Lama atingiu 3m de altura. Foto: Arquivo |
David da
Silva
Cheguei
à cidade de Barra
Longa, em Minas Gerais, 32 horas depois de ter saído de Taboão
da Serra (SP). Não há ônibus direto de São Paulo para lá. Vai-se primeiro a
Ponte Nova (12 horas de percurso) de onde sai um ônibus para Acaiaca, e em
seguida outro, para o destino final. Tive de ficar uma noite inteira e metade
de um dia em Ponte Nova à espera do coletivo para concluir a viagem.
As 12
horas que demorei no trajeto de SP a Ponte Nova, foi o mesmo tempo que a lama
da mineradora Samarco levou para ir da barragem que estourou até Barra Longa.
Com a diferença que alguém sabia que eu estava indo. Já a lama chegou a Barra
Longa sem a Samarco avisar ninguém naquela cidade.
Permaneci
cinco dias em Barra Longa, da 3ª-feira 17 de outubro até o sábado seguinte.
Dois anos depois de ser atingida pelo lamaçal que escapou da barragem de Fundão
em 2015, a tragédia ainda é visível na localidade. Barra Longa foi a única
cidade com seu centro urbano atingido pelos detritos da Samarco Mineração S/A.
Foi o maior desastre ambiental da história do Brasil, e a maior desgraça da
mineração mundial nos últimos 100 anos.
No caule das árvores o cal branco tenta esconder a altura que a lama alcançou. Foto: David da Silva - 17.out.2017 |
Foto: Arquivo - Novembro de 2015 |
Daqui a
11 dias vai completar 24 meses que o centro de Barra Longa foi coberto por uma
lameira que em certas partes do município chegou a oito metros de altura. Ainda
há casas para reformar ou reconstruir devido ao abalo que sofreram pela força
da lama. Dos 62 bilhões de m³ de lama vazados, uma quantidade incalculável
deste material percorreu os 60 km que separam Barra Longa da barragem de
Fundão. No caminho da destruição, a lama com rejeitos de minério dizimou
propriedades agrícolas, engoliu casas, matou pessoas e causou dano aos rios e à
floresta.
A praça
central de Barra Longa foi devastada por mais de meio milhão de metros cúbicos de
lama com rejeitos de minério. Grande parte desta lamaceira tóxica foi criminosamente
removida da região da cidade onde moram famílias de melhor poder aquisitivo,
para a comunidade Volta da Capela, de moradores de baixa renda.
Na
comunidade de Gesteira Velho, distrito a 15 km do centro de Barra Longa,
nenhuma das famílias foi indenizada até hoje pela perda de suas casas, de seus
gados e plantações. A reconstrução da capela local, que é patrimônio cultural nacional, está com as obras paralisadas. As crianças foram transferidas para uma escola feita com paredes de PVC (plástico!).
Força da lama carregou o teto da escola em Gesteira Velho. A laje não foi encontrada. Na parede da capela, a marca da altura da lama. Foto: David da Silva - 20.out.2017 |
Lama impregnada no caule mostra a altura que a torrente de rejeitos atingiu a zona rual de Barra Longa, às margens do Rio Gualaxo. Foto: David da Silva - 20.out.2017 |
A
violência urbana em Barra Longa também cresceu. No próximo 20 de novembro a
agência do Banco do Brasil vai embora da cidade depois de sofrer três assaltos,
dois deles no primeiro semestre de 2017. A agência do Correios, também
assaltada em julho deste ano, promete seguir o mesmo caminho.
2 comentários:
Grato e parabéns pelo trabalho.
Estou lendo com atraso a todas as matérias. Dá uma tristeza danada. Estivemos nesta região há alguns anos, porque meu tio mora em Ponte Nova, e fico pensando em como tudo mudou por lá.
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