Curiosos
observam bombeiros no resgate do corpo.
Foto:
José Roberto de Toledo | jornal Estadão
|
A
insistência com que aquele urubu voava baixinho num trecho da margem do Rio
Pinheiros, chamou a atenção de ciclistas e motoristas próximos à Cidade
Universitária, zona oeste da capital São Paulo. No local são comuns estas aves
petiscando montes de lixo tirados do rio, e deixados para secar na lateral da
ciclovia. Mas o sobrevôo circular constante do urubu sobre um único ponto na
beira da água, indicava que ele estava de olho em algo diferente na manhã deste
domingo, 22 de março. Cismados com o comportamento do bicho, populares
acionaram o Corpo de Bombeiros por volta das 11h. Constatou-se que o urubu
conseguiu o que 10 viaturas e 32 militares tentavam há três dias – encontrar o
corpo do aposentado José Fonseca da Silva, 69 anos, morto pela tromba d’água
que se abateu sobre Taboão da Serra na tarde da última 5ª-feira, dia 19.
Esta não
foi a primeira vez que o corpo de pessoa morta por enchente em Taboão da Serra
é encontrado boiando no Rio Pinheiros.
Suplício no Morro do Cristo
O
resgate de José Fonseca da Silva do leito do rio demorou cerca de uma hora e
meia. O corpo estava muito inchado e em decomposição adiantada.
Morador
do município de São Paulo, o aposentado havia trazido pela primeira vez sua
esposa a Taboão da Serra, para fisioterapia na mão operada recentemente. Ao
sair do procedimento, a mulher não viu o marido na porta da clínica. Avisou o
filho Alessandro pelo celular. Enquanto tentava telefonar para o pai, o rapaz
reconheceu pelo telejornal o carro dele arrastado, engolido e capotado pela enxurrada.
Nália
Garcia relembra o choque de ver o padecimento do
idoso engolido pela enchente. Foto: Reprodução TV Globo |
O lugar
do suplício de José Fonseca foi o mesmo onde todos os anos é encenada a
crucificação de Cristo na Sexta-Feira da Paixão. O homem ficou com o pé
preso no veículo ao tentar se livrar da sanha assassina das águas. Quando
conseguiu se soltar, a correnteza cumpriu sua intenção de matar.
Uma
moradora filmou com seu fone celular todo o sofrimento do idoso. “Muito chocante
mesmo. A gente estava aqui, de espectadora daquela tragédia, e sem poder fazer
nada”, disse Nália da Silva Garcia, moradora do bairro há cinco anos e sete
meses.
Em
fevereiro de 2010, a mesma Nália Garcia, na época com 30 anos, revelou para a
imprensa os seus medos a cada época de chuvas. Neste verão trágico de 2015,
Nália assistiu a sequencia mais macabra jamais registrada durante as enchentes
que infelicitam Taboão da Serra.
Três
anos atrás, no dia 16 de dezembro de 2011, outro corpo de morador de Taboão da
Serra foi encontrado boiando na mesma localidade onde acharam hoje José Fonseca,
perto da Ponte Cidade Universitária.
Na
ocasião, os Bombeiros identificaram Roberto, 48 anos. Ele havia caído na noite
anterior, por volta das 23h15, ao tentar atravessar uma pinguela sobre o
córrego que cruza o bairro Jardim Saporito onde morava.
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