sexta-feira, 10 de junho de 2022

Bebê é enterrada 7 dias após troca de corpos no IML-Taboão

David da Silva

A vendedora Amanda Lima de Melo Santiago, de 22 anos, reformou toda a sua casa na favela Paraisópolis para a chegada de Clarice. O quarto onde a neném iria dormir com sua irmã de três anos foi totalmente decorado. O parto normal com fórceps de alívio (quando o bebê já está no canal da vagina) foi feito no hospital Family, em Taboão da Serra. Clarice tinha 39 semanas e estava com 3,5 kg. Mas, nasceu morta. Seu corpo foi trocado por outra criança no IML-Taboão da Serra, e ela só pôde ser enterrada corretamente uma semana depois. O enterro foi hoje, 6ª-feira (10).

O hospital Family teve dificuldade de identificar a causa da morte, e enviou o corpo ao IML (Instituto Médico Legal) de Taboão da Serra para o Serviço de Verificação de Óbito. Na hora de entregar a criança para o sepultamento, Clarice foi trocada por uma menina prematura com peso e tempo de gestação diferentes – Clarice, 39 semanas, três quilos e meio, foi “confundida” com uma bebêzinha prematura de 30 semanas e apenas 1,5 kg.

A mãe teve de ficar internada em observação; não queria ver o que perdeu, mas pediu para o marido fazer uma foto da filha. “Mesmo ela não estando mais aqui comigo, eu queria saber como ela era, porque ela existiu”.

“É assim mesmo”

O pai da criança prematura achou estranho quando retirou o corpinho para o velório. “Tá muito gordinha”, questionou. O funcionário do IML disse: “É assim mesmo. Quando morre, incha”.

Quem não entrou na conversa do funcionário foi a tia de Clarice. Ela foi fazer o reconhecimento do corpo, e notou a diferença comparando com a foto que o pai havia feito. “O funcionário da funerária contratada por nós chamou nossa atenção para a diferença de peso que constava no papel”, conta Andressa, irmã de Amanda. “Além de ter a metade do peso, a [criança] que foi entregue pra gente estava com alguns membros ainda em formação por ser prematura”. Teve corre-corre no IML. O funcionário prometeu trazer o corpo correto em 90 minutos, mas a criança já tinha sido enterrada pela outra família, moradora de Itapecerica da Serra.

No sétimo dia

A família precisou contratar advogado para conseguir a exumação. A Justiça só deu ordem uma semana depois. Enquanto isto, a prematura ficou na geladeira.

O velório de corpo presente de Clarice foi simultâneo à sua Missa de Sétimo Dia.

A mãe faz severas críticas ao modo como foi atendida no hospital Family. “Fiquei várias vezes sozinha no quarto. Não tive problema nenhum no pré-natal. Fiz o acompanhamento com a mesma médica que acompanhou minha gravidez da primeira filha. No óbito da Clarice, o hospital disse que ela morreu por falta de oxigênio. Durante todo meu pré-natal ela respirava normal”.

O IML e o hospital reconheceram seus erros. Pediram desculpas. Prometem “providências”.

Clarice flutua na memória amargurada da mãe. Por enquanto, Amanda não quer entrar no quarto preparado para sua filhinha.

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