Ao gosto do freguês: 46% das pesquisas são pagas com dinheiro suspeito, diz ABEP

Escritório da empresa Instituto M.A.S. de Carapicuíba que fez pesquisa eleitoral em Taboão da Serra

David da Silva

De janeiro a setembro deste ano, foram registradas oito pesquisas sobre as eleições em Taboão da Serra. A primeira foi cancelada. Dentre as com seus registros mantidos, apenas uma emitiu nota-fiscal para veículo de comunicação. Nenhuma das sete pesquisas declara como contratante partido político ou órgão de imprensa local. O blog investigou os endereços das empresas pesquisadoras. Três delas, dizem ter feito as pesquisas com recurso próprio. “Alguma coisa não está correta”, diz João Francisco Meira, do conselho superior da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), para quem esse assunto virou “escândalo nacional”.

Investigação da Abep divulgada em maio de 2024, revelou que, de 1º de janeiro a 14 de abril, das 943 pesquisas registradas na Justiça Eleitoral, 45,85% foram pagas pelas próprias empresas pesquisadoras.

O blog bar&lanches taboão apurou que, dos R$ 76.657,00 declarados como custos das sete pesquisas, 65,43% aparecem como pagos pelas próprias empresas que fizeram as pesquisas. Ou seja, dos quase R$ 77 mil, elas teriam deixado de cobrar R$ 50.157,00 dos candidatos ou veículos de comunicação interessados nos levantamentos de opinião do eleitor.

“O volume que esse tipo de prática atingiu [pesquisa com ‘recurso próprio’] é um verdadeiro escândalo nacional”, afirma o conselheiro da Abep João Francisco Meira, que também é sócio-diretor do Instituto Vox Populi

Na Resolução 23.727, de 27.fev.2024, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não considera ilegal as pesquisas autofinanciadas.

“Uma empresa de pesquisa é igual a qualquer outra. Ela tem que ter faturamento para conduzir a pesquisa, pagar transporte e alimentação dos entrevistadores, pagar o estatístico responsável pela análise dos dados, pagar impostos”, destaca Duílio Novaes, presidente da Abep, de quem chama a atenção algumas empresas apresentarem valor que não cobre os custos básicos do trabalho executado.

Via de regra, pesquisas autofinanciadas trazem resultados que se tornam peças de propaganda política.

A investigação do blog traz cruzamentos de dados curiosos, como uma empresa de Santa Bárbara D’Oeste, no interior do Estado de São Paulo, fazer pesquisa eleitoral em Taboão da Serra e receber de uma empresa de Santo Antonio da Platina, interior do Paraná.

A empresa Olhar Público, com sede no Rio de Janeiro, está fazendo hoje pesquisa em Taboão da Serra, com resultado previsto para 6ª-feira (4). Ela será paga por uma empresa de São José do Rio Preto (SP). A Olhar Eletrônico não tem escritório próprio. Utiliza sala compartilhada por cerca de 10 empresas, no esquema de coworking.

PESQUISAS ELEITORAIS – TABOÃO DA SERRA

Empresa	Pagante	Valor
Nova SP	Recurso próprio	R$ 10 mil 600 entrevistas
MAS Pesquisa	Giro Barueri (SP)	R$ 8 mil 425 entrevistas
AR7	Master Pesquisa Sto Antonio Platina (PR)	R$ 5 mil 600 entrevistas
Publi QC	VS Publicidade  Osasco (SP)	R$ 4.500 600 entrevistas
Badra	Recurso próprio	R$ 8 mil 1.060 entrevistas
Instituto Veritas	Recurso próprio	R$ 32.157 810 entrevistas
Olhar Público	Bom Dia Rio Preto S. J. do Rio Preto (SP)	R$ 9 mil 400 entrevistas

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE)