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Cantora faz show intimista nesta sexta-feira |
“Você me
espera um pouco? Tô carregando uns caixotes aqui para minha nova casa”. Começa
assim a entrevista com a cantora Fernanda Coimbra, 27 anos, na tarde fria
garoenta de uma segunda-feira. Além da mudança de lar, a moça está às voltas
com o show que vai apresentar nesta sexta-feira, 5 de junho, na Fábrica de
Cultura a poucos metros de onde mora no bairro Capelinha, distrito do Jardim
São Luis, zona sul paulistana.
A
reportagem também ‘entra na dança’ e pega algumas caixas de madeira para servir
de estante onde a artista se mudou recentemente. No caminho da residência,
minha dúvida: “Se ela veio pra cá há poucos dias, como é que...?”. Fernanda vai
descendo a rua e é um tal de “Oi!” pra uns, “Boa tarde!” pra outros, “E aí?”
pra muitos. “É que na verdade eu estou voltando pra cá”, ela explica. “Eu me
criei neste bairro desde os 6 anos de idade”.
Reparo que
uma das travessas da via por onde andamos chama-se Rua da Música Aquática – tem
uma outra com nome Rua Quarteto do Imperador. Bem adequado para uma garota que
ganha a vida com canções.
A casa
em que Fernanda está morando é um reino de mulherada, mulherame, mulherio. “Aqui
vivemos eu, minha filha Lorena de 7 anos e cinco amigas, todas artistas. É a ‘casa
das 7 mulheres’”, sorri.
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Fernanda Coimbra também é ritmista |
Fernanda
Coimbra formou um razoável público nas suas constantes participações nos
encontros poéticos do Sarau do Binho. “Sempre gostei de cantar. Não lembro de
mim sem cantar desde pequena. Quando eu tinha 10 anos, minha mãe me levou no
Programa do Raul Gil, e cantei Sandy e Junior”, lembra às gargalhadas. Aos 12
anos, a menina fazia parte do coral da Igreja Maria Goreth.
Com 14
anos de idade Fernanda Coimbra ingressou em um curso de teatro na ONG Casa dos
Meninos. “Foi uma revolução na minha vida. Uma pessoa que me influenciou muito
foi a Diane Padial, que na época era coordenadora pedagógica na Casa dos
Meninos. Muito da minha formação eu devo a ela. Quando eu crescer quero ser
Diane Padial”, brinca.
O
espírito libertário da jovem rendeu-lhe problemas com o pai. “Para reprimir
minha veia artística, ele impunha o terror psicológico. Cheguei a dormir com
fome. ‘Da minha comida você não come’, ele disse muitas vezes. Daí comecei a
fugir de casa, passar dias nas casas de amigas. E até dormir em galpão de
fábrica abandonada”, relembra.
Para
garantir sua independência perante o pai castrador, Fernanda começou a
trabalhar aos 16 anos em uma loja de roupas no Shopping Boa Vista, na região de
Santo Amaro.
Por esta
época já tinha contato (e até passado a morar eventualmente) com uma comunidade
de artistas no Jardim Monte Azul. “Minha amiga Paty, colega da 7ª série, tem um
irmão que fazia parte deste coletivo de artistas do bairro Monte Azul. Foi lá
que conheci o pessoal do grupo Trópis, o compositor Gunnar Vargas, a cantora
Paula da Paz e uma galera imensa que se dedica à arte”, conta.
As
cantorias pelos saraus deram notoriedade suficiente para Fernanda Coimbra ser
convidada a integrar bandas em shows. “Meu amigo Jefferson me apresentou para
um grupo de jazz e bossa-nova, eu cantei os Afro Sambas do Baden Powell e
Vinícius de Moraes. Tocamos no Ton Ton Jazz, em Moema. A banda tinha o nome Al
Jazeera, mas era composta só por descendentes de japonês”, diz, sempre rindo.
Mas
Fernanda não era neófita em bandas exóticas. “Com 15 anos eu fui baterista de
um conjunto com nome horroroso!”. Por insistência do repórter, ela confessa: “Quando
a gente foi dar nome pra banda, meu amigo Diego vestia uma camiseta do
Homem-Aranha. Daí batizamos o grupo de ‘Os Aracnídeos’. Que vergonha, meu Deus!”.
(mais gargalhadas)
Me
lembro dessa cantora em um show intimista com características eróticas em
outubro de 2012, no teatro Clariô – “Fernanda Coimbra inteira à meia luz”, com o
baixista Gabriel Catanzaro.
Meses
antes, no inverno daquele 2012, ela havia feito o primeiro show solo de sua
carreira com o repertório eclético que sempre pautou o seu cantar, incluindo
Pink Floyd, Edu Lobo, Ithamar Assumpção, e composições de colegas no Espaço
Comunitário Monte Azul, acompanhada por Sandrinho Lima (violão), Pithy Cajonero
(percussão) e Carlinhos Creck (baixo). Neste mesmo ano, fez apresentações na
casa Carro de Bois, com Sandrinho Lima.
Enquanto
firmava seu nome no cenário musical da periferia paulistana, Fernanda colecionou
colegas e canções. E muitas participações especiais em gravações de amigos como
Cauê Procópio, Tati Botelho, Luis Barbosa, Fino do Rap, Lews Barbosa. Fez
também backing vocal na Absolute Pink Floyd Cover, cantou na banda Mandioca
Paulista com o Fino da Bossa... Por onde passa vai espalhando sua voz, garantindo sua vez.
O
ano de 2013 foi um marco na montagem do repertório de Fernanda Coimbra. “O
Daniel Fagundes fez uma canção sobre um episódio que de fato ocorreu em um bar
onde fomos. Ele deu o nome de ‘Alma Vadia nº 2’, disse que a música tinha a
minha cara, e deu pra eu gravar”, relata satisfeita. “Desde então eu venho
guardando repertório com criações de amigos meus. O resultado disto é o que vou
mostrar no show desta sexta-feira”, revela.
A
acordeonista Nanda Guedes, que estará no palco hoje com Fernanda Coimbra,
chegou à banda por meio do Facebook. “Eu concebi este show com acompanhamento
de acordeon. Lancei um convite pelo Face, daí a compositora Lívia Barros fez a
ponte entre a Nanda e eu”. Também é pelo Facebook que Fernanda resolve
problemas práticos do show, seja para pedir um pedal emprestado, ou para
contratar o percussionista no lugar do colega que não pôde manter o
compromisso.
A lista
de canções do espetáculo desta noite traz Chove
(Gunnar Vargas), Alma Vadia nº 2
(Daniel Fagundes), Penugem Arapuca
(Matheus Von Kruger), Despedida
(Camila Brasil), Menezes (Juh Vieira),
Vestido Preto (Gunnar Vargas), Because Ousa (Dani Black e João Garizo),
Caminho (Gunnar Vargas), Meu Coração é um Muquifo (Juh Vieira), Daria um Samba (Jennifer Nascimento e
Daniel Fagundes), De Protesto (Juh
Vieira), Sete Laços (Lívia Barros,
Bianca e Juá de Carvalho), e uma ou outra surpresa na hora dos bises.
Ouça a
gravação de algumas destas composições aqui
Para
contratar shows de Fernanda Coimbra, acesse
Serviço:
dia 5 de junho (sexta-feira), às 20h
Fernanda Coimbra e os Digníssimos
Nanda Guedes (acordeon), Abhul
Junior (percussão), Danilo Viana (baixo)
Grátis
Fábrica de Cultura Jardim São Luís
Rua
Antônio Ramos Rosa, 651 - São Paulo (SP)
(11)
5510-5530
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