A barulheira que me
atordoa na periferia onde moro, é drama secular.
Grandes nomes da
literatura e do cinema retrataram o modo ruidoso de viver entre as gentes dos entornos das cidades.
Nascido e criado no subúrbio
humilhado de Londres, onde as pessoas tinham um certo pudor sonoro da sua condição de vida, o cineasta Charles Chaplin ficou deprimido com o que viu e
ouviu nas comunidades de New York:
“Fiz longos passeios a pé através dos bairros da miséria (...) andei pela Terceira e pela Segunda Avenida, onde a pobreza, calejada, amarga e cínica, era ostensiva, ruidosa e risonha. Pobreza que se exibia, gritante, em cada porta, ou transbordava para as ruas. Tudo isso era depressivo e voltei imediatamente para a Broadway.”
O norte-americano Henry
Miller, filho do arrabalde nova-iorquino, gostava de bater pernas pelas zonas de
cortiços:
“Era como passar de um mausoléu frio para a correnteza da vida. O que as pessoas falavam tinha musicalidade, mesmo quando exprimiam apenas uma troca de pragas. Havia crianças por toda parte, divertindo-se com aquela vigorosa exuberância que só as crianças pobres exibem.”
Mas depois de vagabundear
por estes ambientes sórdidos, Henry Miller voltava para o bairro tranquilo onde
morava no início de sua carreira. Depois foi viver em Paris.
Reprodução da internet |
Subúrbio ensurdecedor
Este flagelo auditivo que sofremos com carros tocando funk-pancadão e outros
excrementos sonoros em volume satânico, também não é novidade nas quebradas do
mundaréu.
N’O Processo, escrito em 1925, o romancista Franz
Kafka mostra o espanto do personagem Josef K. quando compareceu a uma audiência
judicial nas cercanias da cidade de Praga, capital da República Tcheka. As pessoas
conversavam aos berros, chamando-se de um lado a outro da rua:
“Um gramofone que já tivera dias melhores começara a tocar em volume ensurdecedor.”
O blog vem denunciando os baderneiros sonoros desde o já longinquo ano de
2009 – relembre aqui
"A soma de barulho que uma pessoa pode suportarestá na razão inversa da sua capacidade mental"Arthur Schopenhauer
Um comentário:
Há, o que podemos considerar, pouco tempo, a poluição sonora materializava-se na "musiquinha do gás". A sociedade se movimentou e acabou com aqueles "toquinhos" eletrônicos que degradavam à canção Pour Elise de Beethoven. O que a grande maioria desconhecia.
Agora pedimos para proibir um monte de "toquinhos" eletrônicos que degradam, primeiramente, o original funk, repleto de musicalidade. Segundo: esses mesmos "toquinhos" degradam a cultura musical brasileira... mas o que estou falando, isso não é música e sequer são compostas... ou são? Mas quem poderia querer assumir uma composição dessas. Não seria um crime? E a pessoa querer difundir esse criminoso "gosto" musical ao ALTO E "PÉSSIMO" SOM, não seria crime? Pois é... estão assassinando as culturas das periferias, que sempre se manifestaram com o que há de melhor no bom gosto da expressão artística e cultural.
Depois ficam me proibindo de fumar meu cigarrinho. Vou aproveitar para lançar um desafio: quando o estado combater essa agressividade sonora, eu paro de fumar.
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