quarta-feira, 6 de março de 2019

Tula Pilar tem sua história preservada em arquivo mundial no Polo Norte

Biografia da poetisa está conservada em um cofre no fundo de uma montanha gelada no Círculo Polar Ártico

David da Silva

Agora a poetisa Tula Pilar tem dois endereços. O primeiro, é a residência dela aqui em Taboão da Serra. O segundo, é o arquipélago de Svalbard, no Mar da Noruega, onde desde o último dia 21 de fevereiro a sua história de vida está depositada em um cofre à prova de desastres, a mais de 100 metros de profundidade, em uma extinta mina de carvão.
Svalbard é a última cidade do planeta para quem navega em direção ao Polo Norte. Passou dali, são só geleiras. É a região do imperecível permafrost – o gelo que nunca derrete. A biografia de Tula Pilar foi parar lá pela parceria do Arquivo Mundial do Ártico com o Museu da Pessoa, que transferiu para aquela instituição 100 horas de gravações da sua coleção “Memórias de Brasileiros e Brasileiras”.
O Museu da Pessoa no Brasil tem mais de 20 mil histórias de vidas gravadas. Mas, para integrar o acervo do arquivo global precisou selecionar os relatos de apenas 300 pessoas. Tula Pilar foi uma das escolhidas.
O Arquivo Mundial do Ártico foi fundado em março de 2017 graças à associação da PIQL, empresa de ponta em preservação de arquivos, e a mineradora Store Norske Spitsbergen Kulkompani, empresa estatal pertencente ao Governo da Noruega.
Os relatos pessoais estão armazenados em uma região a salvo de terremotos e bombardeios em caso de guerra. Nem mesmo os hackers conseguirão profanar este depósito de dados, pois o local não está conectado à internet. As informações ali estocadas podem durar por mais de 500 anos.

No cocuruto do planeta

Na seta vermelha, a ilha onde está o Arquivo Mundial do Ártico

A “casa” onde as memórias da Pilar estão “morando” foi descoberta pelos vikings em 1194.
O arquipélago Svalbard está a 560 km da costa da Noruega e a 1.300 km do coração do Polo Norte.
Em 1899 foram descobertas grandes jazidas de carvão na ilha. O americano que explorava essa riqueza mineral, e levou as primeiras pessoas a morar lá, foi à falência em 1916, devido à Primeira Guerra Mundial. O governo norueguês comprou o negócio, e até hoje é dono de tudo por lá.
A biografia de Tula Pilar está acondicionada em uma instalação vizinha ao Silo Global de Sementes, que guarda quatro milhões e meio de espécies de sementes de quase todas as espécies vegetais do planeta.


Na foto abaixo, a porta da mina nº 3, aberta em 1984 e desativada quando a extração do carvão terminou. O local foi recondicionado para receber os arquivos de documentos, obras de arte e depoimentos humanos.
A mina nº 3 restaurada virou o Arquivo Mundial do Ártico


Pilar e o urso polar

Segundo o Gabinete Central de Estatísticas da Noruega hoje Svalbard tem 2.310 habitantes, sendo 1.239 homens e 1.071 mulheres.
Na região daquele arquipélago vivem 975 ursos polares, disse o relatório de pesquisadores noruegueses em dezembro de 2015. Isso dá uma média de um urso para cada três moradores da ilha.
Até placas de trânsito alertam para a presença de ursos em toda parte de Svalbard. Exemplo da eficácia do alerta é o ocorrido em 3 de junho do ano passado.

Às 7h30 daquele domingo a polícia de Svalbard recebeu um chamado. Havia um urso polar dentro de um dos hotéis.
Foto: Hilde Kristin Røsvik
A jornalista Hilde Kristin Røsvik chegou ao local antes da polícia, e a situação foi considerada segura. “Estamos acostumados com isso por aqui, por isso os funcionários andam sempre com rifles por aí”, relata a repórter. Quando os policiais chegaram de helicóptero, com o barulho o urso saiu pela janela, deixando uma bagunça feliz na despensa do hotel.
Em 2014 outro urso entrou no bar do Hotel Tulipan, no mesmo vilarejo.
Mas o último caso de pessoa morta por urso em Svalbard foi em 1995.

Se um dia Pilar for a Svalbard, vai dar muita risada ouvindo causos de ursos, e contando suas muitas histórias vividas nas quebradas do mundaréu.
Tula Pilar no Boteco Fecha-Nunca - Foto: David da Silva, 23.jun.2015


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