Como Chico Anysio agora é cinzas, chegou a hora de puxar uma cadeira para a calçada da frente do bar & lanches taboão, e falar solene e baixo de quem muito me marcou.
Certa feita disse a um amigo que Chico Anysio ficaria trilhardário feito Chaplin se tivesse ido pra Hollywood. “Ele tem tantos personagens que poderia fazer um filme onde sozinho interpretaria todo mundo. Lotaria um ônibus fazendo desde o motorista ao cobrador, passando por todos os tipos de passageiros”.
Vê que ironia. Pois não é que o pai de Chico Anysio foi dono de uma empresa de ônibus? Fiquei sabendo disto pelo repórter Adamo Bazani, dono do blog Ponto de Ônibus.
A viação faliu quando a garagem pegou fogo. Perderam todos os coletivos... “Não havia seguro”, contou Chico, que na época do incêndio tinha 7 anos. “Acordamos pobres. Eu não sabia de nada. Nem da bastança anterior nem da penúria que viria”.
Sabe quando sem querer você desce no ponto de ônibus errado, mas acaba dando certo?
Com Chico Anysio a entrada na vida artística foi assim.
Já morando no Rio de Janeiro, ele estudava advocacia, porém seu sonho er ser jogador de futebol. Um dia esqueceu as chuteiras e foi buscá-las em casa. Sua irmã Lupe e um amigo estavam de saída para fazer teste na Rádio Guanabara. Chico resolveu ir junto, fazer um teste só de farra. Só não pegou o primeiro lugar porque não tinha mesmo como. O concorrente era Silvio Santos.
Com o meu primeiro salário de ofice-boy comprei o primeiro livro de Chico Anysio, O Batizado da Vaca, lançado em 1972. Menos de um ano depois, mas já em 1973, lá estava eu de novo na Livraria Siciliano da Rua Teodoro Sampaio comprando o novo livro do Chico, O Enterro do Anão.
O último trabalho do Chico que eu ouvi foi a sua dublação para o bom velhinho Carl Fredricksen, do desenho animado Up!
Um colega de jornal certa vez embiroou comigo porque, ao ler os originais de uma ficção que ele estava fazendo, eu disse a ele que seus personagens não tinham alma, não traziam rastros biográficos. Sugeri a ele que seguisse o exemplo da construção de personagens do Chico Anysio. O mais impressionante no mestre humorista era o olhar do personagem. Cada personagem tinha seu tom de voz, trajes e trejeitos. Mas o grande segredo era o olhar diferente que Chico imprimia a cada um deles.
Chico Anysio criou 209 personagens.
Chico Anysio criou 209 personagens.
E pra quem ainda faz beicinho para este lance de blog, saibam que Chico Anysio foi blogueiro de dezembro de 2007 até outubro de 2010, quando a saúde começou a perturbar-lhe a trajetória.
Vai de boa, Velho Francisco...
3 comentários:
Maravilha, DAVID, você agora foi fundo, buscou e rebuscou um pouco mais da história desse mito que se foi mas não vai. Ficará na memória de todos. Parabéns !
Artista maravilhoso, gigante do nosso povo. Acredito que essa facilidade dele conseguir sacar tantos personagens diferentes é porque ele frequentava todo tipo de local. Chico Anysio disse numa entrevista que frequentava bares pés sujos, porque precisava ficar perto da nossa gente. Não se fazem mais homens como ele. Uma pena.
Chico, simbolo de criatividade e brasilidade exposta em cada dizer.E ai eu me pergunto: O QUE DIZER DO CHICO que encantou a tantos com suas varias faces de humor, sem denegrir imagens e ou comportamentos alheios.
Chico é foi e será isso: Uma difusão de inteligencia, bebida nas fontes mais simples de maranguape, e desaguada em todo o mundo.Cico era (e é Brasileiro) Chico é nosso dicionario de tantas palavras ditas e representadas por quem sabe e gosta de falar.Vai na paz velho e tão amado Chico, pois muitos Anisios aqui ficarão, preservando tudo que tu ensinou a cada um de todos nós.
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