“Não tinha nada que desabonasse”, diz vereador sobre título de cidadão a prefeito afastado por corrupção

Polícia na casa do Manga 6 meses antes dele receber Título de Cidadão Taboanense

David da Silva

Vinte dias depois de receber da Câmara de Taboão da Serra o Título de Cidadão, Rodrigo Maganhato, vulgo Manga, 45 anos, foi afastado do cargo de prefeito de Sorocaba (SP) por ordem judicial a pedido da Polícia Federal. Manga ganhou cidadania taboanense 189 dias depois de a Justiça determinar busca e apreensão no seu gabinete e na sua própria casa, em 10.abr.2025. Ele é investigado desde 2022 por desvio de verbas da Saúde e superfaturamento na compra de lousas digitais.

Apesar das operações policiais contra o político sorocabano, o vereador Wanderley Bressan (PDT) disse ao blog bar&lanches taboão que “naquele momento [30.set.2025, data da aprovação da honraria] não tinha nada que desabonasse o Manga”. O título foi aprovado por unanimidade.

Em 10.abr.2025, os federais flagraram o concunhado de Manga com R$ 863.854,00 dentro de caixas de papelão no porta malas do carro. Josivaldo Batista, pastor da igreja Templo Gloria e Renovo de Deus, é casado com a irmã da esposa do prefeito. Ele foi preso na última 5ª-feira (6), mesmo dia em que Manga foi afastado.

Com toda a repercussão das buscas e apreensões na casa do prefeito e na Prefeitura de Sorocaba em abril deste ano, os vereadores taboanenses o consideraram digno da maior homenagem municipal.

“Na época [da votação do título] pra mim o Manga era só aquele prefeito bizarro. Não tinha nada mais grave”, disse Bressan ao blog.

As suspeitas sobre Rodrigo Manga vêm de longe. Em 2021, no seu primeiro mandato, sua gestão fechou contrato com a Educateca Serviços Educacionais para a compra de lousas digitais por R$ 26 mil cada. Naquele mesmo ano, a Prefeitura de Indaiatuba (SP) comprou as mesmas lousas da mesma empresa por R$ 16.700,00 a unidade. O Tribunal de Contas do Estado aponta prejuízo de R$ 11.122.056,00 ao município de Sorocaba.

Em junho/2021, a Federal investigou a compra da casa de Manga por um milhão e meio de reais, com entrada em dinheiro vivo de R$ 183 mil sem comprovação de origem.

Entre fevereiro/2021 e junho/2023, a empresa de publicidade da esposa do prefeito recebeu R$ 750 mil como pagamento de “serviços de marketing” para a igreja Cruzada dos Milagres dos Filhos de Deus, criada em junho/2020 por Simone Rodrigues Frate de Souza, irmã da primeira-dama.

Para André Nekatschalow, do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região (TRF3), a igreja da cunhada e a firma da esposa de Manga serviam para lavar dinheiro.

O protagonismo de Rodrigo Manga nas páginas policiais não impediu os vereadores de Taboão da Serra de colocaram o prefeito de Sorocaba no patamar dos que “reconhecidamente tenham prestado serviço ao município”, como manda a Lei Orgânica.

Wanderley Bressan alega que “eu ainda não tenho condição de fazer uma declaração contrária ou a favor do Manga, porque não conheço ele”. Seu voto favorável foi por coleguismo. “[Votei] por respeito ao mandato do meu colega, meu amigo vereador Anderson Nóbrega”.

Bressan e os outros 12 vereadores de Taboão da Serra não foram ao Google perguntar se aquela manga estava boa. Mas, o episódio constrangedor já o deixa cauteloso: “Não significa que a gente vai votar qualquer indicação. Tudo tem limite. Se aparecer algo muito absurdo, não vou votar a favor só por respeito ao vereador”.