David da Silva
Há
nove meses Paloma Silva Moreira mudou-se de São Bernardo do Campo, no sudeste
da Grande São Paulo, para Taboão da Serra, a sudoeste da mesma região. Segundo
o aplicativo Waze, dá para percorrer a distância entre os dois municípios em
cerca de uma hora pelo Rodoanel. Mas a diferença entre as duas prefeituras no
atendimento aos filhos autistas de Paloma está sendo intransponível. “Em São
Bernardo meus filhos tinham todo apoio escolar, e sempre estudaram em período
integral. Infelizmente aqui em Taboão da Serra eles nem conseguem ir para a escola”,
conta a mãe. Na última semana ela foi às redes sociais lançar o apelo: “Gostaria
muito de uma ajuda, pois não sei mais o que fazer”.
Paloma é autista, tem 33 anos de idade, três filhos e algumas comorbidades. Suas crianças – uma menina e
dois meninos – herdaram sua saúde.
A
mãe relata que no início deste ano esteve na Secretaria da Educação e foi
orientada a mudar os filhos de escola. “Até agora não estão estudando”, postou
no último dia 15 de abril. E não foi a primeira conversa: “Já fiz várias
reuniões com a Secretaria da Educação e a equipe multidisciplinar, e nunca foi
resolvido nada”.
Paloma
lamenta que as suas crianças estejam em risco de regressão: “Todo o avanço que
tiveram em São Bernardo do Campo foi perdido”.
Com
19 anos de serviço na rede municipal de ensino de Taboão da Serra, Natália
Gerônimo comentou a denúncia de Paloma no Facebook: “Não generalize. Na escola
que eu trabalho fazemos um excelente trabalho com todo suporte possível. Na
minha turma tenho três [alunos com] TEA (transtorno do espectro autista). Não
tenho auxiliar, trabalho em sala com eles e mais 33. Todos são atendidos pelo
AEE (Atendimento Educacional Especializado) e ficam na escola o período todo,
cinco horas por dia”, diz a professora da EMEB Aracy de Abreu Pestana.
Janaína
Dantas tem um relato diferente. “Meu filho estuda na escola Aracy de Abreu
Pestana. Eu entendo sua angústia [Paloma]. Nada aqui no Taboão está preparado
para acolher as crianças e as mães atípicas. É lei ter um acompanhante. Infelizmente
as coisas aqui só funcionam na teoria, porque na prática a realidade é outra”,
escreveu Janaína no Instagram.
“Eu
vivo a mesma coisa”, relata Jessica Pelissaro Medeiro. “Meu filho fica três, quatro
dias em casa quando não está bem. Aí levo pra escola, e em menos de duas horas
eles me ligam, não sabem lidar. Meu filho tem dificuldade na fala, e eles não
querem colocar o professor auxiliar. Ele tem 11 anos e não é alfabetizado até
hoje. Taboão é um descaso com autistas. O meu estuda na EMEB Francisco Ferreira
Paes”.
Para
Rayane Conrado, “só gostam de falar de inclusão no dia 2 de abril, depois
somem. Taboão não tem preparo para receber as crianças autistas. A criança não
pode dar um choro que eles já ligam pedindo para buscar. Digo isso porque tenho
um sobrinho nível 3 não verbal, e sei o quanto sofremos com ele. Até uma
pequena rinite atacada eles ligavam para buscar. Não tem uma terapia, fora que
pra conseguir vaga é muito difícil, tem que brigar”.
Nanny Faria também tem um caso parecido de
escolas diferentes e problemas iguais: “Tenho um berçário particular com minha
mãe em Taboão. Uma das nossas crianças estuda meio período na EMEB Maria Alice
Borges Ghion. Ele foi pra lá esse ano; no ano passado estava na EMEB Cuca. Ambas
as escolas ligam pro pai ir buscar. Ano passado chegou ao ponto da escola Cuca
falar para o pai não levar à aula, pois a auxiliar não iria trabalhar naquele
dia. Esse ano no Maria Alice ele entra às 14h e o pai tem que buscar às 16h”.
Cleide
Oliveira resume o dilema da relação de casas com autistas e os
profissionais da Educação que os atendem: “Passei por situações com meu filho
hoje com 6 anos que doem", declarou na página O Grito. "Estressante para ele e para nós como família, por
falta de preparo da escola. Podem dizer que é só conversar e não brigar [com
funcionários], mas quando pais atípicos chegam na escola e brigam, é porque já
estão esgotados. Hoje meu filho está na EMEB Cecília Meirelles. Até o momento
está sendo super acolhido e respeitado dentro das suas limitações”.
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