terça-feira, 17 de março de 2015

Elis Regina e a história da música “Fascinação”

A melodia de Fascinação nasceu em 1904. Sua autoria é atribuída ao violinista italiano Dante Marchetti. O músico trabalhava em cabarés de Paris. Em 1905 o ator Maurice de Féraudy colocou letra na música até então instrumental. A primeira gravação cantada foi feita por Paulette Darty: Je t'ai rencontré simplement / Et tu n'as rien fait pour chercher à me plaire / Je t'aime pourtant / D'un amour ardent / Dont rien, je le sens, ne pourra me défaire. / Tu seras toujours mon amant...”

No meio artístico francês corre a lenda que Dante Marchetti não é o verdadeiro compositor de Fascinação. Ele teria feito uma encomenda a um jovem músico em início de carreira. Era o colossal Maurice Ravel, que para não prejudicar sua ascensão como autor de música clássica, aceitou o dinheiro mas não quis seu nome vinculado a uma valsa cigana.

De fato, Dante Marchetti foi compositor inexpressivo. Quando se ouve com atenção a melodia de Fascinação, cremos ter sido mesmo obra de um músico superior. Nos volteios da melodia, as cordas dos violinos laçam a pessoa, puxando-a para dançar.

Nunca ninguém saberá se Fascinação saiu ou não da partitura de Ravel.


Em 1943 o radialista brasileiro Armando Louzada fez uma versão em português gravada por Carlos Galhardo no dia 4 de fevereiro daquele ano. “Os sonhos mais lindos sonhei / De quimeras mil um castelo ergui / E no teu olhar tonto de emoção / Com sofreguidão, mil venturas previ. / O teu corpo é luz, sedução...”.

A valsa virou tema de novela na Rádio Nacional. Sucesso estrondoso.

Em 24 de outubro de 1957, Galhardo voltou a gravá-la na nova tecnologia dos discos de vinil. A música, que tinha duas partes no original em francês, desta feita foi gravada só em sua primeira parte.

Ocorre que três anos antes a valsa havia sido gravada pelo cantor norte-americano Nat King Cole, na versão inglesa de Dick Manning. Foi uma covardia. A interpretação aveludada de Nat virou mania mundial: “It was fascination I know / And it might have ended / Right then, at the start / Just a passing glance / Just a brief romance / And I might have gone / On my way empty hearted…”

Quase ninguém falou na interpretação do brasileiro Carlos Galhardo...


Em 1976 Elis Regina incluiu Fascinação no repertório do show “Falso Brilhante”. Com forte crítica à ditadura militar, o espetáculo é ainda hoje o maior e melhor da história da MPB. Ficou em cartaz no período de 17 de dezembro de 1975 até 18 de fevereiro de 1977 sempre com o Teatro Bandeirantes lotado. Fui assisti-lo por três vezes.

Um ano mais tarde, Elis voltaria a gravar essa valsa ao vivo no show “Transversal do Tempo”.

Quando Elis Regina morreu em janeiro de 1982, estava contratada para o encerramento do Festival de Verão no mês seguinte, na Praia do Gonzaga, em Santos.

Os produtores do espetáculo nem cogitaram chamar substituta. No palco totalmente vazio, enquanto a voz gravada de Elis cantava a eterna valsa, apenas um microfone no pedestal debaixo de um foco de luz.

7 comentários:

Antonio Carlos Fenólio disse...

Perfeito, caro David! Pesquisador e conhecedor profundo de nosso acervo músico-cultural, vc está sempre nos brindando com todas essas suas galhardias, repartindo as mais belas histórias e estórias, socializando com milhares o sabor mais encantador dos gênios de nosso País. É real, atual e verdadeiro o descrito sobre o ocorrido no Cemur "Carlos Drumond de Andrade". Crédito a quem tem crédito... Sempre.

David da Silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Simplesmente amei ler

Anônimo disse...

Nossa, obrigada por compartilhar, essa versão cantada por Elis sempre me fascinou e despertou curiosidade sobre a composição.

Jussanam disse...

Amei ler , hoje, em 2023, sobre uma das minhas musicas favoritas e que intitula meu novo show Fascination aqui in France. Muito obrigada por esse artigo, nos brindando com mais conhecimento e curiosidades a respeito dessa perola que Elis Regina magnificou. Bjs David

Jussanam disse...

Acabei de ler esse artigo, agora, em 2023 sobre uma das minha musicas favoritas e que intitula o meu novo show aqui en France : Fascination. Muito obrigada David, voce sempre nos brinda com muitas curiosidades e aumenta nosso conhecimento. Bjs de Cannes, France

Dirce Cândido disse...

Por que o título "Elis Regina e a história da música “Fascinação”?
Desculpa, mas essa senhora é só mais uma intérprete dessa canção, não podemos endeusá-la, nem dá-lhes os créditos solo de 'Fascinação', lembrem-se de Carlos Galhardo e a versão extraordinária na voz do Agnaldo Timóteo, e parem com essa coisa de achar que essa mulher é a melhor cantora do Brasil...
O problema é que uma parte nojenta, asquerosa e intragável da elite decadente acham que dona Elis Regina, era a dona da voz, NÃO ERA, NUNCA FOI! Os MPBostas (mainstream) sempre se acharam a última bolacha do pacote.
Sabe, eu queria que tivesse acontecido um duelo da Perla Paraguaia, com a intragável, arrogante e insuportável Elis Regina... Perla a colocava embaixo do chinelo... com seu vozeirão magnífico!
Mas dona Elis, no auge de sua megalomania, jamais cantaria em um programa popular e trataria de se ver livre da Perla, como fez com Nana Caymmi, Claudete Soares, Maricenne, Claudya, Alaíde e principalmente Nara Leão... pesquise! Imagina com a batalhadora e carismática cantora Paraguaia Perla, a qual a cruel Elis, cantorazinha mainstream, se fez que não a conhecia, chamando-a de gringa, debochando que ela cantava por um prato de comida. 🧐 Como um carro desgovernado, ela passava por cima de todas que cruzassem, o seu caminho... Sinta-se a vontade para remover o meu desabafo... o importante é que você leu.
Agora que já leu... pode remover meu desabafo.