Foto: David Drew Zingg |
A foto
ao lado foi enviada para mim pela cantora Jussanam Dejah. Brasileira
naturalizada cidadã da Islândia e hoje morando no sul da França, ela me disse
na dedicatória:
“Vi essa foto hoje no Facebook de um músico amigo, e não pude deixar de te enviar. Parece até pintura, parece até irreal. Fantástica!”
Juntar
numa única imagem cinco gênios da música popular brasileira, parece mesmo coisa
só possível na imaginação de algum pintor inspirado.
E lá fui
eu, enfeitiçado por essa fotografia, pesquisar quem a tinha feito. E que
conjunção de astros havia propiciado o encontro destes nomes de grandeza
estelar da cultura musical brasileira.
O autor
da proeza foi o fotógrafo e jornalista David Drew Zingg. Capturou com sua
câmera esse momento mágico para a extinta revista Realidade, em 1967.
Fico
feliz quando uma pessoa vê ou ouve algo relacionado ao violonista Baden Powell,
e se lembra de mim. Sou, sim, devoto divulgador deste maior violonista do mundo
em todos os tempos.
A
contemplação dessa fotografia desafia em mim os conceitos de Roland Barthes
sobre studium e punctum. Aos meus olhos, tudo são detalhes que pulam pra fora da
foto, e arrombam a retina de quem vê.
Nada
nela me fica no plano impessoal como studium.
A carga cultural e política dessa foto me toca, me estimula e emociona, como se
fora um quinteto de punctuns.
Mas
Barthes já nos avisava que não é a gente quem escolhe o punctum. É ele que nos fisga a retina. Contrariando a expectativa de
que o Baden em primeiro plano me sequestraria a visão, foi uma cadeira que me
roubou o olhar.
Auto-retrato: David Drew Zingg |
O imperador popular e a elite
O “velho”
David Zingg (ou “Tio Dave”, como ele assinava sua coluna na Folha de São Paulo entre 1987 e 2000)
nasceu nos EUA, mas mudou-se para o Brasil aos 41 anos, e aqui ficou até sua
morte, aos 76 anos. Foi um apaixonado pela música brasileira. E particularmente
por Pixinguinha.
Sobre o
compositor de Carinhoso, Tio Dave
dizia: “[Pixinguinha era] um imperador grande demais, profundamente carinhoso,
do melhor que a vida tem a oferecer”.
Daí que
o punctum da foto é a cadeira de espaldar
alto, da qual Pixinguinha reina sobre a imagem, escoltado pelo seu copo de
wiskhy.
Ao
tradicional chorinho brasileiro, Pixinguinha misturou novas influências vindas
da África. E abriu caminho para várias gerações erguerem uma nova MPB.
Com
elevada sabedoria artística e agudo senso histórico, o fotógrafo Tio Dave
dispôs os músicos em sentido horário. O grande ciclo musical iniciado por
Pixinguinha no início do século passado se fechava com o então jovem Baden
Powell, que tinha acabado de gravar seus Afro Sambas naquele mesmo ano de 1966.
Na época da foto, Pixinguinha tinha 69 anos; Dorival Caimmy, 52 anos; Vinícius
de Moraes, 53; Tom Jobim (na capa do disco), 39, e Baden, 29.
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