segunda-feira, 26 de julho de 2021

Pioneira em pornô para cegos, atriz de Taboão da Serra lança autobiografia

Mia Linz teve carreira meteórica. Foto: Prosa Guiada / Reprodução: David da Silva

David da Silva

Ariane apareceu pela primeira vez em tudo quanto é jornal quando, em 24 de setembro de 2012, funcionários da Prefeitura de Taboão da Serra abandonaram seu irmão autista na escola de onde o garoto só foi resgatado por volta das 23h40. O caso ganhou repercussão nacional, e Ariane Alves Moreno foi a grande porta-voz da sua família na busca por justiça. A revolta não era pouca. Afinal, seu pai e sua mãe são surdos-mudos, incapazes de verbalizar toda a indignação.

Nenhuma das suas vizinhas, naquela ruazinha modesta do Jardim Record, podia imaginar que aquela jovem senhora casada, na época com 20 anos de idade e um filhinho de dois, seria hoje uma das mulheres brasileiras mais procuradas em sites de vídeos pornográficos.

Com 29 anos completados em 18 de fevereiro, Ariane, agora mundialmente conhecida pelo nome artístico Mia Linz, está prestes a lançar sua autobiografia. Nas 120 páginas do livro, detalhes da sua infância aqui em Taboão da Serra, onde nasceu e mora até hoje, e da sua carreira meteórica como estrela pornô em produções realizadas no Brasil, México, Hungria e República Tcheca.

Em agosto do ano passado ela protagonizou um dos primeiros vídeos pornôs brasileiros com audiodescrição para cegos e legendas descritivas para surdos.

Desafios da infância

Mia Linz é fluente em Libras desde pequena pois tanto seu pai, metalúrgico de 54 anos, quanto sua mãe, dona de casa com 51, são deficientes auditivos. E isso a ensinou a superar preconceitos – entre eles, o fato de ter-se tornado atriz pornográfica.

Antes do estrelato, foi dona de uma gráfica, e depois de uma balada e um restaurante. Viveu casada com um músico por 10 anos. Diz que frequentava clubes de swing por prazer e também para realizar um fetiche do ex-marido.

“Antes da decisão de fazer vídeos, conversei com meu pai, minha mãe, minha avó e meu irmão um ano mais novo que eu. [Mia é a filha mais velha do casal]. Não digo que eles assistam, mas eles sabem do meu trabalho”, diz. "Eles reagiram com tranquilidade [quando souberam da opção], nunca tive problema com isso. Acho que o apoio da família é muito importante no enfrentamento do preconceito".

Apesar do furor sexual perante as câmeras, Mia Linz não tem a depravação no seu DNA. “Na minha infância um amigo do meu pai me assediou. Me desvencilhei dele e denunciei”, conta.

Um caso absurdo

O irmão autista de Ariane tinha 17 anos quando foi largado dentro da escola no final da tarde da 2ª-feira, 24 de setembro de 2012. “Um funcionário ligou para minha avó, que mora ao lado da nossa casa, e avisou que a van escolar tinha quebrado, e era para a minha mãe buscá-lo”. Ao encontrar a escola fechada e às escuras, a mulher voltou para casa achando que haviam providenciado o transporte.

Com o avançar das horas, a Guarda Municipal foi acionada. Já perto da meia-noite, os guardas Bernardes, Blanco e Xavier deduziram que o aluno poderia ter sido “esquecido” dentro da escola pelos funcionários. Pelo lado de fora do prédio, iluminaram o interior de uma sala: o rapaz estava lá em pânico, sujo de fezes, há horas sem tomar seu remédio controlado, e revirado tudo o que encontrou pela frente. A escola foi arrombada pelos GCMs, e o adolescente devolvido à família.

GCM Bernardes no resgate do garoto autista.
Foto: acervo David da Silva - 24.set.2012
A reação da prefeitura sobre o ocorrido: “Quando as vans de transporte [escolar] chegaram, o menor, que costumava aguardar sentado na recepção não se encontrava no local naquele momento. Como Maurício não era conhecido de todos os funcionários [pois estava matriculado há apenas três dias], sua ausência não foi notada durante o procedimento de saída dos atendidos pelo Centro de Reabilitação”.

Fulgurante

No mês que vem vai fazer quatro anos que Ariane entrou para o universo pornô. Foi a vencedora do reality show A Casa das Brasileirinhas em agosto/2017. De lá para cá, teve uma das carreiras mais fulgurantes dentro do disputadíssimo mercado do entretenimento erótico. Chegou à posição de terceira brasileira mais procurada do site Pornhub.

A escolha do codinome “Mia” se mostrou acertada. Atualmente, a maioria – uns 80%, diz ela – dos seus seguidores no aplicativo Snapchat são homens árabes. Cada um deles (cerca de 200 assíduos hoje; já chegaram a 400) paga US$ 30 dólares por mês para vê-la em poses sensuais do seu cotidiano.

Afastada das câmeras, estuda Psicologia e, com sua vasta experiência em “trabalho de campo”, pretende a especialização como sexóloga.

Desfilando seus 1,60m de altura pelo apartamento de 60 m² em Taboão da Serra, Mia Linz diz divertida: “Fazer filmes pra que? Dá para ganhar muito mais sem precisar transar com ninguém, e sem sair de casa”.

Mia Linz está com 313.537 seguidores no Instagram, 246.379 no twitter, e tem sua maior fonte de renda atualmente no Snapchat

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