Cena de Hospital da Gente - Foto: Rogério Gonzaga |
Estreado em 2008 quando o
Clariô era apenas duas casinhas de aluguel facilmente convertidas em
cenário-favela, o espetáculo voltou revigorado no galpão que o grupo construiu.
O espaço hoje abriga plateia de aproximadamente 100 pessoas, no lugar dos 25
espectadores que se espremiam entre as atrizes na montagem original.
Depois de temporadas
gloriosas pela capital e o interior de São Paulo, com passagens pelo Rio e
Brasília, o texto de Marcelino Freire dirigido por Mário Pazini integra o
projeto “Clariô em Casa”.
A peça voltou para o seu
“berço” na 6ª-feira passada com importantes conquistas - melhor elenco, melhor direção e grupo
revelação no 1º Prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro.
Espetáculo começa no meio da rua - Foto: Rogério Gonzaga |
100 minutos de agonia e êxtase
Com duração de 1h40, a
peça começa quando o público ainda está na calçada. Uma mulher furiosa
(Martinha Soares) despeja ali, no meio da rua, a sua indignação por não
terem-na deixado vender um de seus rins. A personagem arrasta a plateia para
dentro do teatro.
O cenário de Alexandre Souza,
o popular João, me faz lembrar os sets superpostos criados por Gianni Ratto em
1975 para a tragédia Gota D’Água, de
Chico Buarque e Paulo Pontes.
O projeto cultural do
Grupo Clariô atende literalmente a um chamado que Chico Buarque e Paulo Pontes
fizeram no prefácio do livro com o texto de Gota
D’Água: “O fundamental é que a vida brasileira possa, novamente, ser
devolvida nos palcos ao povo brasileiro”.
Densas e divertidas
As mulheres de Hospital da Gente (todos os personagens
são femininos) não estão ali pra nos fazer chorar com as suas dores.
O que não impede a plateia
de rir de nervoso diante de tanta vida submergida nas margens de uma sociedade
cruel.
As atrizes se desdobram em
vários papéis. Assim, Naloana Lima é a sacerdotisa afro e também a mulher que
doa e/ou vende seus filhos para não dividir com eles a sua fome, além de
interpretar a prostituta jovem.
Naruna Costa resplende
como uma filosófica catadora de lixo e também como a mãe que se recusa a
participar de uma passeata pela paz depois de ter seu filho assassinado.
Paloma Oliveira está densa
e divertida na interpretação dupla de uma alcoólatra e depois como uma irada
evangélica que se recusa a emprestar um remédio para baixar a febre do neném de
sua vizinha por ela ser “mulher da vida” (Martinha Soares, também impagável no
papel de Totonha, uma nêga véia que não aceita aprender a escrever e nem gosta das visitas que lhe fazem as
assistentes sociais).
A dona do boteco da favela
(Maíra Galvão) e a personagem de Luana Lima completam a constelação de existências apagadas pelo sofrimento.
Se a vida não dá moleza
para estas mulheres, elas também não deixam o respeitável público acomodado em
sua cadeira. Quem for lá, verá.
E nem vai ter de pagar pra ver. O ingresso é gratuito.
E nem vai ter de pagar pra ver. O ingresso é gratuito.
Veja galeria de imagens do fotógrafo Rogério Gonzaga
Vozes do nordeste
Outra faceta empolgante do
grupo na programação do “Clariô em Casa” é escorar suas montagens em autores
nascidos no Nordeste – os pernambucanos Marcelino Freire de Hospital da Gente, e Miró de Muribeca,
de Urubu Come Carniça e Voa, outro
espetáculo que volta pra casa a partir de 14 de setembro.
O título da peça foi extraído
de uma canção do paraibano Chico César:
Batom no lábio nortista
O olhar vê tons tão sudestes
E o beijo que vós me nordestes
Arranha céu da boca paulista
Dias 17 (sexta) e 18 de agosto
Às 20h30
(retire ingresso com
antecedência)
Hospital da Gente, de Marcelino Freire
Direção Mário Pazini
Entrada franca
Recomendável para maiores
de 12 anos
Teatro Clariô
Rua Santa Luzia, nº 96
Vila Santa Luzia - Taboão
da Serra - SP
- próximo ao Hospital Family
4701-8401 / 9621-6892
Visite o blog oficial
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