Washington Gabriel e Naruna Costa Foto: Mariana Rafael |
Não que o poeta Miró tenha escrito para o teatro. O espetáculo foi construído pelo diretor Mário Pazini a partir de fragmentos dos textos crônicos com que o poeta pernambucano retrata sua vida. A dramaturgia é coletiva dos atores do Grupo Clariô de Teatro.
Martinha Soares e Mário Pazini - Foto: Guma |
Apesar de o Grupo Clariô ser de Taboão da Serra, e composto com maioria de atores da cidade, o espetáculo tem zero apoio do poder público local. Foi montado com recursos do Programa de Ação Cultural da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo (veja a ficha técnica no final da postagem).
Pelas beiradas da vida
João Flávio Cordeiro, 50 anos, é mundialmente conhecido como poeta Miró da Muribeca. Bairro do subúrbio de Recife (PE). Criado ao redor do antigo lixão da Muribeca, que empresta o nome ao conjunto habitacional onde Miró mora.
A partir desta ótica de homem pobre, preto, periférico, Miró usa sua poesia como reação à violência que o circunda. Mas seus poemas têm nada de desespero, sequer tristeza. Perguntado sobre sua ideologia política, Miró da Muribeca lança rápido: “Sou alegrista”.
Naloana Lima - Foto: Guma |
Sua presença será incendiária na noite de hoje no Teatro Clariô.
Poesia constante e instantânea
Conheci Miró da Muribeca por intermédio do também poeta e repórter Marco Pezão Iadoccico.
Tive a felicidade de ser o primeiro a ler uma das poesias que Miró escreveu durante recente temporada aqui na nossa região. Cheguei ao Bar do Neto para lavar a poeira da garganta. Ancorado no balcão Miró estendeu um papel: “David, leia isto. Acabei de escrever”. Era um poema inspirado na Estrada do Campo Limpo que costeia Taboão da Serra e também leva ao Embu das Artes na direção de Itapecerica da Serra.
É o próprio Miró da Muribeca que a declama na porta do bar onde o poema foi concebido:
Maria Zéfinha
Seu pai no volante do caminhão.E Maria Zéfinha do lado.Encantada...olhando as bancas de revistas da Estrada do Campo Limpo.Queria tanto saber ler... entender o que se passana cabeça das outras pessoas...‘Seo’ Amaro, o pai, dizia:- É tudo besteira, minha filha! Todo mundo é igual. Seja aqui ou em Pequim.- Pai!!! Onde é Pequim?- Não sei. Meu caminhão só conhece Taboão da Serra, Embu das Artes e Recife, onde você nasceu.- Pai!!! Pra que lado fica o Recife?- Filha!!! Você só tem 18 anos para fazer tantas perguntas...Pararam para comer em Itapecerica da Serra.E até hoje ‘seo’ Amaro vai nas bancas de revistas pra saber notícias de Zéfinha.
Urubu come carniça e voa!
Ingressso: Grátis
Hoje, 19 de novembro – às 21h30
ESPAÇO CLARIÔ:
R. Sta. Luzia, 96 - Jd. Sta Luzia
Taboão da Serra | SP
(próximo ao Morro do Cristo e Hospital Family)
Classificação Indicativa: 12 anos
FICHA TÉCNICA:
Escritos crônicos: Miró de Muribeca. Direção: Mário Pazini. Atores/criadores: Alexandre Souza, Diego Avelino, Martinha Soares, Naloana Lima e Naruna Costa. Ator convidado: Washington Gabriel. Dramaturgia: Grupo Clariô de Teatro. Assessoria dramatúrgica: Will Damas. Cenário: Alexandre Souza (João) e Mário Pazini. Figurinos e adereços: Martinha Soares e Naruna Costa. Iluminação: Will Damas
TRILHA DA PEÇA:
Composição: Di Ganzá e Naruna Costa. Interpretação: Orquestra de Caboclos
Músicos: Di Ganzá (violibeca), Adriana Mello (flauta), Luís Vitor Maia (contrabaixo)
Um comentário:
Junto à amigos fui conhecer o teatro Clariô.Nos surgiu uma dúvida: Por que será que a secretaria de cultura não apóia esse teatro? Ou será que sabemos o por quê?
Inevitavelmente, após assistir a peça, a "República de Platão" nos vem à cabeça:
Um povo ignorante é facilmente manipulado.
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