não é coisa minha, não. É
do infeliz
do teu povo. Ele sim que
anda aos trancos,
pendurado na quina dos
barrancos.
Seu povo que é urgente,
força cega,
coração aos pulos, pois
carrega
um vulcão amarrado pelo
umbigo.
Ele então não tem tempo,
nem amigo,
e nem futuro, que uma
simples piada
pode dar em risada ou
punhalada,
como uma mesma garrafa de
cachaça
acaba em carnaval ou em
desgraça.
É seu povo que vive de
repente,
porque não sabe o que vem
pela frente.
Então ele costura
fantasia,
sai fazendo fé na loteria,
se apinhando e se esgoelando
no estádio.
Bebendo no gargalo, pondo
no rádio
sua própria tragédia a
todo volume,
morrendo por amor e por
ciúme,
matando por um maço de
cigarro,
e se atirando debaixo do
carro.
O texto acima foi escrito em... 1975!!!
Trecho
da peça Gota D’Água, de Chico Buarque
e Paulo Pontes
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