Foto: Nilton Esteves - 23.ago.2014 |
Antes da reportagem, o almoço. Uma bacalhoada
magnífica brota das mãos mágicas de dona Magnólia, que reina no fogão da
família Esteves há 13 anos. Reflito: “o Nilton é tão apaixonado pela Natureza,
que o destino lhe providenciou uma cozinheira com nome de planta”.
Nilton
Benedito Esteves é há 12 anos síndico do Condomínio Rural Jardim Iolanda, em
Taboão da Serra. O conjunto habitacional completou 50 anos de fundação no
último 20 de agosto. É um remanescente da Mata Atlântica no município. E razão
de viver do síndico.
Carolina Ramos e jornalista Sandra Pereira |
Prova da
abnegação do síndico pela preservação da cobertura vegetal do condomínio, foi o
plantio de 400 mudas de árvores pelo DEAEE (Departamento Estadual de Águas e
Energia Elétrica) em substituição às 10 espécies nativas arrancadas para abrir
caminho à canalização do córrego que corta o Jardim Iolanda.
O condomínio
replantou por conta própria mais 250
mudas no trecho canalizado. Todos os dias,
antes de iniciar sua rotina de trabalho, o síndico Nilton dedica longos minutos
a contemplar o crescimento das 650 mudas de ipês-amarelos, paus-ferro, patas-de-vaca
e sibipirunas.
Mudas em crescimento - Foto: Nilton Esteves |
O resultado
desta dedicação é convertido em números nas eleições do condomínio. Em outubro
de 2013 Nilton Esteves foi reeleito com 53 votos dentre as 65 pessoas que
compareceram ao pleito – o condomínio tem 120 eleitores, e o voto é aberto,
declarado em viva voz.
Rígido
no desempenho da função de protetor de uma área de quase 500 mil metros
quadrados - pra ser exato: 477.965,00 m² -, e lutador encarniçado pela construção
dos viadutos para retornos na BR-116 na altura do Km 276 e no Shopping Taboão, o
síndico, todavia, é gentil no trato com as pessoas. E apaixonado por sua câmera
fotográfica. Gasta horas a fio clicando o nascer e o pôr do Sol. E emenda noite
adentro retratando a Lua. Fixa seu foco na exuberância da mata que reveste o
condomínio e seus animaizinhos silvestres. Capaz de se emocionar diante de uma amoreira
se abrindo em frutos. “Hoje voltei aos meus 8 anos de idade, quando apanhava a
fruta no pé, e saboreava amoras, carambolas, jabuticabas, mangas, pitangas,
nêsperas, etc... Tudo tem sabor de infância”, me escreveu ele no Facebook no
entardecer sentimental do último dia 5 de setembro.
O desvelo
pelo seu passado é marca registrada do síndico Nilton. Sempre saudoso dos
tempos de moleque em que assistia Tarzan, Homem de Virgínia, Dólar Furado,
Perdido nas Estrelas, Zorro, Túnel do Tempo, e outros seriados que marcaram a
adolescência da televisão brasileira.
Nilton Esteves |
Para manter
o Jardim Iolanda na forma com que foi planejado pela sua fundadora, Nilton
Esteves comanda um pequeno exército de seis porteiros, quatro jardineiros, um
encarregado, uma faxineira e patrulhas de seguranças armados.
A devoção
do síndico pela fundadora do condomínio é quase diariamente revivida em sua
página no Facebook. Emoldurados na parede da sala de visitas do Nilton, vários cartazes
de espetáculos que Iolanda Catani lhe trazia de presente nas suas viagens à
Europa. Outra demonstração de afeto do síndico por dona Iolanda é o vídeo que
ele gravou num crepúsculo solar há 30 anos – e que compartilha com amigos numa
deferência quase religiosa. Na gravação, Iolanda Catani, que era cantora
lírica, entoa a Ave Maria de Gounod e
Johann Sebastian Bach (assista aqui)
Cláudio Catani e eu - Foto: Nilton Esteves |
Somos
recebidos pelo engenheiro-agrônomo Cláudio Catani Beretta, filho de Iolanda. O
sobrenome Catani da mãe é originário de Florença, e o Beretta do pai, vem de
Milão.
Cláudio Catani Beretta se formou engenheiro-agrônomo no mesmo ano em que seus pais fundaram o condomínio. Ele me mostra na biblioteca dos seus genitores uma raridade. O Dizionario Storico Mitologico em vários volumes que sua mãe sempre consultava, e de onde saíram os nomes das ruas para o Jardim Iolanda. A obra foi publicada em 1828.
Toda a sala de visita dos pioneiros é decorada por obras de arte de Gino Catani, avô de Cláudio, e outros quadros de seu bisavô, do qual infelizmente não conseguimos descobrir o nome.
Toda a sala de visita dos pioneiros é decorada por obras de arte de Gino Catani, avô de Cláudio, e outros quadros de seu bisavô, do qual infelizmente não conseguimos descobrir o nome.
Gino Catani - Foto: Nilton Esteves |
Vejo na
estante de dona Iolanda Catani três artesanatos de corujas. Esta ave é símbolo
deste blog bar & lanches taboão.
Fiquei feliz de encontrar nossa mascote na prateleira da casa da pioneira.
Formado
pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Araraquara, Cláudio
exerceu por 35 anos a profissão. Manteve várias parcerias com seu pai em
fazendas pelo interior do estado de São Paulo.
Fiel ao
seu ofício, Cláudio critica a forma como as autoridades ambientais tratam hoje
a compensação na derrubada de árvores. “Se uma pessoa desmata aqui no
Condomínio Iolanda, o replantio de árvores deve ser feito exclusivamente aqui
dentro. E não como fazem hoje, em que o desmatador pode fazer a compensação
vegetal em outro local”, adverte.
De sua
mãe Cláudio guarda uma lembrança bem humorada. “Certa vez ela foi cantar uma
peça lírica, e a personagem que ela fazia morria no final. Mas eu reparei que
minha mãe se levantou antes de baixar a cortina no final do espetáculo. Fui
fazer uma espécie de crítica a ela, e recebi de resposta: ‘Se eu não tivesse pulado antes de descer a cortina você seria um
menino órfão, agora. Aquele cortinado estava caindo com todo o peso em cima de
mim’ “.
3 comentários:
uma bela materia um lugar tao bonito e bem cuidado parabens Nilton
Sr.Benedito,se não fosse pelo sr.o condomínio poderia descaracterizar-se em sua originalidade e as consequências viriam também sobre quem mora no entorno do condomínio. Infelizmente a maioria das pessoas desconhecem que as arvores são os humidificadores do ar que respiramos, sem citar o oceano. Se Taboão da Serra fosse arborizada como antes fora, teríamos temperaturas mais agradáveis e menos pessoas com problemas respiratórios.
Infelizmente há uma cultura de derrubar árvores e cimentar tudo que é possível, aumentando a temperatura do ambiente e impermeabilizando o solo e nessa época de seca sentimos o efeito disso.
Albert Einstein dizia:
“Tudo aquilo que o homem ignora, não existe para ele. Por isso o universo de cada um, se resume no tamanho de seu saber.”
Entristece-me ao passar por Embu das Artes e ver as ocupações irregulares recentes; sem planejamento algum e em áreas aonde havia nascentes de água, sabemos que isso ocorre em troca de votos e grilagem; um pedaço da Mata Atlântica que se vai. Ao menos se houvesse planejamento o impacto seria bem menor inclusive visualmente.
Mas fica registrado meu respeito a cidadania que o sr. Exerce.
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