quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Tinha uma loira no meio da República

Não foram os políticos ávidos pela democracia, nem os militares insatisfeitos, muito menos os fazendeiros emputecidos com a Abolição dos Escravos que derrubaram a Monarquia no Brasil.
Foi uma loira.
Rua da cidade do Rio de Janeiro em 1890
A monarquia poderia ter sido extinta em qualquer outra data, pelo conjunto de fatores históricos citados acima. Mas naquele exato 15 de novembro de 1889 foi uma linda loura a “bala de prata” dos republicanos.
Eles tentavam desde 1870 emplacar sua propaganda para mudar o regime político brasileiro. Sem sucesso. E as coisas estavam piorando. Em 1884 o Partido Republicano elegeu só três de seus membros na Câmara dos Deputados. Na eleição seguinte, só um. Em agosto de 1889, outro vexame: dois deputados.
Cansados de levar surras sucessivas nos votos, os republicanos passaram a assediar o velho e bom marechal Manuel Deodoro da Fonseca. Queriam que ele chefiasse um golpe militar para proclamar a República. Mas o homem era amigo pessoal de Dom Pedro II. Lhe devia favores. “Quero ainda acompanhar o caixão do nosso Imperador”, dizia o militar nascido em Alagoas, e dono do maior prestígio nas Forças Armadas da época.

Rede de intrigas
Sem êxito em convencer o marechal alagoano a derrubar a realeza pelas armas, o tenente-coronel Benjamin Constant, líder dos republicanos, começou a tecer sua rede de boatos.
Na tarde de uma 5ª-feira, 14.nov.1889, os republicanos armaram uma cilada para Deodoro: “O senhor vai ser preso por ordem do ministro Ouro Preto”, mentiram. O veterano marechal engoliu a isca.
Estava de cama, com gripe forte e crise de dispneia. Mas fez o esforço de levantar-se com pés inchados e dor por todo o corpo na madrugada de 14 para 15 de novembro, e de dentro do Quartel-General do Exército decretou a demissão do ministro que supostamente queria prendê-lo.
Satisfeito com o feito, e para decepção dos republicanos aturdidos, Deodoro gritou para a tropa unida à frente do quartel: "Viva Sua Majestade, o Imperador!”
Que proclamação da República que nada...

A loira fatal
No auge do desespero, os republicanos tentaram a última cartada. Mandaram o major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro enganar Deodoro com a notícia inverídica que o substituto do ministro Ouro Preto seria o senador gaúcho Gaspar Silveira Martins – na verdade, quem ia ficar no lugar de Ouro Preto seria o conselheiro José Antônio Saraiva, diplomata de renome que já tinha ocupado o cargo por três vezes.
Pela segunda vez no mesmo dia, o marechal enfêrmo caiu em mais uma arapuca.
Rixa amorosa com o ex-rival Gaspar (foto acima) 
levou Deodoro a proclamar a República
Gaspar Silveira Martins era seu conhecido desde quando Deodoro foi Comandante de Armas na Província do Rio Grande do Sul.
Ao ouvir o nome do falso substituto de ministro, o marechal se ouriçou: “Esse aí, não!”.
E deu a ordem definitiva para seus oficiais dizerem a Dom Pedro II que o Brasil passava a ser uma República.
A antiga consideração pelo Imperador fez com que Deodoro permitisse ao velho e adoentado monarca embarcar com sua corte para Portugal sem a humilhação da expulsão. Subiram no navio às 2h da madrugada escura, sob um chuvisco impertinente. Na prática, os republicanos tinham medo que a população mais pobre se revoltasse, e tentasse impedir a saída da Família Real – principalmente a Princesa Isabel - a quem atribuíam grandes gestos de caridade.

Se políticos e fazendeiros da elite não tinham conseguido seduzir o marechal para a doutrina republicana, uma antiga rixa amorosa foi a gota d’água para a queda do Império Brasileiro.
Naquela temporada no Sul, o gaúcho Gaspar havia vencido o militar alagoano na disputa pelo coração da esplendorosa Baronesa do Triunfo.

Solar dos Câmara, no centro de Porto Alegre onde Deodoro e Gaspar 
disputavam a bela baronesa do Triunfo - Fotos: Reproduções
Linda, rica e desimpedida
Deodoro não era apenas líder militar de imensa fama. Também fazia sucesso entre a mulherada. Elegante, sempre com a barba perfumada, era excelente dançarino, e escrevia versinhos carinhosos nos leques das mocinhas.
Era imbatível contador de piadas, e mestre nas citações em latim – declamava trechos inteiros de A Arte de Amar, de Ovídio.
Mas fracassou no combate para conquistar os favores amorosos da loiraça gaúcha Ana Carolina Fonseca Jacques, baronesa do Triunfo. Bonitona, rica, viúva de um brigadeiro.
Marechal Deodoro e Gaspar Silveira Martins, brilhante advogado, duelavam galanteios na paquera da suculenta baronesinha nos saraus e bailes do Solar dos Câmara.
Mas um dia Gaspar foi andar a cavalo na fazenda da mulher cobiçada, caiu, quebrou a perna. Quem ia todos os dias à sua cama cuidar dos ferimentos e de outras partes físicas era a baronesa...
Deodoro remoeu a derrota por décadas. A sede de vingança não deixou o amante frustrado perceber que era mentira a nomeação do ex-rival para o cargo de ministro. Traiu a longa amizade com o velho amigo Imperador, e proclamou a República, para bloquear o caminho do poder a quem lhe havia roubado o coração da gaúcha.

Namorador incorrigível, no período da proclamação Deodoro, aos 62 anos, andava de olho comprido para cima de uma jovem senhora de 20 aninhos, viúva de rico fazendeiro uruguaio.

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