sábado, 30 de novembro de 2024

O inferno já existiu, mas continua conosco: a obra atemporal de Roberto Righi

Canto XXI - Trapaceiros do Asfalto Fervente, de Roberto Righi. Foto: Adriana Mônica Martin

Bruno Padovano

Uma grata surpresa no contexto da arte contemporânea brasileira é a exposição de 34 quadros do artista paulistano Roberto Righi, em Embu das Artes.

O artista se inspirou na obra prima Divina Comédia, de Dante Alighieri, escrita há oito séculos, naqueles tempos turbulentos do período final da Idade Média. Dante colocou de lado o latim, e utilizou o dialeto florentino, que assim se tornou o alicerce da língua italiana atual.

Righi, com sua formação e atuação acadêmica na arquitetura e urbanismo, constrói, literalmente, uma nova linguagem aplicada aos seus quadros, análoga ao colossal empreendimento de Dante.

Fundindo os paradigmas da arte clássica, da modernidade e pós- modernidade, além da contemporaneidade - em crise com o advento da IA -, Righi se mantém firme na defesa de uma clara atemporalidade, que transcende e ao mesmo tempo reflete os diabólicos dias atuais. As almas danadas dos 34 cantos do Inferno do Dante se alinham, assim, com os dramas contemporâneos, demonstrando que o sofrimento é uma constante ao longo da história da humanidade.

Fugindo de imediatismo comercial ou ineditismo superficial, ele projeta uma arquitetura transformada em arte que emociona, fruto de uma extensa pesquisa no uso da tinta à óleo, que gerou uma obra complexa e ao mesmo tempo coerente, especialmente no uso maduro desta técnica centenária.

Coerente num tempo ampliado, que abraça a história e, ao mesmo tempo, o futuro, passando pelo presente.

Os 34 Cantos do Inferno de Dante

Roberto Righi (34 óleos sobre tela)

Até 22.dez.2024, das 9h às 19h 

(sorteio de 1 quadro no encerramento da exposição)

ENTRADA GRÁTIS

Centro Cultural Mestre Assis

Largo 21 de Abril, nº 129

Centro Histórico - Embu das Artes/SP

Bruno Roberto Padovano, arquiteto, músico e compositor,  nasceu em Milão, Itália, em 1951. Reside no Brasil desde 1969. Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP). Doutor em Estruturas Ambientais Urbanas. Professor titular da FAU-USP onde se aposentou em 2020. Venceu 11 concursos públicos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. Dirige o Grupo de Pesquisa "Projeto AMU - Arquitetura Música e Urbanismo". Conselheiro do Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da USP

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