Investigador aposentado Luiz Braz - Foto: David da Silva - 20.nov.2021 |
David da Silva
Aquele ladrão, perseguido pelo homem baixinho e barrigudo, não teria saído correndo de dentro do ônibus se soubesse o que o Braz foi na adolescência. “Dos meus 13 aos 17 anos eu era do atletismo. Fui lutador de boxe. Atleta do São Paulo. Fazia salto de vara, pulava 3 metros e 20 de altura”, conta o investigador de polícia aposentado Luiz Carlos Braz de Souza, que daqui a exatos 30 dias vai festejar 72 anos de vida.
Filho mais velho de Pedro e Maria Eliza, irmão do José Carlos (já falecido) e da Rosimeire Fátima, ele traz o DNA de uma família voltada ao serviço público. “Meu pai foi motorista dos ex-governadores Adhemar de Barros, Jânio Quadros e Laudo Natel. Minha mãe trabalhou por 30 anos na diretoria de Enfermagem do Hospital das Clínicas, e meu irmão era agente de segurança na Assembleia Legislativa”, enumera Braz, que entrou para a Polícia Civil em 1970.
Na
noite da cena do ônibus descrita no primeiro parágrafo, por volta de 1993 eu conversava com o Braz em pé, na
frente de uma lanchonete na Avenida Paulo Ayres, em Taboão da Serra. O ônibus
passou devagar na porta do boteco, e Braz espetou o olhar certeiro sobre um dos
passageiros. Que também o reconheceu e tentou dar no pé. “Eu tinha prendido
aquele cara uma outra vez, e achei estranho ele ali numa boa. Fui pra cima, e não
deu outra: tinha fugido. Levei de volta pra cadeia”.
Fissurado pela profissão, Braz costuma dizer quando prende um criminoso: “Foi uma cena bonita”.
Não
bastassem as aventuras proporcionadas pelas delegacias, a vida pessoal de Braz
tem ingredientes trágicos, dignos de filme policial. Difícil na história do
cinema o fato real de um pai que prende por cinco vezes os dois assassinos do seu
filho. A cada uma das cinco fugas Braz chegou aos foragidos antes dos seus
colegas de trabalho.
Acima e além de toda a dor paterna, ele garante: “Adoro investigar”.
Mentalidade do crime
Ao
criar o personagem Auguste Dupin, primeiro detetive moderno da literatura
universal, Edgar Allan Poe afirma que o bom policial deve ter a capacidade de
se colocar na mente do criminoso. E ter muita imaginação artística.
É o que não faltou na carreira profissional de Luiz Carlos Braz.
No
baú das recordações do veterano policial ainda estão guardados alguns dos
estratagemas que usava para acossar suspeitos. Farda completa, mochila e boné
de carteiro dos Correios. Roupa de funcionário da Eletropaulo. Vez em quando algum ladrão era levado em cana por um "vendedor de cachorro-quente".
Nos
anos 90 fiz reportagem onde Braz passou uma semana inteira vendendo laranjas
numa barraquinha no Parque Laguna. “Tive de vender laranja pra c* até conseguir
as provas contra um bando”, lembra rindo.
Para prender um procurado pela polícia da Bahia, que após cinco anos de sequestros e mortes na região de Vitória da Conquista se amoitou no ABC paulista, Braz montou uma falsa equipe de repórteres de TV. Cinegrafista, jornalista simpático e apresentadora muito bonita – todos policiais. A prisão deste elemento rendeu a Braz cumprimentos efusivos da Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia, e uma dezena de páginas elogiosas no livro de memórias do delegado Valdir Gomes Barbosa, que havia se deslocado do nordeste até SP para a missão.
Memórias
De
dentro da pasta recheada de recortes que o entrevistado mostra ao repórter, não
param de sair páginas de jornais com suas aventuras. E também documentos que
vão direto para molduras na parede – seja parede física, ou simplesmente a
parede da memória.
Como
a notícia datada de 20 de dezembro de 1996 dando conta que Braz foi homenageado
pela terceira vez como “Policial do Mês” ao resgatar o bebê André Kideki
Yonemoto Fuji, de 2 anos, sequestrado da casa dos avós.
Em setembro de 2000 ele não levou mais que alguns minutos para salvar uma garota de 16 anos, cujos sequestradores exigiam R$ 100 mil de resgate. “Por experiência anterior eu fui direto para um morro atrás do Recanto Gaúcho [extinta churrascaria em Embu das Artes] e a menina tava lá num cativeiro improvisado”, relembra.
Braz prende Baianinho pela segunda vez - 04.dez.1997 |
Caçada implacável
Em
março de 1996 o sangue invadiu a vida da família Braz de Souza. Pedro de Souza
Neto, 21 anos, filho do investigador, foi morto a tiros a poucos metros de sua casa,
no bairro Ferreira, zona oeste de São Paulo. O rapaz ainda voltou, em vão, pedir
socorro na residência onde 15 minutos antes havia almoçado com o pai.
Trespassado
pela dor, Braz iniciou naquela mesma tarde a busca obstinada pelos assasinos.
Um
mês depois os encontrou. O primeiro, Delmarcos dos Santos, vulgo Baianinho, então com 20 anos, foi preso
no Pirajuçara, Taboão da Serra, após o rastreio de um cheque de R$ 200,00. O
segundo, Nilson Martins Porto, vulgo Kid
Nil, na época com 20 anos, foi preso minutos depois em uma chácara em
Itapecerica da Serra, após ser caguetado pelo comparsa.
Seis
meses depois, em outubro de 1996 Baianinho
escapou da carceragem do 34º DP (Vila Sônia) por um túnel, fuga facilitada por
um carcereiro. Durante 14 meses Braz lançou-se a uma caçada excruciante. Em 420 dias fez
três viagens à Bahia, palmilhando os 7.620 km das três idas e três voltas entre
São Paulo e o município Itanhaém no extremo sul baiano, onde moravam parentes
do matador.
Por
fim, às 2h da madrugada de 4 de dezembro de 1997 Braz recebeu telefonema de um
informante, dizendo que o foragido estava morando em Ferraz de Vasconcelos e trabalhando
em Poá, municípios da região metropolitana da capital paulista. Braz foi
buscá-lo com os colegas Edair do 37º DP (Campo Limpo) e Reinaldo do 34º DP
(Vila Sônia). Baianinho trabalhava
em uma oficina mecânica próxima à Delegacia de Poá e, por estranha ironia,
chegou a consertar algumas viaturas policiais. Talvez achasse que nunca mais
entraria algemado em uma delas.
Braz
chegou a vomitar ao olhar frente a frente o assassino do seu filho. “Não tive
vontade de matar o cara. Sabia que o sofrimento dele ia ser muito maior dentro da
cadeia”.
Baianinho voltou a fugir no primeiro semestre de 2000 por um túnel cavado no 5º DP (Aclimação). Em outra ocasião fugiu de uma audiência ao pular, mesmo algemado, por uma janela do Fórum Taboão da Serra. Em todas essas vezes foi recapturado por Braz.
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O
criminoso Kid Nil também é chegado
em fugir. Em 24 de novembro de 2000 escapou enquanto era transferido da
Penitenciária do Estado para o presídio de Franco da Rocha, na Grande São
Paulo. Foi preso novamente em 20 de abril de 2001 ao tentar descer para Santos
com uma Kombi roubada. Duas semanas depois, no Dia das Mães em 12 de maio de
2001 fugiu pela muralha do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Osasco.
Em novembro daquele ano, após algumas viagens até Santos (SP) atrás de pistas, Braz encontrou uma ex-amante do bandido, que revelou que Kid Nil estava em Hortolândia, interior de SP, onde Braz foi buscá-lo.
Braz (camisa azul) prende Kid Nil pela quinta vez - 16.nov.2001 |
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Hoje, após 25 anos presos cumprindo pena, Kid Nil mora em Taboão da Serra, e Baianinho vive, supostamente, na zona leste da Capital de SP.
Luiz Braz trabalhou no DOPS durante 12 anos; depois nos 36º DP (Vila Mariana), 34º DP (Vila Sônia), 1º DP Taboão da Serra, Seccional de Taboão da Serra, DP de Cotia, e aposentou-se em Taboão da Serra como chefe do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos). Também é aposentado pela Rede Globo de Televisão como segurança da família Marinho e de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni
Policial sem preguiça para combater o crime e honrar sua profissão. O conheci em seu trabalho. Parabéns David como sempre uma ótima matéria.
ResponderExcluirInteressante, mas, em Taboão da Serra quem recebe honrarias, medalhas, ruas e praças batizadas são os apoiadores dos políticos parasitas e seus familiares. Os verdadeiros heróis nunca são lembrados.
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