sexta-feira, 21 de março de 2014

O recado do velho David na foto do Baden com outros imortais

Foto: David Drew Zingg
A foto ao lado foi enviada para mim pela cantora Jussanam Dejah. Brasileira naturalizada cidadã da Islândia e hoje morando no sul da França, ela me disse na dedicatória:
 “Vi essa foto hoje no Facebook de um músico amigo, e não pude deixar de te enviar. Parece até pintura, parece até irreal. Fantástica!”
Juntar numa única imagem cinco gênios da música popular brasileira, parece mesmo coisa só possível na imaginação de algum pintor inspirado.
E lá fui eu, enfeitiçado por essa fotografia, pesquisar quem a tinha feito. E que conjunção de astros havia propiciado o encontro destes nomes de grandeza estelar da cultura musical brasileira.
O autor da proeza foi o fotógrafo e jornalista David Drew Zingg. Capturou com sua câmera esse momento mágico para a extinta revista Realidade, em 1967.
Fico feliz quando uma pessoa vê ou ouve algo relacionado ao violonista Baden Powell, e se lembra de mim. Sou, sim, devoto divulgador deste maior violonista do mundo em todos os tempos.
A contemplação dessa fotografia desafia em mim os conceitos de Roland Barthes sobre studium e punctum. Aos meus olhos, tudo são detalhes que pulam pra fora da foto, e arrombam a retina de quem vê.
Nada nela me fica no plano impessoal como studium. A carga cultural e política dessa foto me toca, me estimula e emociona, como se fora um quinteto de punctuns.
Mas Barthes já nos avisava que não é a gente quem escolhe o punctum. É ele que nos fisga a retina. Contrariando a expectativa de que o Baden em primeiro plano me sequestraria a visão, foi uma cadeira que me roubou o olhar.

Auto-retrato: David Drew Zingg
O imperador popular e a elite
O “velho” David Zingg (ou “Tio Dave”, como ele assinava sua coluna na Folha de São Paulo entre 1987 e 2000) nasceu nos EUA, mas mudou-se para o Brasil aos 41 anos, e aqui ficou até sua morte, aos 76 anos. Foi um apaixonado pela música brasileira. E particularmente por Pixinguinha.
Sobre o compositor de Carinhoso, Tio Dave dizia: “[Pixinguinha era] um imperador grande demais, profundamente carinhoso, do melhor que a vida tem a oferecer”.
Daí que o punctum da foto é a cadeira de espaldar alto, da qual Pixinguinha reina sobre a imagem, escoltado pelo seu copo de wiskhy.
Ao tradicional chorinho brasileiro, Pixinguinha misturou novas influências vindas da África. E abriu caminho para várias gerações erguerem uma nova MPB.
Com elevada sabedoria artística e agudo senso histórico, o fotógrafo Tio Dave dispôs os músicos em sentido horário. O grande ciclo musical iniciado por Pixinguinha no início do século passado se fechava com o então jovem Baden Powell, que tinha acabado de gravar seus Afro Sambas naquele mesmo ano de 1966. Na época da foto, Pixinguinha tinha 69 anos; Dorival Caimmy, 52 anos; Vinícius de Moraes, 53; Tom Jobim (na capa do disco), 39, e Baden, 29.

Nenhum comentário: