quinta-feira, 24 de abril de 2025

Mães relatam falhas no atendimento a autistas em escolas da Prefeitura de Taboão


David da Silva

Há nove meses Paloma Silva Moreira mudou-se de São Bernardo do Campo, no sudeste da Grande São Paulo, para Taboão da Serra, a sudoeste da mesma região. Segundo o aplicativo Waze, dá para percorrer a distância entre os dois municípios em cerca de uma hora pelo Rodoanel. Mas a diferença entre as duas prefeituras no atendimento aos filhos autistas de Paloma está sendo intransponível. “Em São Bernardo meus filhos tinham todo apoio escolar, e sempre estudaram em período integral. Infelizmente aqui em Taboão da Serra eles nem conseguem ir para a escola”, conta a mãe. Na última semana ela foi às redes sociais lançar o apelo: “Gostaria muito de uma ajuda, pois não sei mais o que fazer”.

Paloma é autista, tem 33 anos de idade, três filhos e algumas comorbidades. Suas crianças – uma menina e dois meninos – herdaram sua saúde.

A mãe relata que no início deste ano esteve na Secretaria da Educação e foi orientada a mudar os filhos de escola. “Até agora não estão estudando”, postou no último dia 15 de abril. E não foi a primeira conversa: “Já fiz várias reuniões com a Secretaria da Educação e a equipe multidisciplinar, e nunca foi resolvido nada”.

Paloma lamenta que as suas crianças estejam em risco de regressão: “Todo o avanço que tiveram em São Bernardo do Campo foi perdido”.

Com 19 anos de serviço na rede municipal de ensino de Taboão da Serra, Natália Gerônimo comentou a denúncia de Paloma no Facebook: “Não generalize. Na escola que eu trabalho fazemos um excelente trabalho com todo suporte possível. Na minha turma tenho três [alunos com] TEA (transtorno do espectro autista). Não tenho auxiliar, trabalho em sala com eles e mais 33. Todos são atendidos pelo AEE (Atendimento Educacional Especializado) e ficam na escola o período todo, cinco horas por dia”, diz a professora da EMEB Aracy de Abreu Pestana.

Janaína Dantas tem um relato diferente. “Meu filho estuda na escola Aracy de Abreu Pestana. Eu entendo sua angústia [Paloma]. Nada aqui no Taboão está preparado para acolher as crianças e as mães atípicas. É lei ter um acompanhante. Infelizmente as coisas aqui só funcionam na teoria, porque na prática a realidade é outra”, escreveu Janaína no Instagram.

“Eu vivo a mesma coisa”, relata Jessica Pelissaro Medeiro. “Meu filho fica três, quatro dias em casa quando não está bem. Aí levo pra escola, e em menos de duas horas eles me ligam, não sabem lidar. Meu filho tem dificuldade na fala, e eles não querem colocar o professor auxiliar. Ele tem 11 anos e não é alfabetizado até hoje. Taboão é um descaso com autistas. O meu estuda na EMEB Francisco Ferreira Paes”.

Para Rayane Conrado, “só gostam de falar de inclusão no dia 2 de abril, depois somem. Taboão não tem preparo para receber as crianças autistas. A criança não pode dar um choro que eles já ligam pedindo para buscar. Digo isso porque tenho um sobrinho nível 3 não verbal, e sei o quanto sofremos com ele. Até uma pequena rinite atacada eles ligavam para buscar. Não tem uma terapia, fora que pra conseguir vaga é muito difícil, tem que brigar”.

Nanny Faria também tem um caso parecido de escolas diferentes e problemas iguais: “Tenho um berçário particular com minha mãe em Taboão. Uma das nossas crianças estuda meio período na EMEB Maria Alice Borges Ghion. Ele foi pra lá esse ano; no ano passado estava na EMEB Cuca. Ambas as escolas ligam pro pai ir buscar. Ano passado chegou ao ponto da escola Cuca falar para o pai não levar à aula, pois a auxiliar não iria trabalhar naquele dia. Esse ano no Maria Alice ele entra às 14h e o pai tem que buscar às 16h”.

Cleide Oliveira resume o dilema da relação de casas com autistas e os profissionais da Educação que os atendem: “Passei por situações com meu filho hoje com 6 anos que doem", declarou na página O Grito. "Estressante para ele e para nós como família, por falta de preparo da escola. Podem dizer que é só conversar e não brigar [com funcionários], mas quando pais atípicos chegam na escola e brigam, é porque já estão esgotados. Hoje meu filho está na EMEB Cecília Meirelles. Até o momento está sendo super acolhido e respeitado dentro das suas limitações”.

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