperada com engenho e arte em plena hora do almoço frente à Prefeitura de São Paulo, em defesa do Sarau do Binho. O bar (à direita) onde acontecia o sarau foi fechado pela subprefeitura do Campo Limpo no último dia 28 de maio.
O ato público está sendo convocado por meio do facebook.
A receita de misturar bar com poesia na zona sul paulistana surgiu em 1999. O “mestre-cuca” deste cardápio literário foi o poeta Robson Padial, o Binho, nascido em 1964 em Taboão da Serra. Em 2004 o boteco cultural mudou de endereço, mas sempre nas cercanias do Largo do Campo Limpo. Não à toa um dos poemas mais famosos de Binho se intitula “Campo Limpo Taboão”.

Foto: Fábio Braga
Engrenagens invisíveis
Nestes últimos oito anos Binho vive uma saga suburbana digna do personagem Josef K., do angustiante romance O Processo, de Franz Kafka. A subprefeitura do Campo Limpo lhe nega sistematicamente há quase uma década a licença de funcionamento. “Cada hora que levo uma documentação exigida, eles dizem que está faltando outra coisa”, desabafa o poeta dono do bar instalado em imóvel alugado.
A Secretaria de Coordenação das Subprefeituras mente descaradamente ao afirmar, em nota oficial, que o misto de botequim com ponto cultural foi fechado porque “pela Lei de Zoneamento, a região da rua Doutor Avelino Lemos Júnior - onde está localizado o comércio - é residencial.” Porém esta mesma via tem outros estabelecimentos comerciais funcionando sem restrições.
Afeitos a transitar entre a ficção e a realidade, artistas frequentadores do Sarau do Binho acreditam que o fechamento do bar obedece a uma lógica perversa das engrenagens invisíveis do poder.

Casa de marimbondo
O fechamento do sarau despertou a solidariedade e a ira imediata de artistas e jornalistas como Marcelino Freire, Sérgio Vaz e Marcelo Tas, que enxerga na geografia poética (Campo Limpo Taboão) criada por Binho “um oásis no deserto de cultura e espaços públicos que é a Zona Sul [de São Paulo]”.
Robson Padial, o Binho - Foto: Kenny Rogers
"A gente nem esperava essa repercussão, serviu como termômetro da força dessa cultura da periferia. O bar virou um ponto onde as pessoas se encontravam para fazer cultura. Temos selos de reconhecimento do Ministério Cultura, talvez eles não soubessem a dimensão do sarau. Agora estamos pensando em fazer um sarau itinerante. Por enquanto vamos tentar passar por outros pontos que já existem na periferia para fortalecer o trabalho deles também", afirmou Suzi de Aguiar Soares, mulher de Binho, à Folha de São Paulo.

Usina de ideias
Dois anos antes de fazer a literatura dançar entre as mesas do bar, Binho levava a poesia para passear pelas ruas do bairro Campo Limpo. Em 1997 decidiu tirar dos postes as propagandas políticas, repintá-las com poemas, e devolvê-las aos postes e ao povo em forma de arte. Era a Postesia, que se tornou no primeiro livro de Binho em 1999, mesmo ano em que levantou suas portas de aço para os versos escritos e os sons de todas as culturas musicais.
Em 2007 idealizou uma caminhada multi-artística pela América Latina, que botou o pé na estrada no revéillon daquele mesmo ano sob a bandeira de Expedición Donde Miras - aqui e aqui.
Não satisfeito com estas ideias tão “comuns”, Binho também promoveu o casamento do cabide de roupas com a prateleira de livros (Brechoteca) e provou que para disseminar o gosto pela leitura é necessário equilíbrio (Bicicloteca) - aqui.


Ato público em defesa do Sarau do Binho
13 de junho de 2012 – Ao meio-dia
Viaduto do Chá, nº 15 (Prefeitura de São Paulo)

Petição on-line pela reabertura do Bar do Binhoassine

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