quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Denúncia sobre ‘bombeiro-mirim’ envolve gestão Aprígio/Dirce

David da Silva

“Confiei no curso porque a divulgação foi feita na sala de aula da minha filha, e o folheto da propaganda veio dentro da agenda escolar dela”, afirma a mãe de uma aluna da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Heitor Villa Lobos, no bairro Kuabara, em Taboão da Serra, que denunciou à polícia um “curso de bombeiro-mirim” do qual foi vítima. Além dessa unidade de ensino, os divulgadores estiveram em uma EMEF no Parque Pinheiros. Em ambas, além do acesso direto aos alunos, fizeram dinâmica de grupo com as crianças.

As matrículas e os uniformes de “bombeirinhos” foram pagos, mas o curso não teve início na data firmada no contrato, e o local das aulas foi modificado por várias vezes.

Amanhã, 6ª-feira (20), a munícipe vai ao 1º Distrito Policial de Taboão da Serra representar o Boletim de Ocorrência que registrou na Delegacia Eletrônica. “Vou levar toda a documentação que eu tenho até o momento, para virar queixa-crime. Vou judicializar civilmente a Prefeitura de Taboão, a UniFecaf e a empresa que me vendeu o curso. Todas vão compor o polo da ação”, informa a moradora de 37 anos que pede à reportagem: “Quero sigilo com nossos dados. Afinal não sabemos quem são esses indivíduos”.

Em vídeos de divulgação, os treinadores usam linguagem militaresca, chamam as crianças entre 4 e 7 anos de “recrutas”, e se autodenominam BPM (Batalhão Pequeno Militar).

Um grupo de pais e mães já expôs o assunto à secretária Municipal de Educação Dirce Takano: “Tivemos uma reunião com a secretária Dirce em 20 de setembro de 2023, uma 4ª-feira, às 10h da manhã. Infelizmente eles alegam que não têm convênio com esta empesa, e que não é responsabilidade deles”.

As tentativas de levar o caso a Aprígio não deram certo. “Semana passada, tentei novamente contato com o prefeito, porém, a assessoria dele me barrou”, reclama a moradora.

Nos três boletins de ocorrência a que o blog teve acesso, registrados nos dias 18, 19 e 20 do mês passado, a faculdade UniFecaf consta como local dos fatos de estelionato atribuído à BPM Cursos e Treinamentos Ltda. e à Apoio Educacional São Carlos Ltda., de Cristiane Carvalho Maciel e Pedro Ivo Riga Blanco, respectivamente.

Segundo o grupo de whatsapp criado para troca de denúncias, os vendedores do curso também entraram nas escolas EMI Bidu, EMEF Maria Alice Borges Ghion, EMEF Oscar Ramos Arantes, e a já citada, Heitor Villa Lobos.

Sem rumo

A empresa anunciou que os cursos teriam início em 02.set.2023 dentro das instalações da UniFecaf. “Fiquei encantada. Como mãe, amei o fato de que minha filha faria um curso em uma faculdade com aquela estrutura. Conheço a faculdade e me senti segura fechando o contrato com eles. E até mesmo por ter recebido o panfleto vindo de dentro da escola da prefeitura, um local que eu sempre considerei seguro”, diz a mãe de duas meninas.

Em 11 de setembro, as famílias receberam comunicado de mudança de local. “Tomamos conhecimento de que uma concorrente [Brigadista Mirim] estará realizando atividades no mesmo edifício [da UniFecaf]”, diz a mensagem do grupo identificado no whatsapp como BPM30-Taboão da Serra M01.

O novo local das aulas seria a escola de idiomas Maple Bear, na Rua das Camélias, a poucos metros da Prefeitura de Taboão da Serra.

Dois dias depois, nova justificativa: “A escola Maple Bear não tem disponibilidade para todos os sábados, 6 meses para eles é muito tempo”, diz o comunicado do “BPM30” postado em 13.set.2023.

A empresa chega a sugerir aos pais das crianças que as aulas poderiam ser feitas ao relento, “em um dos belos parques públicos de Taboão”.

Segundo os organizadores, o curso teve início em 16.set.2023 nas dependências do Colégio Anglo Santa Rosa, na Rua Salvador Peluso Basile, Jardim Santa Rosa, Taboão da Serra. O segundo dia de aula teria ocorrido no mesmo local em 23.set.2023.

A reportagem enviou e-mail e mensagem por whatsapp à direção do colégio, mas não teve confirmação até o momento se as aulas estão, de fato, acontecendo. O espaço segue aberto.

Mãos atadas

Também pelo whatsapp, a UniFecaf disse aos reclamantes que “[a vendedora do curso de bombeiro-mirim] iam locar uma sala aqui, que acabou nem sendo locada”, escreveu Marcel Gama, CEO da faculdade. Mas, o evento de fato aconteceu. “Foram cinco horários. Eu fui no horário das 13h. Uma mãe tirou foto da palestra com o bombeiro Gabriel Araújo Pontes na UniFecaf”, relata. Os pagamentos dos uniformes (R$ 200 à vista; R$ 300 a prazo) foram feitos em nome do palestrante. O recibo das matrículas (R$ 500 à vista; R$ 900 a prazo) saiu em nome da Êxito Centro Educacional.

Ao discordarem das constantes mudanças de datas e locais, várias famílias optaram por rescindir o contrato. “Nos sentimos coagidas e de mãos atadas. O senhor Pedro Ivo se nega a devolver o dinheiro. Para cancelar a matrícula, ele exige mais R$ 200,00 de taxa de cancelamento”.

Ao encerrar a entrevista, a mãe faz nova denúncia: “Em uma das salas da EMEF Heitor Villa Lobos, a professora saiu da sala, e deixou as crianças sozinhas com os indivíduos".

Um comentário:

Anônimo disse...

Quando pensamos que já vimos de tudo em matéria de destruição do ambiente escolar me aparecem com esse golpe para arrancar dinheiro dos país? Esse desgoverno Aprígio é o pior.