Estudo
revelado em fevereiro insinua que pode haver interesses embutidos nas
campanhas de mamografia
Há uma
cilada semântica segundo a qual câncer de mama é o problema de saúde que mais
mata mulheres no Brasil.
Não é.
E que a
mamografia é a única trilha da salvação contra este mal.
Também
não é.
Escultura em túmulo no Cemitério Staglieno, Gênova,
Itália
Foto: Reprodução / Hélio Rubiales
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Câncer
de mama é o que mais mata mulheres com câncer. Mas não o maior índice da
mortalidade feminina nacional.
Problemas
cardiovasculares matam seis vezes mais brasileiras que o câncer de mama.
O infarto é o segundo caminho mais curto para o cemitério entre as mulheres.
O câncer de mama aparece em sétimo lugar.
Os dados foram coletados pelo Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) em 2010 e divulgados em 2012.
O infarto é o segundo caminho mais curto para o cemitério entre as mulheres.
O câncer de mama aparece em sétimo lugar.
Os dados foram coletados pelo Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) em 2010 e divulgados em 2012.
No
período pesquisado, 12.705 mulheres faleceram com câncer de mama. Ao passo que
naquele mesmo ano de 2010 o derrame e o infarto mataram 90.909 brasileiras.
o
As dez causas líderes de morte entre brasileiras em 2010:
As dez causas líderes de morte entre brasileiras em 2010:
Arte tumular erótica. Cemitério Staglieno, Itália |
1. Acidente vascular cerebral: 49.190 mortes
2. Infarto: 41.719 mortes
3. Outras doenças cardíacas: 30.872 mortes
4. Diabetes: 28.300 mortes
5. Gripe/Pneumonia: 27.760 mortes
6. Hipertensão: 23.862 mortes
7. Câncer de mama: 12.705 mortes
8. Câncer de pulmão: 8.171 óbitos
9. Acidente de transporte: 8.058 mortes
10. Câncer de colo de útero: 4.986 mortes
Fonte: Ministério da Saúde
No ano
passado, as revistas Saúde e Cláudia (Editora Abril) coordenaram a
pesquisa “Sinta seu Coração”. Ouvidas mais de 5 mil voluntárias, o estudo mostrou
que, mesmo com os números mortíferos de AVC e infarto revelados no ano
anterior, em 2013 o grande pavor feminino continuou sendo o câncer de mama.
A
pesquisa evidencia que a saúde pública deve ligar o alerta vermelho e, para
cada R$ 1,00 investido na prevenção cancerígena mamária, outros R$ 6,00 devem
ser destinados à conscientização feminina sobre este mal que lhes ataca por
detrás dos seios e por baixo dos seus sedosos cabelos.
Túmulo da família Cantarella. Escultura de Alfredo Eliani
Cemitério São Paulo, bairro Pinheiros, Capital (SP)
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Coração descuidado
Até a
década de 1970, para cada grupo de sete homens infartados, havia apenas uma
mulher.
Elas só
começavam a se preocupar com este problema a partir dos 60 anos.
Acreditava-se
que o coração feminino estava protegido pelo estrogênio. Este hormônio só
começa a faltar com o avanço da idade da mulher. A menopausa era “a hora da
verdade”. Como se todos os maus-tratos à saúde que a mulher cometeu contra seu
próprio coração durante décadas desabassem de uma só vez, com a desobrigação de
comprar absorventes.
Hoje,
há uma mulher com infarto para cada três homens.
O
grande vilão desta estatística macabra foi o crescente ingresso da mulher no
mercado de trabalho. O stress, o acúmulo de funções em casa e no emprego, e a dieta
alimentar de risco enfraqueceram o papel protetor do estrogênio.
Segundo
a cardiologista Elizabeth Alexandre, da seção de Coronariopatia do Instituto
Dante Pazzanese, o primeiro grande inimigo da mulher infartada é o atraso no
diagnóstico.
Mamografia e Política
No
início deste ano o Ministério da Saúde se meteu num saco de gatos.
Ou
melhor: num saco de gatas.
Decidiu
repassar aos municípios verba para mamografia em apenas um seio de cada mulher
na faixa dos 40-49 anos. Para examinar os dois peitos, só depois de idosas.
Em
27 de novembro de 2013 o mesmo ministério havia divulgado a Estimativa 2014 – Incidência de Câncer no
Brasil. Segundo o prognóstico, 57,1 mil brasileiras vão desenvolver câncer
de mama até o próximo Ano-Novo.
Os
protestos fizeram tal alarido que o ministério se viu forçado a emitir nota de “esclarecimento”
no último dia 14 de fevereiro de 2014, taxando de mentirosas entidades como o
Conselho Federal de Medicina (CFM).
Por
estranha ironia, exatamente três dias antes deste arranca-rabo do governo Dilma
com o CFM, o periódico inglês British
Medical Journal, edição de 11.fev.2014, divulgou um estudo questionando o
benefício da mamografia para mulheres com menos de 60 anos.
Estudo
iniciado no Canadá em 1988 acompanhou durante 25 anos a saúde de 90 mil
mulheres. Elas foram divididas em dois grupos para detecção do câncer de mama.
Um grupo realizou mamografia, e o outro, apenas exames físicos de toque. Ao
final do estudo, 3.250 mulheres submetidas à mamografia estavam com câncer –
500 morreram. No grupo do exame físico, 3.111 foram diagnosticadas - 505
morreram. Resumo: a taxa de mortalidade é a mesma com mamografia ou com exame
de toque.
Com
a prevenção do câncer de mama por meio físico do toque de mãos em mulheres
abaixo dos 60 anos, deixariam de ser gastas montanhas de dinheiro com
mamógrafos.
Com
base na pesquisa canadense, cientistas da Universidade de Oslo, Noruega,
afirmam que a mamografia em mulheres não sexagenárias só serve para gerar um
excesso no número de diagnósticos.
Os
pesquisadores noruegueses, no entanto, acreditam que coibir isto será tarefa
difícil: “O governo, fundos de pesquisas, cientistas e médicos podem ter
interesse em continuar com as mamografias do mesmo jeito que estão
estabelecidas hoje em dia”.
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