Francisco Leite
Bin Laden e a sua rede terrorista, a Al Qaeda, foram criados pelos serviços secretos norte-americanos, a CIA, durante os anos oitenta do século passado.
A tese é defendida pelo historiador Norm Dixon num artigo dedicado a alguns aspectos da guerra dos mujahidines afegãos contra as tropas soviéticas no Afeganistão durante os anos oitenta.
Segundo o artigo, em 1986, o chefe da Central Intelligence Agency (CIA), William Casey, autorizou uma proposta de recrutamento mundial de fundamentalistas islâmicos para se juntarem à “Jihad” (Guerra Santa) no Afeganistão contra as tropas da União Soviética que tinham invadido o país em 1979.
Cerca de 100 mil militantes islâmicos deslocaram-se então para o Paquistão até ao ano de 1992. Cerca de 40 mil foram mobilizados para os combates e os restantes 60 mil frequentaram escolas corânicas para reforçarem as suas convicções e os seus conhecimentos religiosos.
Alguns dos operacionais foram recrutados pelo Centro de Refugiados de Kifah em Brooklin (Nova Iorque) no âmbito da chamada “Operação Ciclone”, de acordo com o jornal “Independente” citado pelo autor do artigo. Os fundamentalistas islâmicos recrutados receberam dinheiro e equipamento distribuídos no Paquistão através da organização Maktab al Khidamar (MAK – Escritório de Serviços), um ramo dos serviços secretos paquistaneses (ISI). O ISI era o principal canal para onde eram encaminhados os apoios secretos da CIA e da Arábia Saudita aos chamados “contras” afegãos.
Ussama Bin Laden, membro de uma abastada família saudita bem relacionada com a família real, era um dos administradores do MAK. Em 1989 tornou-se o único gestor desse organismo.
As actividades de Bin Laden no Paquistão e Afeganistão realizavam-se com o conhecimento e o apoio do regime saudita e da CIA. Milt Bearden, chefe de antena da CIA no Paquistão de 1986 a 1989 admitiu em 2000 ao jornal “New Yorker” que embora nunca tenha encontrado Bin Laden pessoalmente conhecia as suas actividades à frente do MAK.
O artigo de Norm Dixon cita também um antigo soldado britânico que se juntou secretamente aos mujahidines, Tom Carew, segundo o qual militares norte-americanos treinaram os fundamentalistas islâmicos em actividades de terrorismo urbano, designadamente carros-bomba, para actuar contra as tropas soviéticas nas maiores cidades afegãs.
Em 1987-88, Bin Laden concentrou a gestão dos campos de treino e das operações dos mujahidines numa organização que designou Al Qaeda (A Rede), uma holding capitalista criada com apoio dos serviços secretos paquistaneses, norte-americanos e sauditas.
Os mercenários desta organização, directamente recrutados e pagos por Bin Laden, foram armados pela CIA. Os militares que os treinavam foram destacados pelo Paquistão, pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha.
O objectivo principal destas actividades no Afeganistão era combater e expulsar as tropas da União Soviética, que o presidente dos Estados Unidos, então Ronald Reagan, qualificara como “o império do mal”. “Movimentos de libertação erguem-se e afirmam-se por si próprios em todos os continentes povoados pelo homem”, declarou Reagan em 8 de Março de 1985. “Isso acontece nas colinas do Afeganistão, em Angola, no Cambodja, na América Central. (…) Eles são os combatentes da liberdade”.
Ussama Bin Laden chefiava os “combatentes da liberdade” actuando no Afeganistão, Depois da derrota soviética no Afeganistão e em virtude da guerra civil que deflagrou neste país entre os mujahidines, Bin Laden transferiu depois o seu apoio para os Talibã.
De acordo com Norm Dixon, Bin Laden apenas passou a ser considerado “terrorista” pelos Estados Unidos quando se pronunciou contra a presença de 540 mil soldados norte-americanos na Arábia Saudita a partir da Guerra do Golfo em 1990-91.
No entanto, existe controvérsia quanto ao momento em que aconteceu esta viragem. Segundo o jornal francês “Le Fígaro”, Bin Laden teria sido visitado pelo chefe de antena da CIA num hospital do Dubai, onde estava em tratamento, emJulho de 2001, a dois meses do atentado de 11 de Setembro contra as torres gémeas de Nova Iorque.
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