quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Dentro do vestido vermelho ela era pura emoção

Foto: David da Silva
O recital de formatura de Roberta Regina atraiu uma multidinha ao estúdio da Escola Superior de Música da Faculdade Cantareira, no último dia 18 de fevereiro. As cadeiras transbordavam gente pelo chão. Muitas pessoas tiveram de assistir à apresentação do outro lado do vidro, no “aquário” onde reina o engenheiro de som Ricardo Marui. “Não imaginava que iria lotar tanto”, admirava-se a moça. “Isto aqui nunca esteve assim tão cheio”, concordava o maestro Edison Ferreira, coordenador da faculdade, e primeiro professor de Roberta.
Coroando uma fase iniciada em 2008 na Associação Músicos do Futuro (AMF), Roberta Regina compartilhou com parentes e amigos a emoção de estar bacharelada em música com habilitação em violoncelo.
Uma semana depois, neste 25 de fevereiro a jovem musicista festejou seus 23 anos de vida.
Nascida em Taboão da Serra, Roberta Regina iniciou em 2008 na Associação Músicos do Futuro. Em 2010 foi contemplada com uma bolsa de estudos integral na Faculdade Cantareira.  Integra a Orquestra Sinfônica Jovem de Guarulhos (SP) e é professora no convênio entre a AMF e a Prefeitura de Taboão da Serra.

Pronta pro brilho
Roberta Regina nasceu para ser artista. A visão da boca generosa. Os cachos despencam em cataratas ao redor do rosto. Ela é plena harmonia abraçada ao seu cello.
No repertório do recital, peças desafiantes. Como se sua silhueta nos avisasse: “Debaixo dos caracóis destes cabelos habita uma alma determinada”.
A récita de Roberta abriu com uma das seis suítes que Johann Sebastian Bach compôs para o violoncelo. E fechou com um trio (cello, piano e violino) que Bethoveen compôs aos 24 anos. O próprio Haydn, então mestre de Beethoven, desaconselhou o discípulo a publicar este trio por achá-lo de difícil execução.
Com o nervosismo emotivo se insinuando a cada linha das partituras, Roberta Regina deixou claro que desafio é seu sobrenome de solteira.

Dos mestres, com carinho
Maestro Edison e dra. Ji Yon
Na abertura do recital de Roberta Regina, o maestro Edison Ferreira falou do significado daquele momento na sua existência e na da menina que ele viu crescer para a vida e para a música:
“Considero a Roberta como fosse minha filha. Ela faz parte de um projeto de vida. Ela foi um dos presentes que aconteceram na Associação [Músicos do Futuro]. A Rô é toda especial. Um ser humano muito amado. Muita querida por todos. Nos 365 dias do ano não a vejo um só dia triste. Sempre cumprimentando todo mundo, abraçando, beijando.  Essa alegria não só contagia todos nós, como mostra pra gente o quanto uma pessoa determinada é capaz de produzir tão rapidamente. A Roberta tem pouco tempo de violoncelo. Certo dia chamei a [professora] Ji Yon Shim e perguntei a ela se não gostaria de ajudar uma aluna nossa de violoncelo. E assim foi. A Roberta traçou de uma forma muito inteligente e com muita objetividade todo o trabalho de estudo dela. Em todos os momentos percebemos todo o crescimento da Roberta, não só como instrumentista, mas também como ser humano. Ela tem uma carreira muito bonita pela frente, pela maneira como enxerga o mundo, e todo o potencial que vem desenvolvendo.  Algumas pessoas já nascem para tocar um determinado instrumento. Outras se fazem instrumentista no aprendizado. E a Roberta mostrou esta perseverança. Isto vai fazer dela uma grande violoncelista. É uma pessoa muito especial para nós lá na Associação, como professora e como ex-aluna.”
Foto: David da Silva
A professora Ji Yon Shim:
"E muito fácil falar da Roberta, pois ela tem tantas qualidades... Ela também foi um presente para mim. Eu aprendi a ver isto. Com muito otimismo e perseverança ela me mostrou do que era capaz. Em um ou dois anos de estudo no violoncelo ela cresceu muito. Não porque ela tenha nascido [prodígio] feito um Mozart. Mas ela me ensinou com muito otimismo que a gente consegue muita coisa. Cada ano de aprendizado era como um milagre. Ela fazia progressos que eram uma lição de vida pra mim. Com isto ela chegou onde está agora. Superou tantas dificuldades. Gastava 3 horas pra vir para a faculdade, mais 3 horas para voltar para casa, enfrentando trens, ônibus. E eu nunca a vi reclamando de nada. Chegava com olheiras, é claro (risos). Mas sempre com alegria.”
Foto: Maíra Bedin
Coreana radicada no Brasil, a mestra de violoncelo de Roberta Regina é Doutora e Mestre em Música pela University of Illinois (EUA).
Recebeu o prêmio máximo Virtuosité pelo Conservatoire Supérieur de Genève (Suíça). Foi solista de orquestras como OSESP, Orquestra Sinfônica da USP, Orquestra Sinfônica de Campinas, dentre outras. No período de 1992-1996 fez vários recitais na Suíça, França e Alemanha.

Rodeada de carinho
Alvo de tanta ternura por parte de seus mestres, familiares e amigos, Roberta Regina também não economiza carinho. Postou no Facebook o agradecimento a um colega de faculdade, que pode ser perfeitamente socializado com todos os corações que vibraram feito as cordas de seu violoncelo naquela noite mágica:
“Muito obrigada por ter compartilhado hoje comigo algo tão importante!
Hoje foi um ciclo que se encerrou, porém o início de um árduo novo caminho.
Poder dividir isso com pessoas tão queridas e especiais não tem preço.
Não foi perfeito no aspecto técnico porque não sou nenhuma virtuose (e cá entre nós meu nervosismo não me ajudou em nada hahaha).
Mas pra mim foi perfeito porque pude compartilhar esse momento muito especial ao lado de pessoas que eu gosto e sei que querem o meu bem”.
Roberta Regina e maestro Edison - Foto: David da Silva

Nenhum comentário: