Sérgio Vaz
Na semana passada fui participar de um sarau com os alunos da escola Capuava, que fica em Embu das Artes, na divisa com Cotia. Além de mim também foram convidados o Gaspar (Záfrica Brasil), Zinho Trindade e o Baltazar (Preto Soul). Os Alunos da 5ª e 6ª série também prepararam uma apresentação para o dia, sob a supervisão de alguns professores, inclusive do Wagner, meu amigo.
A Manhã de poesia já estava servida como merenda no pátio da escola e, para minha surpresa, a molecada repetia várias vezes. Até aí, além do presente da vida, nada demais. Um poema solo aqui, um poema em grupo ali, uma música à capela, e o frescor da infância se esfregando nos meus olhos.
Em um determinado momento a professora chama um garoto, para se apresentar. Tímido, como poucos, recitava sua poesia com bastante nervosismo, o suficiente para que alguns dos alunos começassem a rir da sua declamação. Sei que não riam por maldade, crianças apenas riem.
De súbito senti minha alma desprender do corpo, numa rápida viagem astral para o passado. Vi-me ali no seu lugar, com 12 anos, sendo punido pela timidez por apenas estar vivo na hora errada. “A Timidez é uma lei muito severa a ser cumprida...”.
De volta ao futuro, ainda consegui vê-lo em sua batalha contra o mundo. Como eu já disse, enquanto alguns riam ele recitava, como quem expulsava o silêncio do corpo. Parecia que lhe faltava o ar, as palavras lhe traiam, as vírgulas abriram fuga, os olhos caminhavam devagar demais para tanta pressa de sair de cena, as mãos tremiam. Nós poetas torcíamos por ele, os educadores gritavam pelos olhos por ele. De repente o vento parou de soprar para que o barulho não o atrapalhasse. Os Pássaros debruçados nas árvores o acompanhavam em si bemol. Uma nuvem calou a camada de ozônio para que ele pudesse respirar melhor. Assim como um milagre, que só as crianças sabem o segredo, pude vê-lo refletido nos olhos úmidos das pessoas e o riso, como se recebesse uma ordem do universo, partiu para uma outra dimensão. O mundo inteiro parou para ouvir o mais lindo poema da vida, a coragem.
Ao terminar, ele riu, agradeceu os aplausos e saiu como um nobre cavaleiro que acaba de derrotar um dragão sem nenhuma gota de sangue pelo corpo.
Eu ali como um fraco, voltando ao passado, tendo pena dele, e ele ali, como um príncipe guerreiro enfrentando o futuro, e de canja, deixando a lição pra gente fazer em casa: “Só os fortes sobrevivem”.
Quando eu crescer quero ser como ele, gente.
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