quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Previdência dos funcionários públicos de Taboão está com prejuízo de R$ 7 milhões

Em duas operações com a corretora Quantia, a Taboãoprev perdeu R$ 1,7 milhão, enquanto a empresa golpista lucrou mais de um milhão e meio de reais

David da Silva

A autarquia que administra a previdência social dos funcionários da Prefeitura e da Câmara de Taboão da Serra perdeu mais de 7 milhões de reais em aplicações mal sucedidas no mercado financeiro. Em investimentos com a corretora Quantia Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, que teve sua liquidação decretada em 2009, o prejuízo foi de R$ 1.728.000,00. Já nas negociações feitas em 2012 com a corretora Índigo Investimentos, o rombo foi maior: R$ 4 milhões. A Taboãoprev busca, agora, recuperar o dinheiro perdido por meio de duas Ações Civis Públicas. Servidores ouvidos pela reportagem ficaram surpresos, pois não estavam sabendo do ocorrido.

A finalidade da Taboãoprev é “preservar o direito coletivo dos seus segurados para que possam receber com tranquilidade os benefícios de aposentadoria e pensão por morte”. Segundo dados de junho/2023, no funcionalismo público municipal há 1.512 aposentados e 334 pensionistas.

A Ação Civil Pública contra a corretora Quantia foi aberta em 7 de julho deste ano. A ação contra a Índigo Investimentos é de 26.set.2022.

Liminar negada

Em 20.jan.2012 a Taboãoprev investiu R$ 3 milhões em fundos financeiros administrados pela corretora Índigo Investimentos. Em 19 de julho daquele mesmo ano, investiu mais R$ 1 milhão com a mesma corretora. “Ocorre que, sem qualquer aviso, em 2021 a corretora notificou a Taboãoprev de que iria liquidar o investimento, alegando que sofrera prejuízos”, relata na ação judicial. Logo depois de receber a má notícia, a Taboãoprev soube que a corretora abriu falência na Comarca do Rio de Janeiro. Em assembleia geral dos investidores, a autarquia taboanense pediu relatórios da movimentação do capital aplicado, mas não foi atendida.

Em 26.set.2022 a Taboãoprev deu entrada no Fórum de Taboão da Serra, pedindo o bloqueio dos bens da corretora Índigo Investimentos no valor dos R$ 4 milhões que perdeu. Mas, no dia 07.dez.2022 o juiz Rafael Rauch negou a liminar.

“Não se verifica, no caso concreto, a probabilidade do direito da parte [da Taboãoprev], uma vez que (...) em se tratando de investimento do mercado de capitais, o investimento feito pela [Taboãoprev] é eminentemente de risco”; "o investimento no mercado de títulos e valores mobiliários, sobretudo o de opções e de compra a termo de ações, pode, inclusive, levar a perdas superiores ao capital investido”, disse o magistrado na sua sentença, e acrescentou: “não há demonstração de conduta irregular por parte da corretora, [a própria Taboãoprev] atuou no after market [compra e venda de ações após o horário de expediente da Bolsa de Valores], aumentando sua exposição. Ou seja, restou inequívoca a intenção [da Taboãoprev] de uma exposição maior ao ativo, comprando até o limite do after market. A razão do prejuízo sofrido não pode ser imputada à corretora, sendo nitidamente decorrente de própria decisão tomada pelo investidor. O saldo devedor [da Taboãoprev] teve origem após a compra das ações, ou seja, em 26 de junho de 2012”.

O juiz Rauch determinou ainda que fosse notificada a Comissão de Valores Mobiliários, seguindo o entendimento do Ministério Público de Taboão da Serra, para quem o caso deve ser levado à Justiça Federal.

Liminar concedida

Já na Ação Civil Pública protocolada no último dia 7 de julho, a Taboãoprev teve mais êxito. O juiz Guilherme Cavalcanti Lamêgo concedeu a liminar seis dias depois, em 13.jul.2023.

A Taboãoprev acusa a corretora Quantia Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda de fazer uma “sequência de operações de compra e venda de um mesmo título numa mesma data e a preços unitários fora do padrão do mercado”. Nas duas operações financeiras que praticou com essa corretora, a Taboãoprev perdeu um milhão e setecentos mil reais, enquanto a corretora lucrou mais de um milhão e meio (R$ 1.558.000,00). Além do bloqueio dos R$ 1.728.000,00 perdidos, a autarquia quer que seja feita perícia judicial para avaliar o real tamanho do prejuízo.

A Taboãoprev diz na sua petição que o relatório do Banco Central sobre a corretora Quantia estava em segredo de justiça, e que o sigilo só foi quebrado em 11.nov.2022.

Porém, a notícia da liquidação extrajudicial da corretora foi amplamente noticiada no mesmo dia 09.nov.2012.

O Comitê de Investimentos falhou na sua missão. 

Segundo as diretrizes da Taboãoprev, o Comitê de Investimentos tem o dever de “analisar a conjuntura, cenários e perspectivas de mercado, avaliar as opções de investimento, propor mudanças ou redirecionamento de recursos, e fazer avaliação de riscos potenciais da aplicação de mercado”.

Na última 4ª-feira (25), o juiz Guilherme Cavalcanti Lamêgo determinou que “sobre a notícia de falência da empresa requerida [corretora Quantia], traga o autor [Taboãoprev] cópia da decisão de quebra”.

Baixa participação

Os números das duas últimas eleições na Taboãoprev revelam baixa consciência do funcionalismo público sobre o destino da autarquia. Na votação para o Comitê de Investimentos em 23.fev.2022, votaram apenas 1.554 servidores ativos e 84 aposentados.

Em 26 de julho deste ano, na eleição do Conselho Deliberativo e do Conselho Fiscal, estavam aptos a votar 6.414 servidores. Apenas 2.448 (38,16%) votaram, sendo 2.212 ativos e 276 aposentados. A abstenção foi de 61,83% (3.966), além de 267 votos brancos e 188, nulos.

“Estou surpreso”

A reportagem conferiu se os funcionários foram informados do dano financeiro de aproximadamente 6 milhões de reais (R$ 5.728.000,00) sofrido pela Taboãoprev. “Estou surpreso. Não sabia desse prejuízo”, exclamou o professor aposentado Antonio Carlos Fenólio, que tem 27 anos de contribuinte na previdência municipal. Quem igualmente ficou admirado com a informação, foi o também professor aposentado Said Jorge de Moraes, com 41 anos de contribuição.

Com o servidor público em atividade Maurício Lourenço não foi diferente. “Não tenho conhecimento”, disse ele na noite desta 3ª-feira, ao saber do dano ao patrimônio da autarquia. Maurício é presidente da Associação dos Aposentados e Pensionistas da Taboãoprev.

6 comentários:

Jose Alves Melo disse...

Como pode todo mundo não reconhecer essadivida absurdo

Anônimo disse...

Coitados dos servidores concursados que contribuem para essa autarquia. Ganham pouco por mês, deixam na fonte 14% para a taboao prev e os incompetentes fazem isso com o dinheiro.
Nunca vi tanto problema em um município. Lamentável.

Anônimo disse...

É um absurdo, um órgão que deveria zelar do dinheiro das aposentadorias perder tanto dinheiro nesses investimentos. E o pior, nenhum membro do conselho fiscal avisar ou fazer essa fiscalização.

Anônimo disse...

Meu Deus tenha piedade dessas pessoas que necessitam se aposentar, enquanto nisso tem muitos ganhando salários altíssimo sem trabalhar.

Anônimo disse...

Deveriam prender esses nefastos que jogaram no bolso de bandidos o dinheiro dos servidores públicos municipais concursados, confiscar também seus bens. Isso foi um golpe, não foi erro coisa alguma.

Anônimo disse...

"Parabéns" pela "Competência" da superintendente do Taboãoprev, dra. eliana bendini!!!!