Gabriel García Márques (06.mar.1927 - 17.abr.2014) |
Primeiro livro que li do Gabriel García Márques foi La Mala Hora. Tinha eu 14 anos de idade
(como diria Paulinho da Viola). O último dele que li foi Memória de Minhas Putas Tristes. E nem poderia ser diferente, pois
foi também a última ficção do Gabo (assim os amigos chamavam o escritor colombiano).
Foi por causa de uma entrevista que o Glauber Rocha fez
com o Gabo para o Pasquim, que fui atrás daquele livro. Era o ano de 1971, no
meu primeiro emprego. Comprei La Mala
Hora numa livraria lá no topo da Rua Theodoro Sampaio. Dois dias depois lá
fui eu de novo, e trouxe El Coronel no tiene
quien le escriba.
Pronto. Fiquei definitivamente capturado pela atmosfera
de tensão e magia de Macondo, povoado imaginário que Gabo criou inspirado na
sua cidade natal. Macondo aparece em vários de seus livros. A Biblioteca Mário
de Andrade (onde eu passava sábados e domingos inteiros) se transformava em
Macondo todos os finais de semana.
Quando Gabo ganhou o Nobel de 1982, me diverti muito com
um artigo que ele escreveu sobre suas inquietações a caminho da Suécia. “E se
este prêmio em dinheiro for simbólico? E se me chamarem numa sala secreta e
disserem que tudo isto é apenas para estimular o gosto pela leitura?”.
Não. Não li ainda Cem
Anos de Solidão. Por que? Sei lá. Do mesmo jeito que inda não li Jogo de Amarelinha, do argentino Cortázar, nem do peruano Vargas Llosa o colossal Conversación en La Catedral (na minha opinião com o título erroneamente traduzido para o português como Conversa na Catedral). Mas
os livros estão lá sossegadinhos na minha estante. Com a calma linda das obras
imortais. Antes d’eu partir devo lê-los.
Por falar em partida, a trama de Memória de Minhas Putas Tristes me fez corar de vergonha de, a esta
idade, ainda não ter lido os contistas japoneses. Sei bosta nenhuma de literatura
japonesa. Antes que chegue também a
minha hora, preciso quitar minha dívida asiática de leitura.
Por falar novamente em partida, não me entristeceu a
notícia da morte do Gabo.
Triste fiquei foi em 2012. Num triste dia 7 de julho. Quando
Jaime, irmão do escritor, revelou ao mundo que Gabo havia mergulhado numa
demência sem volta. Que nunca jamais em tempo algum voltaria a escrever.
Gabo na sua última aparição pública, em 09.jan.2013 |
Faz dois anos já que meu coração sepultou todas as
esperanças de um dia ler algo inédito do Gabo.
Amei ver uma foto dele ano passado, dedo em riste mandando
o fotógrafo “praquele lugar”, numa irreverência anciã tipo Einstein mostrando a
língua. Aquela demência divina que só aos sábios é dado ter.
O corpo que Gabo usou
para nos legar escritos sublimes agora vai-se desfazer. A literatura universal
vive hoje a sua sexta-feira da paixão.
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